Trump Desestabiliza Unidade do G7 e Deixa Líderes a Reconfigurar Futuro do Bloco Sem Liderança Americana

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Questões-Chave

A Cimeira do G7 de 2025, realizada na estância montanhosa de Kananaskis, Canadá, terminou sem um comunicado conjunto — substituído por seis declarações temáticas — e com a saída antecipada do Presidente norte-americano, Donald Trump, reacendendo o debate sobre a viabilidade futura do grupo como bloco de coordenação estratégica do Ocidente. A ausência de consenso deixou evidente o distanciamento dos EUA e obrigou os restantes líderes a considerar formas alternativas de cooperação multilateral.

Entre o Caviar Diplomático e os Choques Geopolíticos

O ambiente informal entre os líderes europeus no bar do hotel canadiano contrastou com a tensão crescente quando Trump finalmente chegou. Ao contrário das expectativas de reconstrução da unidade ocidental, Trump impôs a sua agenda disruptiva, recusando-se a assinar versões iniciais de declarações sobre o Médio Oriente e mostrando-se relutante em endurecer sanções contra a Rússia, alegando que custariam “muito dinheiro” aos EUA.

O momento simbólico do encontro ficou registado na imagem do Primeiro-Ministro britânico Keir Starmer a recolher documentos caídos de Trump durante um jantar oficial, numa alegoria quase literal da tentativa europeia de “limpar” os estragos diplomáticos do presidente americano.

Saída Antecipada, Ausência de Compromissos

Trump abandonou a cimeira com um dia de antecedência, alegando necessidade de lidar com a crise no Médio Oriente. No entanto, segundo fontes diplomáticas, a saída foi também motivada por desentendimentos com Emmanuel Macron, após este sugerir que Trump se teria proposto a negociar um cessar-fogo entre Israel e o Irão. Trump negou categoricamente: “Macron está errado. Um bom tipo, mas raramente acerta”, publicou na sua rede social Truth Social.

A sua saída inviabilizou encontros bilaterais com outros líderes convidados, incluindo Narendra Modi (Índia), Lula da Silva (Brasil) e Claudia Sheinbaum (México), frustrando os esforços de alargamento e abertura do G7 à voz do Sul Global.

Reacções e Reconfiguração do Espaço Multilateral

Face à ausência de liderança norte-americana, os restantes seis líderes prosseguiram com as discussões e divulgaram comunicados sobre inteligência artificial, minerais críticos, incêndios florestais e migração. Segundo Doug Rediker, ex-representante dos EUA no FMI, o momento representa uma transição:

“É evidente que os líderes do G7 terão de encontrar formas de operar entre si, sem depender da liderança dos EUA”.

O Primeiro-Ministro canadiano Mark Carney, anfitrião da cimeira, esforçou-se por evitar o colapso total da unidade, tendo inclusive dispensado a tradicional publicação de um comunicado único, para minimizar o risco de impasse. A sua prioridade foi demonstrar que o G7 ainda pode funcionar como espaço de diálogo e acção comum — mesmo que fragmentado.

Propostas Inconformistas e Divisivas

Trump reiterou a sua proposta de incluir a Rússia e eventualmente a China como membros do G7 — um sinal claro do seu distanciamento dos princípios fundadores do bloco, que privilegiam valores democráticos e coordenação entre economias abertas. Para os restantes membros, essa ideia representa uma ameaça à integridade política e à coesão ideológica do grupo.

Reflexo de um Novo Mundo Multipolar

A cimeira de Kananaskis contrastou com os momentos históricos de cooperação do passado — como durante a crise financeira de 2008 ou no início da pandemia — e marca um novo ponto de viragem. Com os EUA a assumirem uma postura cada vez mais unilateralista, a Europa e o Japão ensaiam novas formas de concertação estratégica, enquanto se aprofundam tensões comerciais, diplomáticas e militares com potências rivais.

G7 Sem os EUA? Um Cenário em Construção

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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>A Cimeira do G7 de 2025 deixou mais perguntas do que respostas. Enquanto Trump reafirma a sua imprevisibilidade e tendências isolacionistas, os outros membros começam a testar uma nova realidade: um G7 sem liderança americana — ou com um papel norte-americano marginalizado. A incerteza está lançada, e com ela, o desafio geopolítico de reinventar a cooperação multilateral num mundo cada vez mais fragmentado.

Fonte: O Económico

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