O dólar norte-americano manteve-se firme nas primeiras horas desta quarta-feira, sustentado por uma forte procura por segurança perante a escalada do conflito entre Israel e Irão, enquanto os investidores monitorizam com cautela a decisão de política monetária da Reserva Federal dos EUA (Fed), esperada para mais tarde no dia.
A recente ofensiva militar de Israel contra o Irão, com o objectivo declarado de interromper o seu programa nuclear e provocar uma mudança de regime em Teerão, tem mantido os mercados sob pressão, impulsionando o dólar como activo de refúgio. A presença militar dos Estados Unidos na região foi reforçada, alimentando especulações sobre uma eventual intervenção directa, o que elevaria ainda mais os riscos geopolíticos numa zona rica em recursos energéticos e estratégica para cadeias globais de abastecimento.
Desde a semana passada, o dólar valorizou-se cerca de 1% face ao iene japonês, ao franco suíço e ao euro, três moedas tradicionalmente associadas à segurança em tempos de turbulência. Este movimento permitiu à moeda norte-americana recuperar parte das perdas registadas no início do ano, quando a confiança na economia dos EUA estava abalada pelas políticas comerciais erráticas da administração Trump.
Rodrigo Catril, estratega cambial do National Australia Bank, reconheceu que embora a percepção estrutural do dólar como refúgio esteja a enfraquecer, a sua profundidade e liquidez continuam a dar-lhe vantagem em cenários de forte aversão ao risco:
“Em momentos de grande incerteza, o dólar ainda consegue captar apoio, embora talvez não com a intensidade de outros tempos.”
Na manhã asiática de quarta-feira, o dólar registava ganhos marginais de 0,1% face ao iene, atingindo os 145,21 ienes – o valor mais alto em uma semana. O franco suíço encontrava-se estável nos 0,816 por dólar e o euro valorizava-se ligeiramente 0,1%, para 1,149 dólares. O índice que mede o desempenho do dólar face a um cabaz de seis moedas principais permanecia praticamente inalterado, após um salto de 0,6% na sessão anterior.
A subida dos preços do petróleo – com o barril a rondar os 75 dólares – também contribuiu para a pressão sobre o euro e o iene, uma vez que tanto a União Europeia como o Japão são grandes importadores líquidos de crude, ao contrário dos EUA, que actualmente são exportadores líquidos.
<
p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>
Expectativas sobre a Fed e Política Monetária Global
Os mercados aguardam agora o posicionamento da Reserva Federal, que deverá manter as taxas de juro inalteradas, mas poderá oferecer sinais cruciais sobre o rumo da política monetária para o restante do ano. A tarefa da Fed é dificultada por sinais de abrandamento da economia norte-americana e pela pressão inflacionária adicional resultante do aumento dos preços da energia.
“A mensagem deverá continuar cautelosa, mas será interessante ver como os novos dados vão influenciar as previsões, provavelmente com uma trajectória de crescimento mais baixa e inflação mais persistente”, antecipa Catril.
Entretanto, o Banco do Japão foi o primeiro a anunciar a sua decisão nesta nova ronda global de encontros de política monetária, mantendo as taxas inalteradas e anunciando um abrandamento no ritmo da redução da compra de obrigações, para conter a recente instabilidade nos mercados de dívida.
Outros bancos centrais europeus – incluindo os da Suíça, Noruega, Suécia e Reino Unido – também deverão divulgar as suas decisões nos próximos dias, o que poderá alterar a dinâmica cambial no curto prazo.
Contexto Comercial e Sentimento dos Investidores
O sentimento dos investidores permanece fragilizado por incertezas em torno do comércio internacional. O Japão reportou uma quebra nas exportações em Maio, a primeira em oito meses, evidenciando os efeitos negativos das tensões comerciais sobre as economias mais expostas. A recente reunião do G7 no Canadá não trouxe avanços significativos no tema das tarifas, enquanto se aproxima o prazo imposto por Trump para novas imposições comerciais.
Fonte: O Económico