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A agência de notação financeira Fitch Ratings manteve Moçambique na categoria CCC, sublinhando que o país continua exposto a riscos financeiros “muito elevados”, e alertou para uma perspectiva económica frágil em 2025, com um crescimento marginal de apenas 2,5%, fortemente condicionado pela instabilidade pós-eleitoral e pela escassez de divisas.
Na mais recente revisão da notação de crédito soberano, datada de 1 de Agosto de 2025, a Fitch voltou a apresentar um diagnóstico severo sobre a conjuntura moçambicana. Após o abrandamento do crescimento para 2,2% em 2024 — face aos 5,5% registados em 2023 —, a previsão para 2025 foi revista em baixa, passando dos 3,2% anteriormente estimados para 2,5%.
Segundo a agência, a violência pós-eleitoral, registada na sequência das eleições gerais de Outubro de 2024, teve um impacto “amplo e negativo” sobre a actividade económica. A instabilidade social contribuiu para a queda na arrecadação fiscal e agravou a percepção de risco político, dificultando a recuperação da confiança dos investidores e o funcionamento normal da economia.
Dependência da Retoma do Gás em Cabo Delgado
As perspectivas de recuperação para os anos seguintes estão dependentes do reinício do megaprojecto de gás natural liquefeito (GNL) da TotalEnergies, avaliado em 20 mil milhões de dólares e suspenso desde 2021 devido à violência armada em Cabo Delgado. A Fitch assume que a construção poderá ser retomada no quarto trimestre de 2025, impulsionando o crescimento para 3,4% em 2026 e 4% em 2027, num cenário considerado optimista, mas ainda incerto.
Défice Fiscal e Vulnerabilidades Cambiais
A análise alerta ainda para o agravamento do défice orçamental, que subiu para 4,9% do PIB em 2024, mais do que duplicando face aos 2,1% registados em 2023. Este aumento decorre de uma combinação entre a redução dos subsídios, o impacto da instabilidade na cobrança de receitas e desequilíbrios no financiamento público.
Além disso, a suspensão do programa de assistência com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a crescente dependência de instrumentos como emissões de dívida interna, empréstimos do Banco Central e financiamento de curto prazo foram identificados como factores que expõem o país a um risco elevado de insustentabilidade fiscal.
A Fitch alerta ainda que as necessidades de financiamento externo e interno são significativas, e que a incerteza em torno das reservas cambiais poderá comprometer a capacidade de resposta económica do Estado.
Ao manter Moçambique na classificação CCC, a Fitch confirma que o país permanece numa zona de alto risco, com vulnerabilidades fiscais e cambiais persistentes, e com o crescimento económico condicionado por factores extraeconómicos. A esperança de retoma está agora pendente da estabilização político-social e da efectiva reactivação dos megaprojectos de gás — factores que, se não se materializarem, poderão perpetuar o actual ciclo de estagnação e risco.
Fonte: O Económico