A iniciativa surge numa altura em que este tipo de transporte, cada vez mais popular e acessível, tem estado associado a acidentes graves, alguns deles com desfecho fatal.
O município de Inhambane, em coordenação com a Polícia de Trânsito e outras entidades ligadas à mobilidade urbana, lançou esta semana um programa de indução dirigido aos mototaxistas que operam na cidade. O objetivo é simples, mas urgente: reduzir a sinistralidade rodoviária e disciplinar uma atividade que cresce a olhos vistos, mas que ainda enfrenta sérios problemas de informalidade.
Segundo dados oficiais, foram registados 62 mototaxistas a operar de forma ilegal, muitos deles sem a devida licença e sem qualquer formação sobre as regras básicas de trânsito. A estes foi dada a oportunidade de participar nesta capacitação, mas quase metade decidiu não comparecer, um sinal que, para as autoridades, confirma a necessidade de maior fiscalização e sensibilização.
O vereador dos Transportes no município de Inhambane, Novais Abubacar, explica que a capacitação não se resume apenas a teoria, mas aborda também a responsabilidade social que cada mototaxista carrega ao transportar vidas.
“Estamos aqui para corrigir erros que, por negligência, acabam em tragédias. Muitos destes jovens iniciaram esta atividade sem qualquer preparação. Transportam pessoas todos os dias, mas esquecem-se de que cada passageiro é uma vida, e que basta um descuido para transformar uma viagem curta numa catástrofe. Esta formação quer exatamente mudar mentalidades e dar ferramentas para que eles possam trabalhar com mais segurança”, afirmou.
A preocupação das autoridades não é gratuita. Só nas últimas semanas, Inhambane registou pelo menos três mortes resultantes de acidentes envolvendo mototaxistas. Em resposta, a Polícia apreendeu mais de 40 motorizadas que circulavam ilegalmente, sem matrícula, sem seguro e conduzidas por jovens sem habilitação legal para exercer a atividade.
Os acidentes não só ceifam vidas, como também aumentam a pressão sobre os serviços de saúde locais, já fragilizados. Muitos dos feridos acabam com incapacidades permanentes, comprometendo não apenas a sua subsistência, mas também a das famílias que deles dependem. É um ciclo de dor que as autoridades querem travar.
No terreno, a realidade é clara: o transporte de passageiros por motorizada tem vindo a ocupar espaço como uma alternativa de mobilidade, sobretudo em zonas urbanas onde o transporte público é escasso ou pouco eficiente. Para muitos jovens, tornou-se também a única fonte de rendimento num cenário de desemprego elevado. Contudo, essa mesma oportunidade económica transformou-se num risco coletivo quando não acompanhada de regras claras e de formação adequada.
Durante a capacitação, os participantes recebem instruções sobre código de estrada, primeiros socorros em caso de acidente, uso obrigatório de capacete, limites de velocidade e até técnicas de condução defensiva. O enfoque está em evitar situações de risco antes que estas se transformem em tragédia.
Apesar de alguns avanços, o desafio maior continua a ser a disciplina. Muitos dos ausentes da formação justificam-se com a necessidade de “não perder o dia de trabalho”, mesmo sabendo que a informalidade e o desconhecimento das regras aumentam o risco de acidentes.
Para Novais Abubacar, este é um sinal de alerta: “Não basta termos leis, é preciso garantir que elas sejam cumpridas. O município está a criar condições, mas se os operadores não assumirem a sua parte, vamos continuar a contar mortos. O transporte de passageiros não pode ser visto apenas como um ganha-pão rápido. É uma atividade que exige responsabilidade, porque lida diretamente com vidas humanas”.
A formação em Inhambane insere-se numa estratégia mais ampla de regulação do setor de mototaxistas em todo o país, onde este tipo de transporte tem registado um crescimento acelerado. Em cidades como Nampula, Quelimane e Pemba, programas semelhantes já foram implementados, sempre com o mesmo objetivo: salvar vidas.
Os dados nacionais mostram que os motociclos estão entre os veículos mais envolvidos em acidentes de viação, sendo muitas vezes conduzidos por jovens sem experiência, sem habilitação e sem consciência plena dos riscos que enfrentam e provocam.
Em Inhambane, os primeiros passos já foram dados. Mais de 30 jovens decidiram participar e estão agora mais preparados para enfrentar a estrada com responsabilidade. Resta saber se os ausentes desta formação irão, no futuro, perceber o preço que se paga pela negligência.
Por enquanto, as autoridades locais prometem reforçar a fiscalização e manter abertas as portas para novas capacitações. A meta é clara: reduzir drasticamente o número de acidentes e evitar que mais famílias chorem a perda de entes queridos em estradas que poderiam ser seguras.
Enquanto isso, nas ruas de Inhambane, os mototaxistas continuam a ziguezaguear entre carros e peões. Para uns, a formação representa uma oportunidade de mudar de vida. Para outros, é apenas mais uma regra a contornar. O tempo dirá qual dos caminhos prevalecerá.
Fonte: O País






