Moçambique Aposta na Produção Local de Medicamentos Para Reduzir Importações e Impulsionar Desenvolvimento Socioeconómico

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Moçambique iniciou um novo ciclo de desenvolvimento económico e sanitário, apostando na produção local de medicamentos como estratégia para fortalecer o Sistema Nacional de Saúde, reduzir a factura de importações e posicionar o país como actor relevante na indústria farmacêutica da região austral de África.

Com cerca de 50% das necessidades do Serviço Nacional de Saúde já asseguradas por produção interna, Moçambique acelera a sua estratégia de industrialização farmacêutica. Em 2023, o país produziu mais de dois biliões de comprimidos e cápsulas, 18 milhões de bolsas injectáveis, 50 milhões de doses de vacinas e mais de 100 formulações distintas, com certificação da Organização Mundial da Saúde.

Esta aposta visa não apenas o abastecimento interno com medicamentos de qualidade e preços acessíveis, mas também a construção de resiliência sanitária e a afirmação de Moçambique como plataforma de produção e exportação de fármacos na região da SADC.

“A produção local é um instrumento para aliviar a balança de pagamentos, criar emprego e evitar rupturas no abastecimento de medicamentos essenciais”, afirma Paulo Aguiar, Director Técnico da Medis Farmacêutica. Já Décio Mucavele, Director Geral da HelthY Med, reforça: “o país vive um momento de viragem, com oportunidades claras para atrair investimento e reforçar a soberania sanitária”.

A Afri Farmácia, por exemplo, está a investir dois milhões de dólares na sua primeira unidade fabril em Moçambique, que deverá empregar entre 40 a 50 trabalhadores numa fase inicial. O projecto futuro, mais ambicioso, poderá gerar até 150 postos de trabalho, com perspectivas de exportação para países como Tanzânia, Nigéria e Gana.

Contudo, para garantir o êxito desta transformação estrutural, é necessário investir em formação técnica, redes de distribuição eficientes, infraestruturas de armazenamento e parcerias com fornecedores de equipamentos e reagentes laboratoriais. A cadeia produtiva farmacêutica tem ainda potencial para dinamizar sectores adjacentes como o dos seguros, embalagens, transporte especializado e assistência técnica.

As zonas económicas especiais e os acordos de cooperação internacional têm sido alavancas estratégicas. Em conferência realizada em Maputo, o Presidente da República, Daniel Chapo, reiterou a ambição de substituir gradualmente as importações — que ainda representam cerca de 90% do consumo de medicamentos em África — e posicionar Moçambique como um actor-chave no fornecimento regional.

Apesar dos avanços, persistem obstáculos sérios. “Mais de 70% dos medicamentos ainda são importados, e a escassez de moeda estrangeira está a criar rupturas no fornecimento”, alerta Mucavele. “O metical desvalorizado e as exigências de pagamento antecipado impostas por fornecedores internacionais aumentam o risco de negócio e a vulnerabilidade do sistema”, acrescenta Aguiar.

Ainda assim, o sector mantém o optimismo: “Estamos a finalizar o estudo de viabilidade para a construção de uma fábrica própria, e já temos cerca de 200 produtos em linha”, refere o Director de Marketing da Healthcare. A participação de empresas moçambicanas em fóruns internacionais, como o de São Petersburgo, tem permitido atrair potenciais parceiros para investimento e transferência de tecnologia.

A industrialização farmacêutica representa, pois, um passo decisivo para consolidar a autonomia sanitária, criar empregos qualificados, estimular a economia e reduzir a exposição externa em momentos de crise global. A capacidade de Moçambique de produzir os seus próprios medicamentos poderá, no futuro, revelar-se como um activo estratégico para a segurança nacional e a saúde pública.

Fonte: O Económico

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