Resumo
O cancro tornou-se uma das principais causas de morte em Moçambique, ultrapassando doenças infecciosas. Estima-se anualmente entre 25 e 26 mil novos casos, com mais de 17 mil mortes. Em Maputo, a taxa de incidência é alta, com o cancro do colo do útero a liderar entre as mulheres e o sarcoma de Kaposi entre os homens. O diagnóstico tardio contribui para o elevado número de mortes, especialmente fora das cidades. A vacinação contra o HPV tem sido expandida, mas enfrenta desafios logísticos. Recursos limitados, falta de especialistas e infraestruturas inadequadas dificultam o tratamento. Combater o cancro requer reforço na prevenção, acesso ao tratamento em todo o país e investimento na saúde. A sensibilização e a vacinação contra o HPV são cruciais para reduzir casos futuros de cancro cervical. Com políticas públicas adequadas e investimento em saúde, é possível salvar vidas em Moçambique.
O cancro tem vindo a afirmar-se como uma das principais causas de morte em Moçambique, ultrapassando muitas doenças infecciosas que historicamente dominavam as estatísticas nacionais. Estima-se que, todos os anos, surjam entre 25 e 26 mil novos casos e que mais de 17 mil pessoas percam a vida devido à doença, segundo dados oficiais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde e confirmados por estudos internacionais.
Embora os números nacionais sejam preocupantes, é nas grandes cidades que os dados estão melhor documentados. Em Maputo, por exemplo, a taxa de incidência chega a 126,5 casos por 100 mil mulheres e 105,1 por 100 mil homens, de acordo com registos populacionais. Os tipos de cancro mais frequentes diferem entre homens e mulheres, mas alguns padrões mantêm-se constantes. Entre as mulheres, o cancro do colo do útero lidera claramente, seguido pelo cancro da mama e pelo sarcoma de Kaposi, este último associado à infeção por VIH/SIDA. Já entre os homens, destacam-se o sarcoma de Kaposi, o cancro da próstata e o do fígado. O cancro cervical, por si só, é responsável por cerca de 5.325 novos casos e 3.850 mortes anuais.
Uma das razões para o elevado número de mortes está relacionada com o diagnóstico tardio. Muitos doentes chegam aos hospitais em estágios avançados, quando as opções de tratamento são mais limitadas e menos eficazes. Estudos mostram que apenas cerca de 3% das mulheres entre os 15 e os 64 anos já fizeram algum rastreio cervical na vida, uma taxa muito baixa, especialmente considerando que este tipo de cancro pode ser prevenido ou tratado com sucesso quando identificado precocemente. Fora dos grandes centros urbanos, o acesso a serviços de rastreio, diagnóstico e tratamento continua a ser limitado, criando desigualdades significativas entre regiões.
Dois fatores infecciosos pesam muito nesta realidade: o HPV (vírus do papiloma humano) e o VIH/SIDA. A elevada prevalência do HPV em mulheres jovens e a imunossupressão causada pelo VIH contribuem para acelerar a progressão de alguns tipos de cancro, nomeadamente o cervical e o Kaposi. Para tentar inverter esta tendência, Moçambique tem vindo a expandir a vacinação contra o HPV, focando-se em meninas dos 9 aos 14 anos. A medida é um passo importante, mas ainda enfrenta desafios logísticos e de cobertura, sobretudo em zonas rurais.
Apesar dos esforços do Programa Nacional de Controlo do Cancro, os recursos disponíveis continuam escassos. O país conta com poucos especialistas em oncologia e infraestruturas insuficientes para garantir tratamentos adequados a todos os pacientes. Serviços de radioterapia, por exemplo, estão concentrados em poucas unidades, obrigando muitos doentes a percorrer longas distâncias para conseguir atendimento. Os registos de cancro também não cobrem todo o território nacional, o que dificulta o planeamento eficaz de políticas públicas e a monitorização real da evolução da doença.
Combater o cancro em Moçambique passa por reforçar a prevenção, com ênfase no rastreio precoce e na vacinação; melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento em todo o território; e fortalecer a capacidade técnica e humana do sistema de saúde. Investir em campanhas de sensibilização pode ajudar a quebrar o silêncio em torno da doença, incentivando diagnósticos mais precoces. Paralelamente, ampliar os programas de vacinação contra o HPV é crucial para reduzir os casos futuros de cancro cervical, o mais letal entre as mulheres moçambicanas. A realidade do cancro no país é dura, mas não inevitável. Com uma combinação de políticas públicas robustas, educação comunitária e investimento em saúde, é possível reverter a curva e salvar milhares de vidas todos os anos.
Fonte: Nações Unidas Moçambique






