Questões-Chave:
Com um modelo assente em alianças, práticas inovadoras e uma ligação directa ao sector produtivo, o projecto Field Ready está a transformar o paradigma da empregabilidade jovem em Moçambique. Mais do que uma simples iniciativa de formação, trata-se de uma resposta integrada a um dos maiores desafios económicos e sociais do país: o desemprego juvenil.
“O nosso modelo chama-se Aliança Field Ready. É uma plataforma onde unem-se empregadores, instituições de formação e os próprios candidatos”, afirma Gaspar Buque, CEO do projecto em Moçambique. Reconhecido pela União Africana em 2021 como uma das melhores inovações africanas no domínio da empregabilidade, o Field Ready opera há oito anos no país, com presença também no Gana, Senegal e Nigéria.
A filosofia do programa é simples, mas disruptiva: as empresas indicam as competências que necessitam, os currículos são desenvolvidos em função dessa procura real, e os jovens são avaliados pelas próprias empresas que os poderão empregar. “Quando demonstram as competências certas, recebem uma carta de referência a dizer que estão ‘prontos para o campo’”, explica Buque.
O modelo não só colmata o desfasamento entre formação e mercado de trabalho, como promove competências transversais e mobilidade intersectorial. Um electricista formado para o sector de petróleo e gás, por exemplo, pode ser adaptado a sectores comerciais ou industriais, desde que tenha o mindset certo e uma base de soft skills, segurança e linguagem técnica.
Um dos casos ilustrativos é o recente programa para integrar mulheres no sector eléctrico. Foram seleccionadas 50 jovens, que beneficiaram de formação intensiva em inglês técnico, segurança, comportamento industrial e comunicação. Após a avaliação, a empresa parceira admitiu: “Jovens com esta preparação não conseguimos encontrar no mercado.”
A estratégia de crescimento do Field Ready passa também pela digitalização. Após anos de formação presencial, a equipa desenvolveu uma Plataforma Nacional de Empregabilidade, que oferece conteúdos gratuitos financiados por empresas da aliança. Actualmente, mais de 14 mil jovens acederam aos cursos, e a meta é atingir os 24 mil até ao final do ano.
Apesar do sucesso, Buque é claro: “A crise do desemprego juvenil é estrutural. Nenhuma entidade sozinha conseguirá resolvê-la. É preciso uma abordagem coordenada, onde todos – governo, sector privado e sociedade civil – sentem-se à mesma mesa.”
Do ponto de vista institucional, o Field Ready defende políticas públicas que reconheçam o valor das parcerias multi-actor e a promoção de incentivos para a formação alinhada às necessidades reais do mercado. “Empresas que não contratam directamente financiam a formação; outras, que precisam de mão-de-obra, beneficiam dessa capacitação. Essa é a beleza da aliança.”
No plano pessoal, Gaspar Buque mostra-se apaixonado pela causa. “Vejo jovens com talento e vontade. Falta-lhes orientação e atitude. Ensinar a procurar oportunidades, aceitar mobilidade, desenvolver redes e olhar nos olhos com confiança. Isso é o que mais me move.”
O objectivo final do projecto é que o modelo se torne autosustentável: que as instituições formadoras incorporem o currículo, que as empresas reconheçam o seu papel formativo, e que os jovens assumam uma postura mais activa e empreendedora na construção do seu futuro profissional.
Fonte: O Económico