Dólar Enfraquece e Títulos do Tesouro dos EUA Sobem com Aumento da Ansiedade Fiscal Global

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O dólar norte-americano registou a sua primeira queda semanal em cinco semanas, enquanto os mercados obrigacionistas globais mantiveram a atenção centrada nos títulos do Tesouro dos EUA. O pano de fundo: o agravamento das preocupações com a sustentabilidade da dívida pública americana e o impacto das novas políticas fiscais do Presidente Donald Trump, que voltam a colocar pressão sobre o financiamento do défice e os custos de endividamento.

Investidores Redireccionam o Foco: das Tarifas para o Défice

A tensão nos mercados mudou do campo tarifário para a ansiedade fiscal, à medida que os investidores reavaliam os riscos associados à trajectória da dívida dos EUA, que já ultrapassa os 36 biliões de dólares. A aprovação, pela Câmara dos Representantes, de um novo pacote legislativo que combina cortes de impostos e aumento da despesa militar e de segurança fronteiriça elevou os receios de que o défice orçamental se deteriore ainda mais.

Os rendimentos das obrigações do Tesouro a 30 anos mantêm-se acima dos 5%, mesmo após um ligeiro recuo, atingindo recentemente um máximo de 19 meses. As movimentações nesta faixa da curva são especialmente relevantes, pois influenciam os custos de financiamento global e a avaliação de activos em todos os mercados.

“A principal preocupação dos investidores é como estes diferentes mercados vão reagir em cadeia à instabilidade nos títulos de longo prazo”, afirmou Iain Barnes, CIO da Netwealth.

Repercussões Globais: Japão, Zona Euro e Mercado de Câmbio

As consequências não se limitaram aos EUA. No Japão, os rendimentos das obrigações a 30 anos atingiram máximos históricos esta semana, antes de recuarem ligeiramente para 3,10%, devido ao contágio das movimentações americanas e a dados domésticos de inflação que apontam para uma aceleração de 3,5% — a mais alta em mais de dois anos.

Na zona euro, os Bunds alemães também reflectiram este stress, acumulando uma quinta semana consecutiva de subida nos rendimentos, mesmo com a expectativa de cortes de taxas por parte do BCE até ao final de 2025.

Dólar em Queda e Aversão ao Risco

O índice do dólar, que mede a performance da moeda americana contra um cabaz de divisas principais (incluindo euro e iene), caiu 1,3% na semana, marcando a sua primeira descida semanal desde Abril. O euro valorizou-se 0,5%, para 1,1335 dólares, impulsionado pela saída de capitais dos activos denominados em USD.

Apesar da valorização da moeda europeia, os mercados accionistas mostraram resiliência. O índice Stoxx 600 da Europa subiu 0,3% e o DAX alemão 0,4%, enquanto o Nikkei japonês e o índice MSCI Ásia-Pacífico (excluindo Japão) também fecharam em alta.

“Há uma tentativa de reposicionamento defensivo, mas sem pânico. O mercado está a ajustar-se à nova realidade fiscal dos EUA”, observou Ken Crompton, do NAB.

Ouro e Bitcoin em Alta, Petróleo em Queda

A busca por activos de refúgio também impulsionou os preços do ouro, que subiram 1% para 3.321 dólares por onça, enquanto o Bitcoin manteve ganhos semanais de 6,4%, mesmo após recuar do pico recorde.

Em contraste, os preços do petróleo registaram a quarta sessão consecutiva de perdas, com o Brent a cair para 63,89 USD/barril e o WTI a 60,65 USD, pressionados pela expectativa de novo aumento da produção da OPEP+ em Julho.

A pressão sobre o dólar e a reacção nos mercados obrigacionistas sublinham que os investidores estão a reavaliar, com crescente inquietação, o preço político e económico da trajectória fiscal dos Estados Unidos. A volatilidade nos títulos do Tesouro está agora no centro do mapa de risco global — e poderá tornar-se o novo catalisador das grandes movimentações de capital nos próximos meses.

Fonte: O Económico

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