Jorge Nuno Pinto da Costa morreu este sábado, aos 87 anos. Recordamos aqui histórias da vida do ex-presidente do FC Porto, muitas pelas suas próprias palavras
Paixão de Jesualdo pelo FC Porto
A seguir a Co Adriaanse, chegou Jesualdo Ferreira para o FC Porto: «O Jesualdo tinha feito ótimo trabalho em Braga e o FC Porto precisava dele naquela altura, porque tinha muitos jogadores a crescer e ele era um treinador que valorizava os jogadores. Qualquer jogador, quando chegava às mãos do Jesualdo Ferreira, saía melhor do que quando entrara. Quando contratámos o Artur Jorge, em 1984, ele queria trazer o Jesualdo, mas não se chegou a concretizar, pois a equipa técnica já estava finalizada. Jesualdo não era portista, mas viveu apaixonadamente o FC Porto. Além disso, foi ele quem concluiu o segundo tetracampeonato do FC Porto e foi o primeiro treinador português a ganhar um tri.»
Junho de 2010
A águia negra de Istambul
Em Istambul, a 21 de outubro de 2010, antes do Besiktas-FC Porto (1-3) para a Liga Europa, houve troca de lembranças entre os dois clubes. Pinto da Costa recebeu, das mãos do presidente do clube turco, uma águia preta, símbolo da centenária agremiação de Istambul. PC sorriu e disse: «Obrigado, presidente, mas não era preciso ser uma águia…»
Outubro de 2010
«O jovenzinho que vinha com o Robson»
Muitos portistas estranharam a escolha de Pinto da Costa para ser treinador do FC Porto para 2010/2011: André Villas-Boas. «Era um risco? Risco há em tudo no futebol, porque futebol depende muito de lesões, castigos, bolas que batem na trave e vão para dentro ou batem na trave e vão para fora. Nunca me preocupei se o treinador tinha passado ou não. O que me interessava era encontrar um treinador com capacidade para, um dia, vir a ter um grande passado. Se assim não fosse, ficavam sempre os mesmos, não era dada oportunidade a outros. Que passado tinha o Artur Jorge quando foi campeão europeu? E o Mourinho que passado tinha quando veio para o FC Porto? Não tinham passado algum ou praticamente algum. O que é necessário é descobrir talentos. Além disso, eu conhecia o André quase desde criança, de jovenzinho que vinha com o Robson e já o Robson me dizia: ‘Este rapaz vai longe, é muito inteligente e sabe muito futebol, tem uma conceção muito boa do futebol’. Depois, quando chegou a oportunidade, não podia estar à espera, porque, se espero, posso não o contratar.»
Dezembro de 2010
Preferia o Benfica
Apurado para a final da Liga Europa, após o jogo em Villarreal (derrota por 2-3) e já sabedor de que o outro finalista da Liga Europa, era o SC Braga, o presidente do FC Porto voltou a ironizar: «Sinceramente, preferia apanhar o Benfica em Dublin, pois seria mais fácil para nós. É isto, pelo menos, o que dizem os nossos resultados desta época com o Benfica». E era verdade: 2-0 na Supertaça Cândido de Oliveira; 5-0 no Dragão e 2-1 na Luz para a Liga; 0-2 em casa e 3-1 na taça.
Abril de 2011
Depois da Taça UEFA, a Liga Europa
Se as finais são para se ganhar, o FC Porto não facilitou na da Liga Europa 2010/2011. Talvez não tenha tido o fulgor de outros jogos europeus da época, não foi um passeio triunfal em Dublin, mas, através de um cruzamento perfeitíssimo de Guarín e de nova cabeçada espantosa de Falcao, a equipa de André Villas Boas arrecadou mais uma prova europeia.
O FC Porto começou devagar, não se percebendo muito bem se esse ritmo era desejado ou imposto pelo SC Braga. Foi, claramente, uma final diferente da de Sevilha, oito anos antes. Em Espanha tudo fora eletrizante; na Irlanda tudo foi tático, pensado. Não foi a melhor versão azul-e-branca, não senhor, sendo seguro, no entanto, que o FC Porto foi a melhor equipa da final e também, de forma clara, a melhor equipa da edição da Liga Europa.
Guarín enganou toda a gente ao minuto 44: acelerou, travou, cruzou; na área, lá em cima, apareceu o voo de Falcao a colocar a bola no fundo das redes de Artur: golo 17 do colombiano. Hulk, após entrada duríssima de Sílvio, não foi o Hulk do costume. Depois do golo, o FC Porto controlou sempre, embora sem brilho. O SC Braga libertou-se um pouco mais, tentou ser mais ousado e entrar no jogo. Excluindo um lance em que Mossoró, sozinho frente a Helton, poderia ter marcado, pouco mais história houve para contar.
Maio de 2011
Dedicatória de Villas-Boas
Após o triunfo na Liga Europa de 2010/2011, o então treinador, André Villas-Boas, dedicou a conquista a quatro homens: «Sinto-me apenas um pouco triste, porque a exibição das equipas poderia ter sido melhor. Ambas sentiram muito o jogo, mas também não é nada de novo numa final. O SC Braga esteve sempre muito agressivo, com o bloco muito compacto, tornando muito difícil o nosso trabalho. Mas é grande a alegria pela conquista do troféu. A quem dedico esta vitória? A quatro homens: o presidente Pinto da Costa e ainda Pep Guardiola, José Mourinho e Bobby Robson».
Maio de 2011
«Sou apenas um adepto do FC Porto»
Desde o início do Século XXI, quando Pinto da Costa já cumprira duas décadas de liderança, que se falava na sucessão. O então presidente respondia assim: «O FC Porto não é uma monarquia, cuja liderança passa deste para aquele. O FC Porto tem muita gente capaz de poder ser presidente no futuro, seja daqui a um mês, daqui a seis, daqui a um ano ou daqui a três ou quatro. Mas se eu indicar o A vão perguntar por que não o B e se eu indicar o B vão perguntar por que não o A. Fosse quem fosse que indicasse, eu estava tramado. Indicar alguém era passar um atestado de menoridade aos associados do FC Porto. Mas sei que, dentro da estrutura do FC Porto, há pessoas capazes de poder assumir a presidência. As únicas pessoas que eu não gostava que fossem os meus sucessores são os meus filhos, porque não quero que algum deles passe, por causa do FC Porto, muitas coisas por que eu passei. Além disso, o FC Porto não é meu, sou apenas um adepto do FC Porto.»
Abril de 2012
Fonte: A Bola