Resumo
Nos últimos anos, o continente africano tem sido marcado por uma série de golpes de Estado e tentativas de tomada de poder, evidenciando uma instabilidade política que ameaça o desenvolvimento e a democracia. Países como Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Sudão, Guiné-Conacri e Madagáscar têm sido palco de regimes derrubados por militares desde 2020, com justificações como combate à corrupção e insegurança. A região do Sahel tornou-se um "cinturão de golpes", onde a ameaça jihadista e descontentamento popular são usados para legitimar intervenções militares. A instabilidade alastrou-se para além do Sahel, com casos em Gabão, Níger e até rumores de golpe na Nigéria, refletindo desconfiança entre o poder político e as forças armadas. A corrupção e desigualdades têm alimentado estas rupturas militares em África.
Nos últimos anos, o continente africano tem sido palco de uma sucessão preocupante de golpes de Estado e tentativas de tomada de poder, revelando um padrão de instabilidade política que ameaça o desenvolvimento e a consolidação da democracia. Do Sahel ao Oceano Índico, multiplicam-se os episódios em que as forças armadas assumem o controlo, justificando a acção com o combate à corrupção, à insegurança ou à má governação.
Desta feita, países como Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Sudão e Guiné-Conacri figuram entre os casos mais recentes e marcantes de regimes derrubados por via militar desde 2020. A região do Sahel, em particular, transformou-se num verdadeiro “cinturão de golpes”, onde a ameaça jihadista e o descontentamento popular são frequentemente utilizados como pretexto para legitimar intervenções das forças armadas. Em todos esses casos, as promessas de transição através de eleições têm sido sucessivamente adiadas.
No entanto, a onda de instabilidade não se limita ao coração do continente. Madagáscar foi recentemente palco de um golpe militar em outubro de 2025, quando o então presidente Andry Rajoelina foi destituído após semanas de protestos liderados por jovens. A intervenção militar, justificada como resposta ao “caos político e social”, resultou na ascensão do general Michael Randrianirina como presidente interino, levando a União Africana a suspender o país do seu seio até o restabelecimento da ordem constitucional. O episódio revela que a instabilidade africana já não está confinada ao Sahel, alastrando-se também a regiões outrora consideradas seguras.
Por conseguinte, outros países de peso também têm sentido o impacto dessa tendência. Em Gabão, em 2023, o exército destituiu Ali Bongo Ondimba poucas horas após sua reeleição, alegando irregularidades eleitorais. Em Níger, o presidente Mohamed Bazoum foi deposto em julho do mesmo ano, encerrando um raro período de governação. Até mesmo a Nigéria, a maior economia do continente, viveu recentemente rumores de uma tentativa de golpe, prontamente negada pelas autoridades, mas que expôs o clima de desconfiança entre o poder político e as forças armadas.
Por fim, observa-se que esses países partilham características comuns que ajudam a compreender a reincidência dos golpes, a corrupção e a frustração social alimentada por desigualdades profundas criaram terreno fértil para rupturas militares nestes países.






