As escolas em Nampula estão sem orçamento para sustentar todas as despesas, devido à falta de dinheiro, após a interrupção da possibilidade de o fazer via valor dos guardas e das provas.
A Escola Secundária de Namicopo, na periferia de Nampula, é um exemplo disso. Tem mais de cinco mil alunos da 7ª à 12ª classe. A gestão diária ficou difícil nos últimos anos, com a abolição da taxa de matrículas, cortes nos fundos do Governo para o funcionamento e proibição de cobranças para o pagamento de guardas e realização de provas.
Em termos de despesas correntes, o director da escola, Cassimo Ali Natunga, fala de aproximadamente 30 mil meticais por mês. “Por um mês, gastamos 5, 6, 7, 8 mil meticais para pagar a água, gastamos 24 mil meticais, no mínimo, para pagar a energia. Isso para não fazer outras despesas, por exemplo, compra de giz, caneta e papel para uso corrente. Nós temos três guardas, e quem paga é a escola. É a escola porque nós pedimos aos pais e encarregados de educação para nos apoiarem nesse sentido. Nós temos uma despesa de 10 mil e 500 mensais para eles”, contou.
Cassimo Natunga diz ainda que, neste momento, a escola está a tentar virar-se, para ver se paga os salários dos guardas referentes ao mês de Julho.
Questionado sobre o fundo que a escola recebe do Ministério da Educação para o seu funcionamento, Cassimo Natunga revelou que o único fundo que recebem é o apoio directo às escolas, também chamado de AD.
“E esse valor é fixo. Anualmente, recebemos 250 mil meticais, mas esse valor, a ver com a despesa que nós temos, também nos ajuda a resolver alguns dos nossos problemas. Além do mais, existe também outro elemento: esse valor, o doador já fixou em que quer que nós usemos”, explica Cassimo Natunga.
Se tivermos em conta só a despesa com energia e água, os 250 mil meticais que a escola recebe dariam apenas para sete meses. Há cinco anos, as escolas recebiam também um fundo de funcionamento que foi cortado.
O director da Escola Secundária de Namicopo lamenta a situação, até mesmo porque o fundo de funcionamento não era um valor fixo, mas alternava anualmente. “O Estado alocava um determinado valor, mas o que posso dizer é que, nos últimos anos que não temos esse valor, cerca de cinco ou seis anos atrás, não passava dos 200 e 300 mil meticais. O que ajudava é que aquele valor não recebíamos todo de uma única vez, recebíamos mensalmente, em duodécimos. Então, tínhamos em algum momento um duodécimo de 20 mil meticais, não era um valor grande, mas resolvia alguma questão, por exemplo, de giz ou caneta para podermos funcionar”, revela Cassimo Natunga.
Na impossibilidade de garantir o mínimo para as despesas correntes, a escola recorre aos pais e encarregados de educação para apoiarem.
“Vivemos à nossa sorte, por isso, às vezes, quando nos sentimos mais apertados, recorremos aos pais e encarregados de educação para ver se nos ajudam em contribuir um ou outro valor, por exemplo, nesse caso, para reproduzir algumas provas”, conta, lamentando a situação que, para ele, é muito mais pesada para as escolas.
Cassimo Natunga diz que, com os fundos que eram antes cobrados, conseguiram fazer algo visível. “Temos aqui dois blocos de sala de aulas que foram construídos com esses fundos”, revela o director da Escola Secundária de Namicopo.
A Escola Secundária de Muatala também se ressente da crise financeira. Hilário Pacheleque diz que as dificuldades que enfrentam superam todas as expectativas. “Nós não pagamos água. Temos um furo aqui dentro. Então, o que nos chupa dinheiro é a motobomba que temos, que consome muita energia. Como vocês sabem que a energia está cara, temos tido problemas de energia. Não temos dinheiro para comprar energia. Não vou falar de mensal, mas diário. Estamos a falar de 1500 meticais”, revela Hilário Pacheleque.
Ou seja, só de energia, a escola gasta acima de 30 mil meticais por mês. O ministério apenas canaliza os 250 mil meticais por ano de fundo de apoio directo às escolas, e o resto são as direcções das escolas e os pais e encarregados de educação que assumem a responsabilidade de gestão corrente.
“Os valores que nós recebemos provenientes dos pais são poucos, não chegam para nada, mas vivemos assim mesmo”, afirma o director da Escola Secundária de Muatala.
A escola de Muatala conta com quatro guardas e dois jardineiros, todos pagos através de contribuições dos encarregados dos alunos. Já que a falta de orçamento é real, as cobranças aos alunos são inevitáveis, e estes reclamam.
“Primeiramente, reclamar sobre as cobranças das avaliações trimestrais. O preço é muito elevado, é de 70 meticais. Nos anos passados, era de 50 meticais, eu não sei porque estão a fazer 70, enquanto as avaliações não são múltiplas escolha”, reclama Chelse Gilberto, aluna da Escola Secundária de Muatala.
Por outro lado, Fátima Carlos, também aluna na mesma escola, diz não entender os 70 meticais cobrados. “Eu gostaria que reduzissem para o preço de 50 meticais como nos anos passados, porque já aboliram a múltipla escolha. Até os que estão a fazer uma secção também foram obrigados a pagar 70 meticais, que isso também é injustiça. 70 meticais quando vão fazer só três avaliações ou quatro no máximo, isso é muita injustiça”, reclama Fátima Carlos.
O director provincial de Educação em Nampula, Williamo Tuzine, garante que o Governo está atento à situação e está a trabalhar para colmatar os problemas levantados pelas escolas.
“Nós já tínhamos emitido um comunicado para todas as escolas da província para que não fizessem as cobranças. Vamos fazer de tudo para que isso não volte a acontecer nas escolas e para que haja devolução de valores para aqueles que já contribuíram”, apelou Williamo Tuzine.
Nampula pode ser apenas uma gota no oceano para os problemas que são enfrentados pelas escolas em todo o país.
Fonte: O País