Possíveis Impactos do Encerramento da USAID em Moçambique

0
53
Foto: REUTERS

Por: Gentil Abel Gentil Carneiro

 

O encerramento definitivo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) representa um ponto de viragem significativo para o desenvolvimento internacional, especialmente em países como Moçambique, onde a agência teve uma presença robusta e duradoura. Com mais de três décadas de atuação no país, a USAID desempenhou um papel central no financiamento e apoio técnico a setores como saúde, educação, agricultura, governação local e resposta a emergências humanitárias. O seu encerramento levanta preocupações concretas, com impactos que se fazem sentir a curto, médio e longo prazo.

E um dos setores mais afetados será o da saúde. A USAID foi um dos principais financiadores dos programas de combate ao HIV/SIDA, malária, tuberculose e outras doenças infecciosas em Moçambique. Por meio de iniciativas como o PEPFAR (Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da SIDA), milhões de moçambicanos tiveram acesso gratuito a medicamentos antirretrovirais, diagnóstico precoce e cuidados contínuos.

Fonte: REUTERS

Com o encerramento da USAID, há um risco real de interrupção no fornecimento de medicamentos, redução de campanhas de prevenção e enfraquecimento das estruturas de saúde comunitárias, especialmente nas zonas rurais. Caso não haja substituição imediata do financiamento, a taxa de mortalidade pode aumentar e os progressos alcançados nas últimas duas décadas podem regredir.

E na educação a USAID também teve uma forte presença, financiando programas de alfabetização infantil, formação de professores e construção de infraestruturas escolares. Em 2024, por exemplo, estava a financiar a construção da maior escola de Cabo Delgado, projeto que foi suspenso após o corte dos fundos.

Além disso, a agência apoiava comunidades com programas de nutrição escolar, empoderamento de raparigas e combate ao trabalho infantil. O fim do financiamento pode resultar na suspensão de projetos em curso, sobretudo nas províncias com menores índices de escolarização.

E muitas organizações da sociedade civil, empresas de consultoria, ONGs e entidades públicas que dependiam de financiamento da USAID poderá enfrentar agora cortes drásticos nas suas operações. Isso pode levar ao desemprego de centenas ou milhares de trabalhadores qualificados, como médicos, técnicos de desenvolvimento comunitário, professores e gestores de projetos.

De se lembrar que moçambique é um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas no mundo, e tem sido alvo frequente de ciclones e cheias. A USAID esteve envolvida em operações de emergência após catástrofes como os ciclones Idai e Kenneth, fornecendo alimentos, abrigo, água potável e assistência médica a centenas de milhares de pessoas.

Desta feita, com o encerramento da agência, a capacidade de resposta rápida a crises humanitárias pode ficar comprometida. Embora existam outras agências internacionais, como o Programa Mundial de Alimentação (PMA) e UNICEF, a perda da USAID representa uma redução significativa no alcance logístico e financeiro.

É importante notar e percebermos que a dependência prolongada da ajuda externa pode ser insustentável a longo prazo. O encerramento da USAID levanta a necessidade urgente de Moçambique fortalecer sua autonomia institucional, diversificar parcerias de desenvolvimento e investir em fontes de financiamento internas. E agora, o encerramento da USAID em Moçambique terá efeitos imediatos e potencialmente duradouros em áreas críticas para o desenvolvimento nacional.

No entanto, a responsabilidade agora recai sobre o governo moçambicano e parceiros para encontrar soluções sustentáveis, e racionalizar os recursos disponíveis de modo a garantir que os mais vulneráveis não paguem o preço de decisões tomadas a milhares de quilómetros de distância.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!