Uma mulher suspeita que o filho tenha sido morto por militares e enterrado na Base de Fuzileiros Navais na cidade de Pemba. Desesperada, a mulher pede que se faça a exumação do corpo, para realizar um funeral condigno.
Uma mulher, na província de Cabo Delgado, Norte do país, reclama do desaparecimento do seu filho, Adilson Adrião, que saiu de casa no dia 22 de Março de 2024 e nunca mais foi visto pela família.
“Tinha um filho de mais ou menos 25 anos, chamado Adilson Adrião, mais conhecido por Bonguile, que depois fez algumas amizades com alguns militares lá do quartel de Maringanha e passaram a frequentar lá a casa. Passado algum tempo, eles andavam sempre juntos e, num dia desses, saíram durante a noite, conforme algumas testemunhas lá do bairro, que dizem que foram para um pequeno restaurante, consumiram bebidas alcoólicas e acabaram indo lá para o quartel”, conta Ester Langa, mãe de Adilson.
O caso foi apresentado à polícia, ao Serviço Nacional de Investigação Criminal e até ao secretário de Estado na província, mas, por falta de uma resposta, a mãe de Adilson Adrião decidiu investigar pessoalmente o desaparecimento do filho.
Da investigação pessoal que fez, Ester Langa diz que quando Adilson entrou para o quartel não saiu, porque acabou dormindo nas camaratas e na manhã seguinte, quando acordaram, era a única pessoa que não tinha uniforme e, não tendo uniforme, foi questionado quem era.
Segundo a mãe do Adilson, ele tentou-se explicar, “disse que morava ali no bairro e que foi para lá com os amigos que eram Beltrano e Sicrano, que eu não conheço os nomes”.
Ester conta ainda que o comandante terá questionado aos tais amigos do Adilson e estes negaram a amizade. “Então, o comandante disse ‘se vocês não o conhecem, atirem nele’. E os dois atiraram, à queima-roupa”, sugere Ester Langa.
Segundo revelaram testemunhas, os supostos fuzileiros navais eram amigos e frequentavam a casa de Adilson Adrião, mas, desde que o jovem foi dado como desaparecido, os mesmos também nunca mais foram vistos.
“Até a vez que eu saía de lá, o Rui lhe aconselhava que não era bom se aproximar dos militares, porque militar não é irmão, militar já é coisa de outro comportamento, porque você vai-lhe suportar como militar, aí pode vir a confusão. Eles não vinham com fardamentos, mas vinham aqui beber com ele, até chegavam aqui na praia, beber com eles, até seus amantes”, contou uma das testemunhas.
Outra testemunha que também falou na condição de anónimo disse que depois do sucedido os amigos militares nunca mais voltaram. “Ninguém, nenhum militar que chegou aqui a perguntar ‘aquele meu amigo está onde?’, ninguém, ninguém. A partir desse dia, dia 22 de Abril, até hoje, ninguém, mesmo um deles, amigos que veio aqui, procurar saber”, disse.
Além do assassinato, a mãe de Adilson Adrião suspeita que haja uma queima de arquivo para se esconder a verdade sobre o caso. “Atendendo à época em que o assunto aconteceu, foi naquela mesma época em que morreram aqueles dois taxistas, porque um deles era o taxista que levava o meu filho para fazer refeições aqui, na cidade. E os dois militares, segundo o meu advogado, os dois militares também que andavam com ele, depois que começaram as investigações da SERNIC, os dois militares também estão desaparecidos”, revela, acrescentado que as certidões de óbito dos dois estão anexadas ao processo que está no tribunal e na procuradoria.
Os Serviços de Investigação Criminal de Cabo Delgado confirmam a recepção da denúncia sobre o desaparecimento de Adilson Adrião e ainda têm esperança de encontrar o jovem ainda vivo, segundo disse Amélio Sola.
“O Serviço Nacional de Investigação Criminal, de facto, no dia 13 de Maio do ano 2024, recebeu uma denúncia proveniente de uma cidadã moçambicana que diz chamar-se de Ester, onde nesta denúncia vinha relatar sobre o facto de que teria desaparecido um cidadão, por sinal o seu filho, no bairro de Maringanha. Após recebermos essa denúncia começámos a fazer o seguimentos dos factos e até então, o órgão de SERNIC, desde a ocorrência desta denúncia, estamos preocupados e estamos a trabalhar nesse sentido de podermos localizar o saber do paradeiro do cidadão em causa, e estamos a trabalhar para ver se podemos, o mais rápido possível, trazer ao convívio familiar”, prometeu o porta-voz do SERNIC em Cabo Delgado.
Para não comprometer as investigações, o SERNIC não revelou detalhes sobre o caso nem reagiu sobre as suspeitas levantadas pela mãe de Adilson. “Bem, tratando-se de um processo que está na fase de instrução, este goza do direito de sigilo profissional, que não podemos revelar todas as espécies dos expedientes que já estão arroladas no processo, para que não possa dificultar o trabalho operativo que está a fazer, para esclarecimento do caso”, disse Amélio Sola.
A Base de Fuzileiros Navais confirmou, através de um documento enviado à secretaria do bairro de Maringanha, que Adilson Adrião esteve na companhia de dois dos seus elementos no dia do seu desaparecimento, mas nega que o jovem desaparecido tenha entrado no quartel da Marinha de Guerra.
“Após averiguação interna, apurou-se que, por volta das 23 horas do dia 22 de Março de 2024, o militar e o cidadão em causa saíram da barraca em jeito de despedida, mas após atravessar a estrada principal cada um seguiu o seu caminho, tendo o cidadão Adilson seguido em direcção à Universidade Lúrio. No âmbito das actividades diárias operacionais, a equipa de serviço não relatou nenhum movimento estranho dentro da unidade”, escreve a Base de Fuzileiros Navais de Cabo Delgado.
A mãe de Adilson Adrião vive desesperada e agora, além de justiça, pede pelo menos a exumação do corpo para conceder um funeral condigno ao filho. “O meu maior desejo é que a justiça seja feita e que pelo menos façam a entrega do corpo que é para eu poder dar um enterro condigno ao meu filho, porque sendo assim eu não hei de ter uma paz de espírito e não hei de conseguir ter sossego, não só psicológico, mas também emocionalmente, assim como físico”, frisou Ester Langa.
Na altura do seu desaparecimento, Adilson Adrião tinha 24 anos de idade e a mãe estava na Bélgica, onde vive há vários anos.