1937-2025 Pinto da Costa: «O FC Porto, para ser campeão, tem de jogar duas vezes mais que as equipas de Lisboa»

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Jorge Nuno Pinto da Costa morreu este sábado, aos 87 anos. Recordamos aqui histórias da vida do ex-presidente do FC Porto, muitas pelas suas próprias palavras

O regresso de PC e JMP

Pinto da Costa e José Maria Pedroto regressaram dois anos depois, em 1982, o primeiro como presidente do clube, o segundo como treinador. Só em 1983/84, porém, o FC Porto regressou aos títulos (4-1 ao Rio Ave na final da Taça de Portugal), tendo ainda garantido a sua primeira final europeia, perdendo (1-2) com a Juventus, no jogo decisivo da Taça das Taças, conquistas já sem a presença de José Maria Pedroto (adoecera no Outono de 1982, manteve-se como treinador, embora a espaços, vindo a falecer em Janeiro de 1985). António Morais, dileto adjunto de Pedroto, finalizou ambas as temporadas, mas para 1984/85 o treinador escolhido por Pinto da Costa foi outro antigo adjunto (no V. Guimarães) de Pedroto: Artur Jorge. Que venceria a Taça dos Campeões Europeus de 1986/1987.

Abril de 1982

O regresso de Gomes

Pinto da Costa, em maio de 1982, fez um pequeno balanço da sua presidência e anunciou o regresso de um craque: «Apraz-me registar que, após um mês de mandato, muitas têm sido as pessoas que se diziam duvidosas do que eu afirmava e que, agora, têm vindo ter comigo, porque deixaram de ter dúvidas. Pessoas que se oferecem para se colocarem ao lado da direção, no sentido de tornar mais breve essa união total da família portista. Apesar de eu nunca ter prometido tal, só faltam alguns aspetos burocráticos a vencer para que o regresso de Gomes seja uma realidade.»

Maio de 1982

Frasco e o vento

Antes do Rangers-FC Porto (2-1) da Taça dos Vencedores de Taças de 1983/1984, o vento no relvado do Estádio de Ibrox de Glasgow (Escócia) era fortíssimo, a guia da agência de viagens contava mais uma história sobre Glasgow e Pinto da Costa, ao lado dos jornalistas, mantinha-se absorto, até inquieto. Um repórter abeirou-se do presidente e perguntou-lhe se estava concentrado na história contada pela guia. Pinto da Costa deixou-o a rir: «Qual história? Estou a pensar é que, se este vento se mantém, o Frasco ainda vai parar à bancada durante o jogo».

Novembro de 1983

O atraso de Pinto da Costa e o pneumotórax do filho Alexandre

O presidente do FC Porto chegou atrasado ao Aberdeen-FC Porto da meia-final da Taça da Taças, a 25 de abril de 1984, porque o seu filho Alexandre sofrera terceiro pneumotórax seguido. Pinto da Costa, mesmo triste e cansado, conseguiu ironizar: «Estava a contar com o 0-0 para passarmos à final mas o Vermelhinho fez-me aquela desfeita de marcar o golo…»

Abril de 1984

A contratação de Artur Jorge

Antes de contratar Artur Jorge, Pinto da Costa convidou-o para almoçar num restaurante chinês, perto do Hotel Altis, em Lisboa. «Ele nem sonhava que o ia convidar para treinador e abriu-se sobre as ideias que tinha», revelaria PC. «Quando chegou ao fim do jantar, disse-lhe: ‘Olhe, a conversa foi muito agradável, mas a razão do almoço é que quero que você seja o treinador do FC Porto. Espantou-se, mas aceitou e entrou bem na máquina do FC Porto. Conquistou o respeito dos jogadores, não só pelos conhecimentos que tinha, como também pela forma inteligente como lidava com as situações e com as pessoas», explicou. E deu um exemplo: «A forma como lidou com a eliminação frente ao Wrexham foi brilhante. Perdemos lá por 1-0 e nas Antas estivemos a ganhar por 3-0 e ganhámos por 4-3, sofrendo o terceiro golo já nos descontos, resultado que nos eliminou. Mas houve dois factos anormais nesse dia. Um foi o nosso guarda-redes, o Borota, que teve uma noite completamente infeliz. Depois, os guarda-redes batiam a bola e, quando estavam contra o vento, ela voltava para trás. Era um tempo impróprio para se jogar futebol, mas o árbitro entendeu levar o jogo até ao final e acabámos por sofrer o golo que nos eliminou. No dia seguinte, eu e o Artur Jorge estivemos reunidos e delineámos a estratégia para o jogo seguinte, em Coimbra, frente à Académica. Mobilizámos os adeptos, ganhámos por 3-0 e não demos hipótese nenhuma à Académica».

Abril de 1984

Somos Dragões!

Após a final perdida da Taça das Taças de 1984, Pinto da Costa, na viagem de regresso, tomou decisão que, apesar de algo polémica na altura, viria a revelar-se fantástica para a filosofia expansionista do FC Porto: «Se chamam águias aos benfiquistas e leões aos sportinguistas, terão de nos chamar, a partir de agora, dragões. Até temos um dragão, com ar ameaçador, no canto superior do emblema do clube…»

Maio de 1984

As razões psicológicas de Futre

Pinto da Costa vira um jogo de juniores entre FC Porto e Sporting em meados de 1983 e ficou fascinado com um jogador: «A meio de um encontro no Estádio das Antas, Futre entrou a meio da segunda parte. Passados cinco minutos, perguntei-me: ‘Então, mas ele não jogou de início porquê?’. Disseram-me que era indisciplinado e que até estava para ser emprestado. Então, quando o Sporting veio buscar o Jaime Pacheco e o Sousa ao FC Porto, havia uma lei muito interessante que possibilitava a um jogador com contrato invocar razões psicológicas para sair. Escolhemos o Futre para retaliar o Sporting e ele integrou-se completamente no Porto e no FC Porto. Passados 3 meses era já um ídolo e foi importantíssimo até à final da Taça dos Campeões de 1987».

Julho de 1984

Jantar que foi grande sacrifício

Após a eliminação com o Wrexham em 1984, houve um facto que Pinto da Costa disse nunca ter esquecido: «Quando jogámos no País de Gales, o presidente do Wrexham ofereceu-nos um jantar após o jogo. E no Porto retribuí com um jantar igualmente após o jogo. Acontece que fomos eliminados, mas, obviamente, tive de ir ao jantar. Foi um dos maiores sacrifícios da minha vida, porque a equipa deles esteve toda presente e, como tinham ganho, a maioria dos jogadores estava bem comida e muito bem bebida. Aquelas duas ou três horas foram um dos maiores sacrifícios da minha vida».

Outubro de 1984

«Não marques, Futre, não marques»

O primeiro título de Pinto da Costa enquanto presidente, em 1985, foi conquistado em casa com o Belenenses. PC revelou pormenores: «Estávamos a ganhar por 5-1 e, como o Sporting perdera na véspera com o Rio Ave, podíamos ser campeões logo nesse jogo. De modo que, sem estar nada programado, o Estádio das Antas esgotou. Quando fizemos o quinto golo, as pessoas que estavam perto da vedação, invadiram o relvado para tirar as roupas aos jogadores, até aos do Belenenses. O jogo foi reatado pelo árbitro, o senhor Carlos Valente, e lembro-me do Futre a correr junto ao nosso banco e eu a dizer-lhe ‘Anda para trás, anda para trás, não marques’. Porque, se houvesse mais um golo, havia nova invasão e o jogo não acabava.»

Maio de 1985

Jogar o dobro, ganhar o mesmo

Pinto da Costa, em declarações proferidas ao jornal Mundo Deportivo, comparou FC Porto e Barcelona: «Têm muito em comum, são de cidades submetidas durante muito tempo às respectivas capitais. Daí que os nossos sentimentos sejam iguais também no campo desportivo. Por causa do afã centralista de Lisboa, o FC Porto, para ser campeão nacional, tem de jogar duas vezes mais que as equipas de Lisboa».

Outubro de 1985

A bancada das Antas que ruiu

O rebaixamento do Estádio das Antas, para ter mais 20 mil lugares, teve um percalço engraçado, segundo Pinto da Costa: «A meio da noite, por volta das seis da manhã, tocou o telefone e o engenheiro Pimentel disse-me: ‘Ruiu parte do Estádio das Antas’. Falei com o Óscar Cruz, que era o diretor das Obras, e fomos para as Antas. Quando cheguei ao estádio, estava lá uma grande confusão, mas era apenas um buraco entre a bancada velha e a que estava ser construída».

Dezembro de 1986

Todos queriam o FC Porto

Na meia-final da Taça dos Campeões de 1987, o FC Porto jogou com o Dínamo de Kiev, considerada na altura a melhor equipa da Europa. PC conta detalhe delicioso: «Quando fui ao sorteio, era FC Porto, Dínamo de Kiev, Real Madrid e Bayern. Ninguém queria o Dínamo de Kiev e todos queriam o FC Porto. O Real Madrid queria o FC Porto, o Bayern queria o FC Porto e o Dínamo Kiev queria o FC Porto. E ninguém queria o Dínamo de Kiev. No final do sorteio, disse ao meu amigo do Real Madrid que falaríamos na final, mas não sabia era se eles lá iam estar. Fizemos nas Antas uma exibição extraordinária e ganhámos por 2-1, resultado altamente enganador. Depois, em Kiev, os adeptos do Dínamo estavam completamente eufóricos e convencidos de que iam ganhar. Ao quarto de hora, porém, já estávamos a ganhar 2-0, golos do Celso e do Gomes, com o Josef [Mlynarczyk] em grande plano. Não só passámos, como ganhámos por 2-1.»

Março de 1987

A foto do golo de Celso

«No jogo de Kiev, com o Dínamo, há um pormenor que não esquecerei», revelou Pinto da Costa. «O meu filho Alexandre gostava muito de fotografia e na altura ia aos jogos. Eu arranjava-lhe uma credencial da revista Dragões e, como ele gostava e tinha muito jeito, eu pagava a ida dele. Quando fomos a Kiev, todos os fotógrafos, incluindo os portugueses, foram para a baliza do Josef [Mlynarczyk]. O único que foi para trás da baliza do Dínamo foi o meu filho. E foi ele o único a fotografar o golo do Celso. Depois alguns jornalistas portugueses queriam que ele lhes desse ou vendesse a fotografia. E eu obviamente não deixei, porque se ele estava pela revista Dragões, era ela que ia publicar a fotografia. E fomos os únicos a publicar a foto do golo do Celso», explicou.

Abril de 1987

Fonte: A Bola

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