PERDIDOS, MAS NÃO POR ACASO

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Folha de Maputo

Por: Gelva Aníbal

O consumo de drogas entre os jovens no país é uma realidade crescente e alarmante. E torna-se mais alarmante, quando acreditamos que os jovens recorrem às drogas “por vontade própria”, como se fosse uma escolha consciente. Como se simplesmente acordassem e decidissem destruir a própria vida por diversão ou adrenalina.

A juventude de hoje vive sob pressões intensas e muitas vezes silenciosas. Há histórias que raramente chegam às manchetes, histórias de abandono, frustração e busca desesperada por algum alívio. Enfrentam o desemprego, a falta de oportunidades, a ausência de políticas públicas eficazes. Vivemos numa era em que, se não tens o chamado “dinheiro de refresco”, nada parece funcionar a teu favor. É neste vazio que muitos jovens encontram nas drogas um aparente refúgio, um alívio temporário que, infelizmente, pode levá-los a um caminho de autodestruição não intencional.

Estamos conectados ao mundo inteiro através das telas, mas, ironicamente, cada vez mais desconectados uns dos outros. Raros são os momentos de amparo real. Os que detêm poder e responsabilidade fazem discursos sobre a “falta de disciplina” da juventude, mas será que não foi este mesmo estado que falhou por não garantir direitos básicos como educação de qualidade e apoio psicológico?

Ninguém está verdadeiramente preparado para encarar um mundo marcado pela desigualdade, pela indiferença e pela falta de empatia. E há pessoas que simplesmente não suportam mais a sobriedade num mundo que as fere diariamente. Para esses, qualquer substância que lhes ofereça a ilusão de alívio torna-se o “pão de cada dia”.

Sim, em algum momento a responsabilidade individual deve existir. Mas também devemos compreender que nenhum vazio se forma por acaso. São lacunas deixadas pela negligência do Estado, pela desigualdade social e pelo silêncio colectivo, como se tudo estivesse a correr normalmente.

O mundo precisa deixar de ser apático. Precisamos olhar o outro com mais compaixão, reconhecer sua dor e, quando possível, estender a mão. Muitos continuam nas drogas porque nunca tiveram alguém que os ajudasse a ver a vida com mais leveza e esperança. Esses jovens, na maioria das vezes, não ganham espaço nos noticiários quando morrem por overdose. Tornam-se apenas estatísticas. Mas por de trás de cada número há uma história que se perdeu cedo demais, uma vida que poderia ter sido diferente, se houvesse mais escuta, apoio e oportunidades.

Com tudo, não basta só lamentar ou condenar a atitude de ambas partes, é preciso agir, investir na saúde mental, oferecer alternativas reais de formação e emprego de modo a ocupar os jovens e combater a o desespero que acaba lhes empurrando para o caminho das drogas pois, este problema, não surge do nada, é construído dia a pois dia pela ausência de alguma coisa que afecta o nosso psicológico, pela indiferença da sociedade e pela falta de perfectivas para o futuro.

Enquanto fingirmos e acharmos que só se trata da “falta de carácter” dos jovens de actualmente, continuaremos a perder vidas, não por acaso, mas por abandono e negligência.

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