Por: Alda Almeida
Assinalamos 50 anos de independência nacional, meio século marcado por lutas, reconstruções e esperança. Nesse mesmo compasso histórico, a Revista Tempo celebra seus 55 anos de existência, cinco a mais que a própria independência, como um prenúncio, desde cedo, de novos tempos.
Em 1970, a Revista Tempo irrompeu como um sopro de renovação em plena tempestade. Muito mais que um periódico, tornou-se uma voz destemida, pronta a interpelar, questionar e despertar consciências.
Com linha editorial clara, rigorosa na informação e astuta na resistência, a Tempo, nos anos que antecederam 1975, firmou-se como um canal de contestação sútil, porém incisivo, abordando temas culturais, sociais e políticos com a profundidade necessária para abrir os olhos do nosso povo.
Em 25 de Junho de 1975, com a proclamação da independência, a Revista Tempo recusou-se ao papel de mera espectadora e tomou lugar activo nesse novo capítulo da história nacional. Foi ela quem registou os primeiros passos da liberdade, acompanhou de perto a consolidação do Estado moçambicano e revelou os rostos dos heróis e heroínas da pátria. Nas suas páginas, ganharam forma os contornos de uma identidade nacional em construção.
Durante as décadas de 1980 e 1990 em plena alternância entre guerra e paz, a Tempo manteve-se inabalável. Navegou pelas marés da história, reinventando-se e modernizando-se, mas nunca abriu mão da sua missão maior, ser o espelho e a voz crítica da sociedade moçambicana.
Num contexto em que a informação era escassa e frequentemente controlada, a Revista Tempo impôs-se como um dos principais canais de comunicação. Ao lado de poucos outros veículos, formou o tripé que sustentava a narrativa nacional, estimulava o debate público e ampliava o acesso ao conhecimento.
Havia, na Tempo, um traço singular, a fusão entre jornalismo e a arte de comunicar, traduzida numa estética apurada, em fotografias inesquecíveis e em crónicas de sensibilidade rara. A revista não se limitava a transmitir fatos, ela despertava emoções. Era jornalismo com alma.
Ao comemorarmos este ano os 55 anos da Tempo, celebramos muito mais do que um percurso editorial, honramos um verdadeiro património da memória nacional. A Tempo foi e continua a ser bem mais que páginas impressas é uma instituição cultural que testemunhou, registou e iluminou os momentos decisivos da nossa história. Em suas folhas ganharam vida os gestos da independência, as dores da guerra, os anseios de paz e os rostos de um povo em permanente reinvenção. Por elas passaram grandes jornalistas, escritores, fotógrafos e intelectuais moçambicanos, vozes que moldaram o pensamento crítico e deram forma ao nosso imaginário colectivo.
Em tempos em que as palavras correm velozes, digitais e efémeras, revisitar a Tempo é reencontrar o poder transformador da mensagem impressa ponderada, debatida e vivida. Muito antes das redes sociais, a revista já nos conectava pela esperança, pela denúncia e pela construção activa de um país mais justo. Nunca foi mera espectadora, foi consciência e bússola.
Ao celebrar 55 anos, afirmamos com orgulho que a Tempo teve um papel decisivo, resistiu, relatou e, acima de tudo, permaneceu. Sempre ao nosso lado, discreta mas vigilante, reinventou-se para continuar fiel à sua missão.
Hoje, mais do que nunca, a Tempo reafirma sua presença, informar com rigor, questionar com coragem e inspirar com verdade. No marco dos 50 anos da independência, sua trajetória não é só passado, mas também presente e futuro.
Que a voz da Revista Tempo siga servindo de farol na edificação de uma nação informada, participativa, justa e genuinamente democrática.