Mobilidade urbana

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FOTO: O País

Por: Gelva Aníbal

Maputo, Moçambique: A capital moçambicana, principal centro político e econômico do país, enfrenta um cenário alarmante de crescimento urbano desordenado, mobilidade caótica e serviços públicos precários. A circulação de pessoas e mercadorias, essenciais para o funcionamento da cidade, é diária e severamente comprometida por congestionamentos, um sistema de transporte inadequado e vias em estado de degradação.

Enquanto bairros periféricos como Zimpeto, Magoanine e Hulene experimentam um crescimento acelerado, o investimento em infraestrutura não acompanhou o mesmo ritmo. Essa disparidade resulta em trajetos que podem durar até duas horas para chegar ao centro da cidade, um fardo que afeta milhares de trabalhadores e estudantes.

“Chapas” na Mira da Irregularidade

O transporte público é dominado pelos mini-bus informais, conhecidos como “chapas”, que operam com capacidade entre 15 e 18 passageiros. Apesar de desempenharem um papel vital, a maioria opera em condições alarmantes. Muitos circulam sem inspeções regulares, com motoristas sem formação adequada, que frequentemente ignoram as regras de trânsito, transformando as vias urbanas em um ambiente de caos e risco.

Os cobradores, por sua vez, são frequentemente acusados de desrespeitar passageiros, encurtar rotas e exigir pagamentos acima do valor tabelado. Esse abuso de poder é particularmente evidente nas primeiras horas da manhã e no final do dia. Paradoxalmente, o rendimento desses profissionais depende diretamente da satisfação dos utentes, que merecem um tratamento respeitoso. Essa prática abusiva revela não apenas a falta de ética, mas também a ausência de fiscalização e responsabilidade profissional.

Vítimas da Complacência e Corrupção

Os utentes, na hora de ponta, são as maiores vítimas dessa desordem. A normalização do mau serviço, a aceitação silenciosa dos abusos e a pouca exigência por melhores condições e comportamentos responsáveis dentro dos transportes, evidenciam um ciclo de complacência generalizada.

A falta de educação cívica no trânsito agrava ainda mais essa realidade. Entidades fiscalizadoras, em vez de promoverem a sensibilização, são frequentemente acusadas de preferir extorquir os condutores. A expressão “dinheiro de refresco” tornou-se comum entre os condutores, um eufemismo que denota a corrupção institucionalizada, minando a confiança no sistema e perpetuando o caos que assola a capital moçambicana.

Nos Bairros onde ainda preservam vias razoavelmente transitáveis, a maioria da capital moçambicana convive com uma infra-estrutura viária precária. A disparidade revela mais do que diferenças logísticas, evidencia a persistente desigualdade no acesso à cidade.

Milhares de automobilistas ignoram regras básicas de circulação, estacionam de forma desordenada, excedem limites de velocidade e desrespeitam sinais de trânsito, o uso de faixas de pedestres tornaram-se práticas comuns, enquanto a polícia municipal raramente intervém nestes casos. Em vez disso, concentra-se em acções punitivas contra o comércio informal, tornando episódios como o confisco das bacias de vendedoras em detrimento da fiscalização efectiva que assegure ordem e segurança no espaço público.

O actual estado das ruas em Maputo não resulta do acaso. É reflexo de um sistema que falha em responsabilizar seus agentes e esquece que uma cidade só funciona quando há compromisso colectivo com o bem comum.

 

 

 

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