Sector marítimo africano encontra-se numa encruzilhada entre desafios significativos e oportunidades únicas

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A indústria marítima global enfrenta desafios significativos devido às crescentes tensões geopolíticas, às crises climáticas e às vulnerabilidades das principais rotas comerciais. Contudo, no continente africano, esses mesmos desafios têm aberto oportunidades para avanços estratégicos, aumentando a resiliência económica e impulsionando o comércio sustentável.

Impacto das rotas marítimas e crises logísticas no comércio africano

Desde Novembro de 2023, ataques a navios no Mar Vermelho forçaram o desvio de rotas pelo Cabo da Boa Esperança, gerando congestionamento nos portos sul-africanos. Este fenómeno destacou o papel de países estrategicamente localizados, como Madagáscar, Maurícias e Tanzânia, como alternativas para rotas entre Ásia e Europa. Contudo, o desvio resultou em custos adicionais de transporte estimados em 15% a mais por tonelada, aumento das emissões de carbono em até 10%, e maiores tempos de entrega de aproximadamente 7 a 10 dias em rotas desviadas pelo Cabo da Boa Esperança. 

As cadeias de abastecimento cruciais, particularmente de produtos agrícolas como chá, café e abacate, foram significativamente impactadas. A falta de contentores e os atrasos na entrega prejudicaram a subsistência de milhões de agricultores no leste da África. Este cenário foi agravado pela priorização de mercados mais lucrativos, como Europa e Estados Unidos, replicando os padrões observados durante a pandemia de COVID-19 e expondo novamente as fragilidades logísticas do continente. 

 

Além disso, países como Djibouti e Sudão, que dependem fortemente do Canal do Suez (31% e 34% do volume comercial, respetivamente), enfrentaram uma crise de bens perecíveis e redução na disponibilidade de contentores vazios, evidenciando a necessidade de diversificação de rotas e maior resiliência logística.

Desempenho portuário e crescimento em África

Entre 2018 e 2023, as chamadas portuárias de navios porta-contentores aumentaram 20%, passando de 200 mil para 240 mil chamadas, enquanto as de petroleiros cresceram 38%, totalizando 180 mil chamadas em 2023 comparadas às 130 mil registadas em 2018. Estes números representam um marco para a infraestrutura portuária africana e refletem avanços em tecnologia, eficiência e conectividade logística. 

A Libéria consolidou sua posição como o maior registo mundial de navios em termos de tonelagem de porte bruto, com 200 milhões de toneladas, superando o Panamá, que registou 180 milhões de toneladas em 2023. Em 2023, a Libéria detinha 17,3% da frota global, em comparação com os 16,1% do Panamá. Outros países africanos, como Camarões (27.º lugar) e Nigéria (33.º lugar), registaram um aumento notável na tonelagem registada, destacando-se como novos protagonistas na indústria marítima.

Transição Energética: Uma alavanca para a sustentabilidade

O continente africano está a posicionar-se estrategicamente na transição para energias renováveis. Nações como Mauritânia e Marrocos emergem como líderes na produção de hidrogénio verde, enquanto outros países, como Egipto, África do Sul e Tanzânia, investem na adaptação de portos para suportar cadeias logísticas associadas a combustíveis alternativos.

Além disso, a introdução de tecnologias de baixo carbono nos portos africanos não apenas reduz a pegada ambiental, mas também aumenta a competitividade global do continente. Projetos como o African Hydrogen Partnership destacam o potencial de África para liderar em iniciativas de descarbonização e sustentabilidade energética.

Facilitação do comércio e conectividade regional

África tem feito progressos significativos na facilitação do comércio através de reformas como o Território Aduaneiro Único da Comunidade da África Oriental e postos fronteiriços únicos. Essas iniciativas têm reduzido tempos de trânsito e custos, promovendo cadeias de valor mais eficientes e conectando economias interiores a mercados globais. 

Os corredores de transporte também desempenham um papel vital ao interligar portos e regiões interiores, fomentando um comércio transfronteiriço mais fluido e sustentável. A expansão de zonas económicas especiais e a implementação de hubs logísticos são evidências do compromisso regional em integrar o continente no comércio global.

Construção de resiliência em infraestruturas

Países africanos têm investido em infraestrutura resiliente para mitigar os impactos das mudanças climáticas e das tensões geopolíticas. Maurícia, por exemplo, destacou-se com iniciativas de fortalecimento da segurança marítima, compartilhamento de informações e treinamento regional para combater a pirataria. 

Reformas portuárias, como as conduzidas em Durban e Mombaça, visam melhorar a conectividade e a sustentabilidade, reduzindo custos logísticos e aumentando a eficiência operacional. O uso de tecnologias emergentes, como sistemas de monitorização em tempo real e inteligência artificial, está a transformar a gestão portuária e a atrair novos investimentos.

É caso para afirmar, que o sector marítimo africano encontra-se numa encruzilhada entre desafios significativos e oportunidades únicas

A combinação de avanços em infraestruturas, transição energética e políticas de facilitação do comércio posiciona a África como um ator central no comércio global. No entanto, para sustentar este progresso, será essencial priorizar investimentos em resiliência, fortalecer a cooperação internacional e adoptar inovações tecnológicas. 

Com uma abordagem estratégica e coordenada, o setor marítimo africano pode não apenas superar os desafios atuais, mas também transformar-se numa alavanca de crescimento económico, garantindo desenvolvimento sustentável e integração global a longo prazo.

Fonte: O Económico

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