Resumo
A cidade de Houston, nos EUA, foi palco da assinatura de dois memorandos de entendimento entre a ExxonMobil e a ENH de Moçambique, no valor de 50 milhões de dólares, para criar um Centro Tecnológico de Formação de Jovens Moçambicanos e financiar estudos de viabilidade para projetos de gás doméstico. Moçambique reforça assim a sua posição no setor energético, apostando na valorização do capital humano e na diversificação da economia. O primeiro memorando prevê a construção de um centro tecnológico em Maputo, formando jovens em petróleo e gás. O Presidente moçambicano destacou a importância do investimento para preparar técnicos locais para o mercado global, com formação em inglês e padrão internacional, visando a integração no setor energético.
O evento decorreu num momento em que o país reforça a sua posição entre os dez principais players mundiais do gás natural e reafirma a sua aposta em transformar o potencial energético em capital humano e desenvolvimento sustentável.
O primeiro memorando, avaliado em 40 milhões de dólares, marca o início de um projecto que pretende criar um centro tecnológico moderno na zona do Zimpeto, na cidade de Maputo. A infraestrutura, acolherá jovens de todas as províncias do país, oferecendo formação técnica na área do petróleo e gás, com foco nas operações offshore e onshore.
O Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, descreveu o projecto como “um investimento estruturante, que traduz o compromisso da ExxonMobil com o futuro de Moçambique”. O centro deverá iniciar a sua construção no próximo ano e arrancar as formações com uma primeira turma de 100 jovens, provenientes de todas as províncias. “Cada província vai enviar dez jovens, num total de 100 formandos. O centro será completo, com salas de aulas, espaços de simulação, alojamento, ginásio, refeitório e um centro de saúde, permitindo que os formandos vivam e estudem no mesmo espaço durante três anos”, explicou o Chefe de Estado.
O objectivo é garantir a transferência de tecnologia e conhecimento de ponta das multinacionais para os técnicos moçambicanos. “Moçambique é hoje um dos dez principais países do mundo na área do gás natural, e esse estatuto impõe responsabilidades. Precisamos de engenheiros moçambicanos qualificados, preparados para trabalhar nas operações de empresas como a ExxonMobil e em outras companhias internacionais. Este centro é um passo essencial nessa direcção”, sublinhou Chapo.
A formação incluirá também o ensino intensivo da língua inglesa, como ferramenta essencial para preparar os formandos para o mercado global. “Queremos que estes jovens possam trabalhar não apenas em Moçambique, mas em qualquer parte do mundo. Eles serão técnicos com padrão internacional, aptos para operar em plataformas e projectos em todo o continente africano e fora dele”, destacou o Presidente.
O centro, quando atingir a sua plena capacidade, deverá formar cerca de 250 jovens por ano, o que significa que, em quatro anos, mil técnicos moçambicanos estarão prontos para integrar o mercado energético. Para Chapo, “o principal recurso que Moçambique tem para desenvolver-se é o capital humano, e este investimento representa uma aposta directa nesse recurso”.
O segundo memorando, avaliado em 10 milhões de dólares, destina-se a financiar estudos de viabilidade para o uso do gás doméstico, com foco na criação de projectos industriais e energéticos liderados pela ENH. “A nossa empresa nacional de hidrocarbonetos tem 25% do gás explorado reservado para uso doméstico. É preciso maximizar o seu aproveitamento, transformando-o em fertilizantes, energia eléctrica, gás de cozinha ou outros produtos com valor agregado”, explicou o Presidente.
Segundo Chapo, a ExxonMobil e os seus parceiros vão apoiar a ENH na realização de estudos técnicos que permitam materializar projectos estratégicos em torno desse gás doméstico. “Falamos de 10 milhões de dólares para estudos de viabilidade que ajudarão a desenhar as melhores formas de utilização deste recurso. Queremos garantir que o gás sirva o país, impulsione a industrialização e contribua para a diversificação económica”, disse.
Os dois memorandos, juntos, representam mais do que simples financiamentos. Para o Presidente da República, tratam-se de “um sinal forte de confiança da ExxonMobil no potencial de Moçambique e no compromisso do Governo em criar condições favoráveis para o investimento”.
O Chefe de Estado destacou que os acordos traduzem um modelo de parceria inteligente, baseado na partilha de conhecimento e na geração de oportunidades concretas para os moçambicanos. “A ExxonMobil é uma das maiores empresas de energia do mundo. O facto de investir na formação de jovens moçambicanos e no aproveitamento do gás doméstico mostra que acredita no futuro do país”, afirmou.
Chapo explicou ainda que o impacto dos projectos vai muito além do sector energético. “Estes investimentos vão gerar emprego, receitas fiscais e impulsionar o crescimento das pequenas e médias empresas que prestam serviços aos megaprojectos. Na fase de construção, estima-se que cerca de 40 a 50 mil trabalhadores estejam envolvidos. E quando começarem a operar, haverá novas oportunidades em toda a cadeia de valor”, adiantou.
O Presidente sublinhou que, com mais projectos de gás a avançarem, Moçambique poderá consolidar-se como um fornecedor estável de energia na África Austral. “Há défices de energia na África do Sul, Zimbábue, Zâmbia, Malawi e Eswatini. Com o nosso gás, podemos construir novas centrais eléctricas e linhas de transmissão para exportação, captando mais receitas em moeda estrangeira e fortalecendo a nossa economia”, declarou.
Chapo lembrou também que o país tem metas claras para o uso das receitas provenientes do gás. “Queremos diversificar a economia. O gás será a base, mas as receitas que ele gerar devem ser investidas em agricultura, turismo e infraestruturas. Precisamos de estradas, energia, água e portos para apoiar a produção agrícola e desenvolver zonas turísticas. O crescimento económico só é sustentável se for acompanhado por investimento social e inclusão”, reforçou.
O Presidente fez ainda questão de destacar a dimensão social da estratégia governamental. “O desenvolvimento só faz sentido se chegar às pessoas. Queremos usar os recursos provenientes destes projectos para construir mais escolas, melhorar os hospitais, garantir medicamentos e livros escolares, apoiar idosos, mulheres e crianças. O crescimento económico tem de se traduzir em qualidade de vida para o povo moçambicano”, frisou.
A assinatura dos memorandos ocorre num momento em que Moçambique dá passos firmes na implementação dos seus grandes projectos de gás, incluindo o Coral Norte, recentemente aprovado, com uma previsão de investimento de 7 mil milhões de dólares. O Governo espera que, com o avanço destas iniciativas, o país venha a arrecadar cerca de 23 mil milhões de dólares em receitas nos próximos anos.
Com este movimento, Moçambique prepara-se para entrar numa nova fase do seu desenvolvimento energético e industrial. A criação do centro tecnológico e o uso estratégico do gás doméstico mostram que o país não quer apenas extrair recursos, mas transformá-los em oportunidades tangíveis para o seu povo.
Como concluiu o Presidente da República, “o que estamos a fazer hoje é garantir que o gás, a energia e o conhecimento se transformem em progresso e bem-estar. É disso que depende o futuro de Moçambique.”
Fonte: O País

 
                                    
