Aníbal Manave considera que Moçambique deve investir mais e apostar na formação de treinadores para regressar à BAL

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Caiu o pano da quinta edição da Basketball África League, ou seja, da Liga Africana de Basquetebol, prova profissional da bola-ao-cesto masculina, organizada pela NBA- a Liga Profissional de Basquetebol Norte-americana, e pela FIBA-África. A equipa do Al Ahly Tripoli da Líbia sagrou-se vencedora da prova ao derrotar na final o anterior campeão, o Petro Atlético de Luanda por 88-67. O Presidente da FIBA-África, o moçambicano Aníbal Manave, fez um balanço positivo da quinta edição da prova que foi competitiva quando comparado com os anos anteriores, tendo considerando ainda que só com um forte investimento e com treinadores qualificados é que Moçambique poderá ter uma equipa a marcar presença na fase final da prova. 

 

Por Alfredo Júnior em Pretória      

 

Falando em exclusivo ao LanceMZ, Manave a competitividade desta edição da BAL foi evidenciada desde a fase da disputa do acesso e na fase de conferência que esteve dividida em três, culminando com uma disputadíssima fase final que teve lugar o SunBet Arena na cidade de Pretória, na África do Sul.

 

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“Acho que o que terá sido a melhor edição. Como tu sabes, nós jogamos em três conferências que foram muito competitivas, houve jogos que foram disputados até o fim. Os terceiros classificados só na última jornada, é que só souberam que iria apurar, para a fase final. Então, penso que foi a melhor edição e é natural que assim seja as equipas e as federações estão a apostar neste projecto, toda a gente está a perceber que este é um dos caminhos para o desenvolvimento do basquetebol africano. A BAL tem tido um impacto enorme no crescimento da modalidade, só para dar alguns exemplos, no último mundial todas as equipas africanas venceram um jogo e em termos globais, ficamos empatados. Nós estamos aqui com a América do Sul, ultrapassamos as equipas da Ásia e no Mundial de Clubes, temos estado a ficar entre o terceiro e o quarto lugar”, disse Aníbal.

 

BAL POTENCIA JOGADORES AFRICANOS

 

O Sudão do Sul foi a equipa que teve mais jogadores espalhados pelas equipas com cerca de 12 atletas, sendo este resultado da sua prestação positiva nos últimos Jogos Olímpicos Paris 2024. Apesar dos dados estatísticos apresentarem o resultado do impacto positivo da implementação da BAL algumas vozes críticas têm se levantado, particularmente no que diz respeito à contratação de jogadores para a composição das equipas, factos esclarecidos por Aníbal Manave.

 

“Penso que há um grande equívoco ou provavelmente, as pessoas não sabem como é que as equipas da BAL são constituídas e que obrigatoriamente cada uma das formações deve ter pelo menos 7 jogadores nacionais. O máximo de 2 jogadores estrangeiro fora de África e 3 africanos. Portanto, não estamos a dar espaço a jogadores estrangeiros. Estamos a dar espaço aos jogadores nacionais, o que é obrigatório ter esse número, e aos jogadores africanos. O que acontece é que há países que investem mais nas suas ligas nacionais, mais do que os outros. Até a quarta edição todos os campeões vêm de países cujos campeonatos têm qualidade e são jogados por 6 a 9 meses.  Não vêm de países que, podemos até dizer assim, fazem algumas operações cosméticas em que vão buscar os cinco estrangeiros que eles têm direito.  O que nós temos que fazer, não é falar à toa, temos que ver os dados para fazermos essa análise, por isso, acho que essa informação é um grande equívoco, e nós estamos concentrados, exatamente, em desenvolver o basquetebol profissional africano”, referiu Manave. 

 

Dado o interesse cada vez maior em participar da BAL, a FIBA-África projecta em parceria com a NBA introduzir uma segunda liga cujos vencedores terão acesso à primeira divisão da bola-ao-cesto continental.

 

“Um outro factor, é que nós achamos que, neste momento, devido à pressão que nós temos, que a BAL não é suficiente, nós estamos a precisar de uma espécie de uma segunda liga que qualifica para a BAL. E é isto que agora nós estamos a trabalhar, para ver se daqui a um ano ou dois, tenhamos uma segunda liga com um nível competitivo idêntico ao que tem a BAL, com prémios, com condições para as pessoas viajarem, com acomodação, etc. Então, o impacto BAL está lá, em termos desportivos está lá, em termos financeiros está lá, porque nós não aceitamos que nenhum jogador jogue com um salário inferior a 1200 dólares. Portanto, diga-me lá, qual é o jogador em Moçambique que ganha isso?”, disse o Presidente da FIBA-África.

 

MUDANÇA DE MODALIDADE PARA REGRESSAR A BAL

 

Moçambique através dos Ferroviários de Maputo e da Beira marcou presença nas três primeiras edições da prova, sendo que há dois anos que os campeões nacionais não conseguem o apuramento para a Liga Africana. Convidado a analisar este facto, Manave considerou pertinente apostar na formação dos treinadores moçambicanos e apostar num financiamento maior para que os clubes nacionais apareçam nas fases de apuramento com outra postura.

 

 “Não sei se um clube de Moçambique conseguirá a qualificação para a BAL, se continuarmos pelo caminho que hoje estamos, não se vai conseguir. Nós temos que perceber que todos os países estão interessados. Os países estão a investir.  Olha, esse senhor que está aí, é treinador do campeão sul-africano, chama-se Saml Vincent, foi campeão pela NBA e treinou a equipa sul-africana que esteve aqui, e hoje está a ajudar a equipa é desse nível de treinadores que nós estamos a falar. Eu não quero falar mal de ninguém, mas veja o nível dos nossos treinadores no campeonato nacional, quantos é que têm curso? Quantos é que só fazem clinics, quantos é que são apanhados por aí? Nós temos que olhar muito para nós e estruturar o nosso basquetebol. Nós precisamos de treinadores, nem que sejam moçambicanos, mas sempre queremos treinadores formados para poder dirigir as nossas equipas, se não nós não teremos hipóteses nenhumas de cá estar na BAL”, comentou o antigo Presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol.

 

Por outro lado, Manave apontou a necessidade de mudança de mentalidade dos jogadores moçambicanos para que possam merecer o convite para representar equipas de outros países, à semelhança do que acontece nos femininos.  

 

“A segunda questão que é importante, é que nós temos que vender a imagens dos nossos nossos atletas, porque os nossos jogadores têm que deixar de pensar que o mundo deles é do Rovuma ao Maputo, no basquete eles devem ser globais, como é possível os jogadores do Zimbabwe jogarem a BAL e de Moçambique não jogam, há qualquer coisa que está errada. E é por isso que nós temos que sentar, analisar e deixar de choramingar, que sobretudo deixar de virmos com essas narrativas de que não se deve dar espaço aos estrangeiros, etc que é uma narrativa de um moçambicano que não trabalha e que têm preguiça. Tenho que dizer as coisas tal como elas são, porque eu vejo isto com tristeza.  Reparem nos femininos, onde temos qualidade e as nossas jogadoras não são chamadas para reforçarem os campeonatos em Angola. Sei hoje, por exemplo, que há duas jogadoras moçambicanas que o Ruanda quer contratar para jogar a Liga dos Campeões Africanos em feminino porque elas têm qualidade e elas trabalham muito mais que os masculinos. Portanto, os masculinos têm que deixar de ser preguiçosos, nós temos que investir a sério no nosso basquetebol, senão continuaremos a perder o comboio”, comentou Manave.

 

Recordar que na última etapa de qualificação ao Basketball África League o campeão nacional, Costa do Sol, não conseguiu a qualificação tendo sido derrotado pelo Bravehearts do Malawi (71-73), Matero Magic da Zâmbia (78-71) e Fox Basketball Club do Sudão (71-66), na Divisão E da etapa Road to BAL. (LANCEMZ) 

 

 

 

Fonte: Lance

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