A ROLETA RUSSA DA JUVENTUDE MOÇAMBICANA

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Por: Alda Almeida,

 

Vivemos tempos em que o sonho fácil de enriquecer se transformou num pesadelo silencioso que assombra a juventude moçambicana. Alguns usam cobras, mas a maioria usa as apostas online, que surgiram como mero entretenimento, tornaram-se numa armadilha viciante que consome a esperança de milhares de jovens, dia após dia, clique após clique.

Em Moçambique, a febre do Aviator e de outras plataformas de jogo digital não conhece barreiras. Nas ruas, nas universidades, nos bairros e até nos transportes públicos, os telemóveis estão mais voltados para os aplicativos de apostas do que para os livros ou projectos de vida. Jovens desempregados ou com salários atrasados e para piorar, não satisfazem suas necessidades, apostam o pouco que têm, e até o que não têm, na esperança ilusória de multiplicar em segundos o que levariam anos a conquistar com esforço honesto.

Mas o que se perde vai muito além do dinheiro. Perde-se o tempo, a saúde mental, os laços familiares, a dignidade, e, por vezes, a própria vida. Já assisti nas redes sociais o funeral de um jovem que, incapaz de lidar com a perda total dos seus recursos numa aposta impiedosa, viu no suicídio a sua única saída. Um futuro que se extinguiu prematuramente por causa de uma falsa promessa digital, aliás, não sei se é falsa promessa ou o azar têm os colado como um ‘super glue‘  quase todos que jogam. E tantos outros casos que os órgãos de comunicação informam.

Há quem diga que o problema está na falta de autocontrole. Que cada um deve saber até onde pode ir. Mas isso é ser ignorante á tantas questões que devia-se colocar, por exemplo, que politicas foram criadas para o uso dessas plataformas, como usar, quem pode usar, até que ponto pode se aceder aos sites? Parece que estão mais para viciar, para manter o utilizador agarrado, preso, consumido do que só entreter. Trata-se de uma dependência semelhante à das drogas, silenciosa, destrutiva e progressiva.

Sim, é verdade que há jovens que conseguem impor limites e resistir ao apelo constante das apostas online. Mas são, infelizmente, a excepção que confirma a regra. A maioria, empurrada pela pressão social, pelo desespero financeiro e por uma esperança ingénua de mudança rápida de vida, mergulha  sem boia de salvação neste mar de perdas que raramente tem retorno. E perante este cenário preocupante, é difícil não questionar onde estão as medidas estruturadas, as acções consistentes, os sinais de uma atenção mais firme por parte das instituições que têm o dever de proteger os mais vulneráveis?

É urgente e imperativo que as autoridades competentes actuem com firmeza. Não basta regular, é preciso fiscalizar, aplicar sanções, impor limites claros, e investir em campanhas de sensibilização nas escolas, nas comunidades, nos meios de comunicação. Devem contribuir para programas de prevenção e tratamento da dependência, e não continuar a operar livremente num território onde a juventude está já de joelhos.

A juventude é o futuro deste país, aliás, é o hoje, mas se a deixarmos afundar neste vício, que futuro nos restará? Até quando permitiremos que o lucro de poucos seja construído sobre o desespero de muitos?

A hora de agir é agora. Amanhã pode ser tarde demais.

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