Resumo
Nos últimos anos, vários países africanos têm sido palco de protestos motivados pela insatisfação popular. Em Madagáscar, a demissão do governo devido a cortes de água e eletricidade gerou revolta, liderada pela "Geração Z". Este descontentamento reflete uma juventude educada mas frustrada, devido à má governação, corrupção e desigualdades enraizadas. Em Nairobi, no Quénia, e em Angola, manifestantes exigem mudanças políticas e denunciam corrupção e más condições de vida. Estes protestos revelam décadas de exclusão social, nepotismo e promessas políticas vazias, num contexto onde a maioria vive na pobreza. A juventude africana exige um futuro com dignidade e justiça social, alertando os governos para a necessidade de agir com coragem e determinação, sob pena de perderem a confiança e estabilidade dos seus países.
Nos últimos anos, temos assistido a uma vaga de protestos em vários países africanos. O que à primeira vista pode parecer uma sucessão de episódios isolados revela um padrão alarmante de descontentamento colectivo. Nesse continente, o que se vê é uma juventude desesperada e sistemas políticos incapazes de responder às exigências mais básicas de dignidade e justiça.
O caso mais mediático dos últimos dias ocorreu em Madagáscar, onde o Presidente Andry Rajoelina se viu forçado a demitir o seu governo na sequência de protestos violentos, motivados por cortes constantes de água e electricidade, problemas crónicos que afectam o quotidiano da população há anos. Foi a chamada “Geração Z”, organizada sobretudo através das redes sociais, que catalisou a revolta. Esta geração, mais escolarizada e conectada, é também uma das mais frustradas, vê diante de si um futuro bloqueado por décadas de má governação, corrupção e desigualdades.
Mas Madagáscar não é caso único. As revoltas têm raízes profundas, decorrentes de um descontentamento acumulado ao longo de décadas. A população, sobretudo os jovens, já não acredita em promessas incumpridas, da corrupção endémica e das desigualdades sociais que persistem no país, mas onde a maior parte da população continua a viver na pobreza. Este contexto socioeconómico fragiliza o tecido social e torna as manifestações num grito de insatisfação contra todo um sistema político que se recusa a mudar.
Em Nairobi, capital do Quénia, os manifestantes exigiam então a transição para um sistema multipartidário, também a demissão do Presidente William Ruto, acusando-o de corrupção, má governação e de ser responsável pela degradação das condições de vida. O elevado custo de vida e a percepção de que o poder continua afastado das necessidades do povo alimentam uma indignação crescente, sobretudo entre os jovens urbanos.
Também em Angola, a explosão dos preços dos combustíveis, do transporte público e do ensino privado provocou uma vaga de manifestações.
Entretanto, importa perceber que estes protestos são muito mais do que reacções momentâneas a medidas impopulares. Representam o acumular de décadas de exclusão social, desigualdade, nepotismo e promessas políticas incumpridas. Em muitos destes países, os ganhos económicos beneficiam apenas uma elite, enquanto a maioria da população continua a viver com menos de um dólar por dia, sem acesso a serviços básicos de qualidade.
O desespero que ecoa pelas ruas africanas é um alerta claro de que o tempo das promessas vazias acabou. Se os governos persistirem na inércia e na corrupção, se arriscarão a perder não só a confiança do povo, mas a própria estabilidade dos seus países. A juventude africana, mais preparada e consciente do que nunca, não vai aceitar continuar a ser refém de sistemas injustos.
Está na hora de se ouvir verdadeiramente este clamor e de se agir com coragem e determinação para construir um futuro em que a dignidade, a justiça social e o desenvolvimento sejam uma realidade para todos e não um privilégio para poucos. Se tal não acontecer, os protestos continuarão a surgir, cada vez mais intensos, cada vez mais frequentes. E, como a história também nos recorda, quando um povo perde o medo, os muros mais altos caem com o estrondo mais forte.