O dólar norte-americano prolongou a sua trajectória descendente pela quinta sessão consecutiva, atingindo novos mínimos de 2025. O movimento reflecte a perda de confiança dos mercados face à política comercial dos Estados Unidos, marcada por hesitações e escaladas, e reacendeu os receios sobre o impacto económico da guerra tarifária com a China.
O Bloomberg Dollar Spot Index recuou até 0,4% na última sessão, acumulando uma queda de 2,4% na semana anterior, o que levou o índice ao seu ponto mais baixo do ano — níveis não vistos desde Outubro. O enfraquecimento da moeda norte-americana deve-se, em grande medida, à incerteza gerada pela política tarifária errática da administração Trump e ao receio de danos mais profundos à economia dos EUA.
No fim-de-semana, a Casa Branca anunciou uma pausa temporária nas tarifas sobre produtos tecnológicos populares — como telemóveis, computadores portáteis e chips de memória —, o que chegou a ser interpretado pelos mercados como um sinal de flexibilidade. Contudo, esse alívio revelou-se efémero. O próprio Presidente Trump rapidamente voltou ao ataque, declarando nas redes sociais que “ninguém está livre da responsabilidade”, referindo-se ao sector tecnológico, e anunciando novas tarifas específicas sobre microchips, alegando razões de segurança nacional.
A incerteza trava a recuperação da moeda
Para analistas como Dane Cekov, estratega de divisas no Sparebank 1 Markets AS, a expectativa é de que o dólar continue a enfraquecer nos próximos meses, “a menos que se chegue rapidamente a um acordo de paz comercial duradouro que evite danos estruturais à economia norte-americana”. Cekov sublinha que os efeitos das tarifas começam a manifestar-se nos indicadores concretos — consumo, inflação e emprego — e poderão prolongar a fraqueza do dólar.
Paralelamente, um inquérito da Bloomberg mostra que muitos investidores continuam a reduzir a exposição a activos denominados em dólares, mesmo após o recuo parcial nas tarifas. A volatilidade cambial permanece nos níveis mais altos dos últimos dois anos, e os dados da Commodity Futures Trading Commission indicam um aumento nas posições especulativas contra o dólar desde Outubro.
O papel limitado da Reserva Federal
As autoridades monetárias norte-americanas adoptam um tom cauteloso. Neel Kashkari, presidente da Reserva Federal de Minneapolis, demonstrou confiança na estabilidade dos mercados, mas foi claro ao afirmar que a Fed não intervirá para sustentar os mercados face à volatilidade provocada por decisões políticas externas. Em contraste, o seu homólogo de Boston sugeriu recentemente que essa hipótese poderia ser considerada.
A incerteza levou também o JPMorgan Chase a alertar os clientes para uma dinâmica lateral de curto prazo nos activos de risco, advertindo que qualquer recuperação técnica será provavelmente de curta duração se não for acompanhada de clareza nas negociações e de uma posição mais activa da Fed.
Perspectivas para os mercados cambiais
Com os mercados à procura de sinais de estabilização e com a retórica presidencial a evoluir ao sabor do momento político, a trajectória do dólar permanece vulnerável. Para já, a moeda norte-americana segue pressionada por uma combinação de incerteza política, falta de previsibilidade regulatória e nervosismo económico generalizado.
Enquanto não houver um acordo firme entre os Estados Unidos e a China, e enquanto prevalecer a volatilidade das decisões tarifárias, os analistas prevêem que o dólar continuará a enfrentar resistência em recuperar o seu valor.
Fonte: O Económico