O País dos Xiconhocas

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Por: Alfredo Júnior

Há dias em que penso que Moçambique virou um reality show, tipo Big Brother, mas sem prémio, sem dignidade e com xiconhocas a votar por SMS. O drama, a comédia e a tragédia dão-se todos as mãos e os protagonistas parecem escolhidos num casting de última hora: os famosos xiconhocas.

Sim, esses mesmos, os que vão ao hospital com esperança e saem com uma receita e um “volte daqui a dois meses, se ainda estiver vivo”. Mas no dia da campanha estão lá, com camisete no peito, bandeira na mão e gritando “estamos juntos, chefe”. Xiconhoca é um estado de espírito, uma religião, um superpoder de anular o bom senso.

Tem também o xiconhoca político. Esse é de elite. Ele promete tudo, estrada, escola, hospital. No dia seguinte, quando perguntamos pelo projecto, ele diz “foi aprovado em espírito, falta materializar”. O dinheiro? Esse já foi fazer turismo em contas no exterior.

E depois tem os deputados, os mestres do cochilo patriótico. Dormem no Parlamento como quem está a meditar profundamente sobre o futuro da nação. E se acordam, é só para dizer “sim, aprovo” sem saber o que está em votação. É como jogar dominó com venda nos olhos.

O xiconhoca moderno é tecnológico. Ele tem smartphone de última geração, mas acredita em corrente de WhatsApp. “Se não partilhar esta mensagem com 7 pessoas, vais ter azar no amor”. E partilha com fé.

E o mais impressionante? O xiconhoca convence. Tem discurso pronto, argumentos que desafiam a ciência e ainda vira influencer de desgraça. Tem seguidores, partilhas e às vezes até um cargo. Tudo isso sem fazer sentido algum.

Mas calma, não estamos livres. Todos nós temos um xiconhoca interior, aquele que diz “não vale a pena reclamar”, “já estamos habituados”. Esse xiconhoca vive em silêncio, comendo amenduim e assistindo novela como se o país não estivesse em combustão lenta.

Mas ainda há esperança. No dia em que decidirmos pôr o xiconhoca para fora com cerimónia, dança tradicional e ata notarial, talvez o país comece a andar. Até lá, resta-nos rir. Porque rir é barato, não paga imposto e ajuda a engolir as xiconhocadas que levamos todos os dias.

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