Por: Alfredo Júnior
Dizia a minha avó: “quem não tem cão, caça com gato”. Mas, confesso, nunca pensei que em pleno 2025 alguém resolvesse levar a expressão tão a sério ao ponto de transportar gente… de trator.
Sim, não está a ler mal. O Governo anunciou a aquisição de 100 tratores com atrelados adaptados para levar passageiros em zonas rurais, sobretudo onde os autocarros já levantaram as mãos e disseram: “aqui não passamos”. Até aí, vá, a intenção até soa bonita.
Mas convenhamos: quando ouvimos falar de trator, a primeira imagem que nos vem à cabeça é lavoura, capim, terra batida e um camponês ao volante, não um senhor engravatado a caminho do escritório.
Mas estamos em Moz, então preparem-se: em vez de disputar lugar no chapa, o cidadão madrugador vai correr para apanhar boleia num John Deere com bancos improvisados. Quem diria que a revolução nos transportes teria cheiro a gasóleo agrícola?
E os detalhes logísticos? Ninguém sabe. Vai ter cinto de segurança? Capacete de pedreiro incluído no bilhete? Com o estado das nossas estradas, não me surpreendia ver o “comboio-trator” a fazer voos panorâmicos entre buraco e buraco.
Claro que a ideia é nobre: levar mobilidade a quem o tempo e o orçamento deixaram para trás. Mas fica a pergunta no ar: e os autocarros? E as estradas? Não estaremos a assumir, de forma oficial, que o país não tem chão para rodas normais?
E sobre o preço, silêncio absoluto. Tratores com bancos… será que vêm com ar condicionado? Bluetooth? Música ambiente? Ou será uma versão mais “orgânica”: ventilação natural, poeira nos olhos e a sinfonia do motor a gasóleo como banda sonora. Um verdadeiro “safari rural experience” patrocinado pelo Estado.
Enfim, resta-nos esperar que os tratores não se atolem à primeira chuvada. Porque no fim do dia, o povo só quer chegar ao destino. Seja num autocarro, num chapa… ou no reboque de um sonho agrícola com vista para a machamba.