Moçambola à Deriva: Gestão Frágil e a Ilusão da Sustentabilidade

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Por muito que se tente disfarçar, o Moçambola – outrora símbolo de paixão nacional e expressão desportiva das províncias – está hoje numa encruzilhada. Os recentes adiamentos das jornadas e a ameaça real de um campeonato que pode não chegar ao fim, expõem, de forma crua, a fragilidade estrutural da gestão do futebol moçambicano.

OPINIÃO DE  Luis Canhemba 

A justificação recorrente é a falta de transporte aéreo, com as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) no centro da narrativa. Diz-se que os clubes não conseguiram embarcar a tempo para os jogos em províncias distantes. Mas a pergunta que se impõe é: como se planeia uma competição nacional sem garantias logísticas mínimas?

A FALÁCIA DA “CULPA DA LAM”

A LAM, sendo uma empresa pública, tem os seus próprios desafios de sustentabilidade, gestão e operacionalidade. Mas imputar-lhe a responsabilidade primária pelos adiamentos da competição é fugir ao verdadeiro problema: a falta de um modelo de organização desportiva viável e financeiramente robusto.

Nenhuma companhia aérea – pública ou privada – deve operar à margem da sustentabilidade apenas para satisfazer calendários mal planejados. É incongruente exigir que a LAM se sacrifique por um campeonato que, por si só, não gera receitas relevantes, não mobiliza grandes audiências e cuja cadeia de valor é frágil e dependente de vontades externas.

UMA COMPETIÇÃO INVIÁVEL

Hoje, o Moçambola é um campeonato nacional apenas no papel. Os custos logísticos superam largamente as receitas de bilheteira, e a maioria dos clubes vive dependente de apoios esporádicos. A centralização da gestão, sem visão empresarial, torna o modelo actual completamente insustentável.

Mais grave ainda é a inexistência de um fundo de apoio aos clubes para garantir mobilidade mínima. Como se explica que, em pleno século XXI, uma competição nacional não tenha um plano de contingência para deslocações, sabidamente cruciais num país de grandes distâncias como Moçambique?

A GESTÃO QUE SE ESCONDE

A Liga Moçambicana de Futebol e a própria Federação Moçambicana de Futebol devem explicações claras ao público e aos clubes. Porque, para além dos voos cancelados, o que há é um vazio de liderança, planeamento sem rigor e a ausência de um projeto desportivo sustentável.

O Moçambola, hoje, não é inviável apenas por questões financeiras: é inviável porque falta-lhe uma gestão estratégica, profissionalizada e comprometida com o futuro do futebol nacional.

A INVISÍVEL MÃO QUE TODOS ESPERAM

A expressão “mão invisível” – quase sempre usada com ironia em tempos de crise – volta a pairar. Muitos acreditam que, como em anos anteriores, haverá uma intervenção de última hora do Governo ou de alguma entidade salvadora para garantir o arranque e o término do campeonato.

Mas depender ciclicamente de milagres institucionais é, por si só, uma confissão de fracasso sistémico. Moçambique precisa repensar o seu futebol, e o Moçambola deve ser o ponto de partida.

Sem reformas profundas na gestão, sem uma nova arquitetura financeira e sem responsabilidade institucional, o campeonato nacional continuará a ser uma promessa adiada – ou, pior ainda, um espectáculo em vias de extinção. (LANCEMZ)

 

 

Fonte: Lance

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