A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA QUE NUNCA CHEGA

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Por: Sara Seda

Dizem-nos, com um certo ar de quem sabe, que a juventude é o futuro do País.
Mas a verdade é que, para muitos jovens em Moçambique, o futuro tem-se revelado um lugar longínquo, inacessível, escondido atrás de um anúncio de emprego que exige, com a maior naturalidade do mundo, “entre 5 e 10 anos de experiência”. Para muitos jovens, o reflexo cruel de um mercado de trabalho que parece recusar-se a ser o ponto de partida das suas carreiras.

Uma exigência que se tornou quase um ritual cruel do mercado de trabalho contemporâneo. Por mais estranho que pareça, ou talvez já nem pareça, de tão habitual, continua-se a exigir dos recém-formados aquilo que, durante toda a sua formação, lhes foi negado: experiência profissional. O problema não é novo, em que o jovem precisa de experiência para ser contratado, mas não é contratado para adquirir experiência. E o resultado está à vista, ou, melhor dizendo, está fora de vista: jovens qualificados, motivados, com diplomas nas mãos, entregues ao labirinto entre a formação e o desemprego, onde o tempo passa, mas a primeira oportunidade muitas vezes nunca chega.

O estágio, quando existe, fica guardado para o último ano de curso, como se em poucos meses fosse possível adquirir tudo aquilo que o mercado exige com naturalidade absurda. Por outro lado, as empresas, pressionadas por um contexto económico adverso, evitam contratar perfis inexperientes, optando por profissionais com longos anos de estrada. Em vários países, os estudantes têm a possibilidade de realizar estágios curriculares ou extracurriculares ainda nos primeiros anos. Trabalham em restaurantes, hotéis, empresas, aprendem, ganham responsabilidade e compreendem desde cedo o funcionamento do mundo laboral.

Enquanto isso, aqui há quem a cumule cinco anos de busca activa pelo emprego, dez até. Anos que não contam no currículo, mas que representam, para muitos jovens, uma experiência de vida marcada por entrevistas que não se concretizam, por silêncios após candidaturas, por estágios prometidos, pela frustração, pela invisibilidade e pela exclusão social. Uma prática que exclui quem simplesmente não pode pagar para trabalhar.

Romantiza-se o empreendedorismo como salvação nacional: “Cria o teu próprio emprego!” Como se fosse simples. Como se todos tivessem perfil, rede de contactos, capital e, sobretudo, a experiência que nunca lhes foi permitida adquirir num contexto organizacional.

Algumas iniciativas recentes, como a Feira de Emprego Nacional, organizada pelo INEP, com apoio de plataformas como a MozYouth e a SDO, trouxeram algum alento. São passos importantes, mas ainda isolados e com alcance limitado perante a dimensão do desafio. Faltam políticas que obriguem, sim, obriguem, o mercado a abrir portas, a investir em quem ainda não tem anos de estrada, mas tem todas as condições para construir novos caminhos. Porque se o País não acreditar nos seus jovens, teremos uma geração de jovens que não acredita mais no seu País, mesmo com discursos belos e vazios no dia 12 de agosto.

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