Após atingir máximo histórico, o metal precioso estabiliza ligeiramente, impulsionado pela expectativa de cortes nas taxas de juro da Reserva Federal e pela persistente procura de segurança financeira.
O preço do ouro manteve-se nesta terça-feira, 21 de Outubro de 2025, acima dos 4.340 dólares por onça, após ter atingido um recorde histórico de 4.381,21 USD na sessão anterior.
A ligeira descida resulta de movimentos de realização de lucros e de um abrandamento momentâneo das compras de activos-refúgio, num contexto em que os investidores antecipam novos cortes de juros pela Reserva Federal (Fed) e aguardam dados cruciais sobre a inflação norte-americana.
Lucros Realizados, Mas Sentimento Continua Positivo
Segundo a Reuters, o ouro de referência spot recuou 0,3%, para 4.340,99 USD/oz, enquanto os futuros de Dezembro ficaram praticamente estáveis em 4.357,80 USD/oz.
O analista-chefe da KCM Trade, Tim Waterer, explicou que “os movimentos de realização de lucros e o abrandamento da procura de refúgio retiraram algum ímpeto à subida”, mas sublinhou que qualquer recuo deverá ser visto como oportunidade de compra enquanto o Fed mantiver o actual ciclo de descida das taxas de juro.
O mercado já desconta dois cortes adicionais de 0,25 p.p. até Dezembro, segundo a ferramenta CME FedWatch, o que tende a beneficiar activos não-remunerados como o ouro.
Fed, Inflação e Dólar: O Triângulo Que Define a Tendência
A actual trajectória do ouro está fortemente ligada à política monetária norte-americana.
Com a inflação dos EUA prevista em torno de 3,1% em termos homólogos, e os indicadores de actividade a mostrar desaceleração, o consenso aponta para um ambiente de taxas mais baixas e enfraquecimento adicional do dólar — factores que sustentam a valorização do metal.
A incerteza provocada pelo shutdown parcial do governo dos EUA, que atrasou a divulgação de dados macroeconómicos, acrescenta volatilidade e aumenta a procura por activos tangíveis.
Tensões Comerciais E Contexto Geopolítico Favorecem Procura De Refúgio
Os receios de escalada comercial entre Washington e Pequim, com novas tarifas em discussão, reforçam a aversão ao risco e impulsionam o apetite pelo ouro.
Simultaneamente, os bancos centrais de economias emergentes continuam a expandir as suas posições em ouro como forma de diversificar reservas e reduzir a exposição cambial ao dólar.
Este movimento é reforçado pela forte entrada de capitais em fundos cotados em ouro (ETFs) e pela procura física robusta na Ásia, particularmente na Índia e na China, principais consumidores mundiais do metal.
Mercado De Metais: Ouro Em Alta, Prata E Platina Em Correcção
Em contraste com o ouro, outros metais preciosos registaram ligeiras perdas:
A diferença de comportamento reflecte a natureza distinta da procura — enquanto o ouro responde a factores financeiros e monetários, os restantes metais dependem fortemente do ciclo industrial global, actualmente em abrandamento.
Reflexos e Oportunidades Para Economias Emergentes
A actual valorização cria ganhos significativos para países exportadores de ouro, que podem usar as receitas adicionais para reforçar reservas internacionais e financiar programas de investimento sustentável.
Por outro lado, o aumento dos preços reforça a percepção do ouro como activo estratégico de cobertura cambial, essencial para gestão de risco macroeconómico em economias dependentes de matérias-primas.
Especialistas sugerem que África, e em particular Moçambique, deve reforçar as políticas de diversificação e captação de investimento mineiro, aproveitando o ciclo positivo do ouro para dinamizar parcerias público-privadas e projectos de exploração sustentável.
Perspectivas: Ouro Como Âncora De Estabilidade Num Mundo Incerto
Os analistas convergem que, salvo surpresas na inflação norte-americana, o ouro manterá suporte acima dos 4.300 USD/oz até ao final do trimestre.
A médio prazo, a combinação de taxas em descida, dólar enfraquecido e incerteza geopolítica deverá sustentar preços elevados, podendo gerar novos máximos históricos se o ciclo de afrouxamento monetário se confirmar.
“O actual rally do ouro ainda tem espaço para avançar, desde que os dados de inflação não tragam surpresas negativas”, sublinhou Tim Waterer.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Num contexto de desconfiança sobre activos financeiros tradicionais, o ouro reafirma-se como o denominador comum da segurança financeira global — um refúgio de valor que resiste ao tempo e às incertezas do mercado.
Fonte: O Económico