Resumo
Os preços do petróleo caíram pelo segundo dia consecutivo, devido a preocupações com o excesso de oferta e sinais de procura fraca. O Brent recuou 13 cêntimos, para 67,82 USD/barril, e o West Texas Intermediate desvalorizou 18 cêntimos, para 63,87 USD/barril. A Reserva Federal dos EUA cortou as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais, mas a mensagem desanimadora de Powell sobre o mercado laboral e a inflação tornou o corte mais uma medida de gestão de risco do que um estímulo à procura. Os stocks de crude nos EUA diminuíram, mas um aumento inesperado nas reservas de destilados e o cenário de sobre-oferta continuam a pressionar os preços. A volatilidade persiste nos mercados de energia, com desafios para exportadores e possíveis benefícios para importadores como Moçambique.
Preocupações com excesso de oferta e sinais de procura fraca agravam pressões no mercado
Os preços do petróleo caíram pelo segundo dia consecutivo, reflectindo uma conjugação de factores que vai desde a mensagem cautelosa da Reserva Federal sobre a economia dos Estados Unidos até às persistentes preocupações com o excesso de oferta no mercado global e com a procura interna do maior consumidor mundial de crude.
Na sessão de quinta-feira, o Brent recuou 13 cêntimos (–0,19%), para 67,82 USD/barril, enquanto o West Texas Intermediate (WTI) desvalorizou 18 cêntimos (–0,28%), para 63,87 USD/barril. A queda acontece um dia após a Reserva Federal norte-americana ter cortado as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais e sinalizado mais dois cortes até ao final do ano.
Embora uma redução nas taxas de juro tenda a estimular a procura energética ao facilitar o crédito, o mercado já havia antecipado a decisão. O que pesou, segundo Priyanka Sachdeva, analista sénior da Phillip Nova, foi “a mensagem desanimadora de Powell, que enfatizou a fraqueza do mercado laboral e uma inflação persistente, tornando o corte mais uma medida de gestão de risco do que um verdadeiro estímulo à procura”.
Claudio Galimberti, economista-chefe da Rystad Energy, sublinhou que o tom da Fed sugere que “o risco para a economia decorrente do desemprego é hoje visto como mais grave do que o risco da inflação”.
Do lado da oferta e procura, os fundamentos continuam a pressionar os preços. Apesar de os stocks de crude nos EUA terem caído fortemente na última semana, o que poderia sustentar os preços, o aumento inesperado de 4 milhões de barris nas reservas de destilados (contra uma expectativa de apenas 1 milhão) evidenciou uma procura mais fraca do que o previsto. Ao mesmo tempo, as exportações de crude norte-americano subiram para níveis próximos de um máximo de dois anos, enquanto as importações líquidas caíram para um mínimo histórico, alimentando o cenário de sobre-oferta.
Assim, os mercados de energia encontram-se numa encruzilhada: de um lado, os cortes de taxas da Fed que poderiam dar algum alento à procura; do outro, sinais crescentes de desaceleração económica e desequilíbrios entre oferta e consumo que continuam a pressionar os preços.
A volatilidade mantém-se como palavra de ordem. Para os países exportadores, preços persistentemente abaixo dos 70 USD/barril representam desafios significativos em termos de receitas fiscais. Já para países importadores como Moçambique, a descida pode aliviar a factura energética, mas ao custo de um ambiente global mais instável e de uma economia norte-americana a dar sinais de fragilidade — com impacto em fluxos de capitais e comércio internacional.
Fonte: O Económico