Resumo
A Reserva Federal dos Estados Unidos reduziu a sua taxa de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, fixando-a entre 4,00% e 4,25%, com planos de mais cortes até ao final do ano. O presidente da Fed, Jerome Powell, destacou a importância de equilibrar o combate à inflação com a manutenção do emprego máximo, num contexto de desaceleração do mercado laboral e inflação acima da meta. A decisão não foi unânime, com dissidências sobre a magnitude dos cortes. Trump pressionou por cortes mais profundos, mas Powell reiterou a independência da instituição. A Fed manteve projeções para inflação e desemprego, com ligeira revisão em alta do crescimento. Os mercados reagiram de forma mista, com expectativas de novos cortes. A Fed parece privilegiar o emprego sobre a inflação, sinalizando uma política monetária mais flexível para proteger o mercado de trabalho.
<
p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Powell privilegia defesa do emprego apesar da inflação ainda acima da meta
A Reserva Federal dos Estados Unidos reduziu, pela primeira vez desde Dezembro, a sua taxa de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, fixando-a entre 4,00% e 4,25%. O banco central sinalizou ainda dois novos cortes até ao final do ano, numa decisão que reflecte a crescente preocupação com a desaceleração do mercado laboral, mesmo num cenário de inflação ainda acima da meta oficial.
Jerome Powell, presidente da Fed, sublinhou em conferência de imprensa que “não existem caminhos sem risco… não é óbvio o que fazer”, destacando a necessidade de equilibrar o combate à inflação com a obrigação de assegurar o emprego máximo. O responsável assumiu que o ritmo actual de criação de postos de trabalho está aquém do nível necessário para manter estável a taxa de desemprego, alertando para o aumento do desemprego entre jovens e minorias.
A decisão não foi unânime. Stephen Miran, recentemente nomeado governador pelo Presidente Donald Trump, defendeu uma redução mais acentuada de 0,5 p.p. e submeteu projecções que apontam para cortes adicionais, capazes de levar a taxa abaixo de 3% até ao final do ano. Apesar desta dissidência, os restantes membros convergiram em torno do corte moderado, numa reunião marcada por forte dramatismo político.
Trump, crítico feroz da política da Fed, tentou afastar a governadora Lisa Cook — que acabou por votar a favor da decisão — e tem pressionado abertamente por cortes mais profundos. Ainda assim, Powell insistiu na independência da instituição: “É profundamente enraizado na nossa cultura basear o nosso trabalho em dados e nunca em outra coisa”.
No plano económico, a Fed manteve inalteradas as projecções para a inflação (3% no final de 2025, acima da meta de 2%) e para o desemprego (4,5%). O crescimento foi ligeiramente revisto em alta, para 1,6%. Os mercados reagiram de forma mista: Wall Street oscilou entre ganhos e perdas, o dólar apreciou-se modestamente e os futuros de taxas passaram a precificar com mais de 90% de probabilidade um novo corte já na reunião de Outubro.
Especialistas sublinham que o banco central passou a atribuir maior peso ao emprego em detrimento da inflação. “De certa forma, o que conta não é tanto o primeiro corte, mas a percepção de que a trajectória das taxas será mais rápida e com um ponto final ligeiramente abaixo do projectado em Junho”, observou Ellen Hazen, estratega da F.L. Putnam Investment Management.
O dilema persiste: aceitar uma inflação mais resistente no curto prazo para proteger o mercado de trabalho, ou manter o rigor monetário correndo o risco de agravar a subida do desemprego. Para Powell, trata-se de uma decisão “reunião a reunião”, mas o sinal dado aos mercados é claro: a Fed está disposta a afrouxar a política monetária para evitar que as fragilidades laborais se transformem numa recessão plena.
Fonte: O Económico