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Tuesday, October 7, 2025
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VIVER COM EPILEPSIA EM MOÇAMBIQUE: UMA LUTA DIÁRIA POR DIGNIDADE E CUIDADOS

Resumo

A epilepsia em Moçambique é uma doença estigmatizada e negligenciada, levando a exclusão social e falta de cuidados de saúde adequados. A desinformação persiste, associando a epilepsia a feitiçaria, o que gera medo e isolamento. Com falta de neurologistas, medicamentos e políticas públicas específicas, muitos pacientes não têm diagnóstico ou tratamento adequado. Nas zonas rurais, recorre-se frequentemente a curandeiros, atrasando o acesso a cuidados médicos. A escassez de sensibilização, profissionais e medicamentos agrava a exclusão. Iniciativas como o programa mhGAP têm efeitos limitados, evidenciando a necessidade de mais investimento e políticas consistentes. É crucial enfrentar a epilepsia em Moçambique não apenas com estatísticas, mas também considerando a exclusão social, o silêncio e a falta de políticas eficazes. É urgente encarar a epilepsia como um desafio tratável, não como sentença de exclusão.

Por: Lurdes Almeida

A epilepsia permanece entre as doenças neurológicas mais estigmatizadas e negligenciadas em Moçambique, apesar da sua elevada prevalência. Para milhares de moçambicanos, conviver com esta condição significa enfrentar, diariamente, não apenas as crises epilépticas, mas também, a exclusão social, o preconceito e a indiferença do sistema de saúde.

O problema começa na desinformação generalizada. Ainda hoje, muitos associam a epilepsia à feitiçaria ou castigo espiritual, o que causa o medo, o estigma e o isolamento social. Crianças são afastadas da escola, adultos perdem oportunidades de trabalho e algumas famílias vivem com vergonha e silêncio. Paralelamente, o sistema de saúde mostra-se despreparado para oferecer uma resposta adequada há escassez de neurologistas, insuficiência de medicamentos específicos e quase inexistência de políticas públicas direccionadas a esta condição.

Mais de 70% dos casos de epilepsia possam ser controlados com medicação adequada, muitos pacientes continuam sem diagnóstico ou acompanhamento médico regular. Nas zonas rurais, a doença é frequentemente associada a crenças místicas, levando inúmeras famílias a procurar curandeiros, o que atrasa o acesso a cuidados médicos apropriados. A falta de campanhas de sensibilização, o número extremamente reduzido de neurologistas e a escassez de medicamentos antiepilépticos só agravam este cenário de exclusão e negligência.

Moçambique enfrenta um cenário preocupante, onde a epilepsia não pode ser analisada isoladamente, mas sim em articulação com factores estruturais como a fragilidade do sistema nacional de saúde, as desigualdades no acesso entre áreas urbanas e rurais, e a persistência de crenças tradicionais profundamente enraizadas.

Embora iniciativas como o programa mhGAP tenham procurado integrar os cuidados em saúde mental e capacitar técnicos de saúde nas zonas mais remotas, os seus efeitos permanecem limitados e inconsistentes, revelando a necessidade urgente de maior investimento, monitoria e continuidade nas políticas públicas voltadas para as doenças neurológicas.

Portanto, abordar o actual estágio da epilepsia em Moçambique, vai muito além de analisar estatísticas de afectados ou vítimas; trata-se de compreender o peso da exclusão social, do silêncio imposto e da ausência de políticas públicas eficazes.

Em pleno século XXI, é inadmissível que milhares de moçambicanos continuem a viver marginalizados por uma condição que é, na maioria dos casos, tratável. A epilepsia não pode ser encarada como uma sentença de exclusão, mas sim como um desafio urgente a ser enfrentado com conhecimento, empatia e compromisso político efectivo.

 

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