Por: Lurdes Almeida
Moçambique é um país dotado de riquezas naturais extraordinárias, como gás natural, carvão, rubis, areias pesadas e terras aráveis, além de uma localização estratégica no sudeste africano. Essa abundância de recursos faz do país um dos destinos mais cobiçados por investidores estrangeiros na África Austral.
Nos últimos anos, o país atraiu investimentos bilionários no sector energético, especialmente com os projectos de gás natural na bacia do Rovuma. Esperava-se que essas explorações impulsionassem o crescimento económico e gerassem emprego em larga escala. Porém, os dados mais recentes mostram um crescimento modesto do PIB, 3,2% no primeiro trimestre de 2024, abaixo da meta oficial de 5,5% para o ano. Paralelamente, os serviços públicos continuam deficitários, a pobreza prevalece nas zonas rurais, e o desemprego, sobretudo entre os jovens, mantém-se elevado.
No entanto, a realidade socioeconómica contrasta com esse potencial, os benefícios ainda não se reflectem de forma significativa na vida da maioria dos moçambicanos.
Este cenário expõe a falta de uma estratégia eficaz para converter a riqueza do subsolo em desenvolvimento sustentável e inclusivo. A exploração de recursos ocorre, muitas vezes, sem transparência, com denúncias recorrentes de má gestão, contractos lesivos e corrupção. As comunidades locais, que deveriam ser as primeiras beneficiárias, são frequentemente deixadas de lado.
Além disso, choques acumulados como eventos climáticos extremos, a insegurança armada em Cabo Delgado, e a volatilidade dos preços internacionais contribuem para agravar a situação. O país enfrenta dificuldades em diversificar a sua economia, permanecendo excessivamente dependente das exportações de matérias-primas.
É urgente transformar este tesouro escondido em oportunidades visíveis. Isso passa por investir em educação, saúde, infraestrutura e inovação.
Moçambique não pode continuar a ser um país rico para poucos e pobre para muitos. O futuro passa por partilhar a riqueza, distribuir os benefícios e garantir que o progresso seja sentido por todos.






