Resumo
A digitalização do ensino em Moçambique avançou com a introdução de tecnologias em escolas secundárias urbanas, universidades e instituições técnicas, mas enfrenta desafios. A cobertura de internet é limitada, o custo dos dados móveis é elevado e muitas escolas públicas, especialmente nas zonas rurais, carecem de energia elétrica e equipamentos básicos. A falta de um plano nacional coordenado resulta em progresso desigual entre províncias, com experiências mais consistentes nas zonas urbanas e um ensino tradicional sem integração tecnológica nas zonas rurais. A formação de professores, a produção de conteúdos adaptados e a manutenção dos equipamentos são essenciais para uma educação digital eficaz e inclusiva em Moçambique, que necessita de uma abordagem gradual e sustentável para alcançar um impacto nacional significativo.
A digitalização do ensino tornou-se parte da agenda educativa em vários países africanos, incluindo Moçambique. Nos últimos anos, multiplicaram-se iniciativas públicas e privadas que procuram introduzir tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Em algumas escolas secundárias urbanas foram instaladas salas informatizadas, certas universidades utilizam plataformas de ensino à distância e surgiram projectos tecnológicos educativos em instituições técnicas e centros comunitários.
Entretanto, os dados sobre acesso mostram uma realidade fragmentada. A cobertura de internet ainda é limitada em grande parte do território e o custo dos dados móveis continua elevado para a maioria das famílias. Em várias escolas públicas, sobretudo nas zonas rurais, a falta de energia eléctrica e de equipamentos básicos condiciona qualquer possibilidade de implementação de programas digitais.
A educação digital exige, alem de equipamentos, infraestruturas fiáveis, formação contínua de professores e conteúdos pedagógicos adaptados ao contexto moçambicano. Países africanos que avançaram nesta área seguiram um modelo progressivo, começando pela formação docente, padronização de conteúdos e criação de redes escolares com conectividade estável.
Em Moçambique, a maioria das iniciativas ocorre de forma isolada e com forte dependência de parceiros externos. A ausência de um plano de implementação articulado a nível nacional faz com que cada província avance de forma desigual. Nas zonas urbanas observam-se experiências mais consistentes, enquanto nas zonas rurais prevalece um ensino tradicional, sem integração tecnológica. A falta de manutenção dos equipamentos instalados dificulta a continuidade dos projectos, resultando em salas de informática que rapidamente se tornam inoperacionais.
A educação digital é frequentemente apresentada como um objectivo estratégico, mas a sua execução ainda não acompanha a dimensão do desafio. A prioridade tem recaído na aquisição de equipamentos, deixando em segundo plano a formação de professores e a criação de conteúdos alinhados ao currículo nacional.
Também se observa uma limitada valorização das especificidades linguísticas e socioculturais do país. A maioria dos materiais educativos digitais encontra-se em português formal, pouco acessível para muitos alunos cujo processo de aprendizagem ocorre em contextos bilingues. Sem adaptação linguística e pedagógica, a tecnologia não cumpre o papel de reduzir desigualdades, tende a ampliá-las.
A educação digital em Moçambique situa-se entre o possível e o incerto. Existem avanços pontuais que comprovam a viabilidade desta transformação, mas faltam bases sólidas para que tenha alcance nacional. O progresso dependerá de uma estratégia consistente que priorize infraestruturas, formação de professores, produção de conteúdos adequados e mecanismos de acompanhamento contínuo.
A digitalização do ensino pode contribuir para melhorar a qualidade educativa e ampliar oportunidades de aprendizagem. Para tal, precisa de ser tratada como processo gradual, planeado e sustentável.






