Resumo
O Representante Residente do FMI em Moçambique, Olamide Harrison, destaca a necessidade de reformas fiscais, cambiais e estruturais para manter a estabilidade económica. Apesar dos sinais de recuperação económica no país, o FMI alerta para a importância de medidas como rigor fiscal, flexibilidade cambial e reformas estruturais para garantir a sustentabilidade. Harrison sublinha a importância de uma consolidação fiscal equilibrada, protegendo os gastos sociais e promovendo um crescimento inclusivo. O FMI também aponta a necessidade de uma maior flexibilidade da taxa de câmbio para corrigir desequilíbrios externos e impulsionar o crescimento económico, destacando a importância de atrair investimento estrangeiro.
Em entrevista ao podcast Belchior Notes, do economista Oldemiro Belchior, posteriormente exibida no Semanário Económico, o Representante Residente do FMI, Olamide Harrison, traça o diagnóstico da economia moçambicana e defende reformas fiscais, cambiais e estruturais para sustentar a estabilidade e a confiança.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece sinais de retoma económica em Moçambique, mas adverte que a sustentabilidade dessa trajectória depende de rigor fiscal, flexibilidade cambial e reformas estruturais.
O diagnóstico foi partilhado por Olamide Harrison, Representante Residente do FMI, em entrevista ao economista Oldemiro Belchior no podcast Belchior Notes, posteriormente exibida no Semanário Económico, numa conversa que lança luz sobre os desafios e as oportunidades da economia moçambicana.
Retoma Económica em Marcha, mas Ainda Frágil
Após três trimestres de contracção, Moçambique começa a mostrar sinais de recuperação, sustentados pela descida da inflação e pela flexibilização da política monetária.
“Estamos a ver uma recuperação gradual da economia depois de uma queda acentuada do PIB entre Outubro de 2024 e Março de 2025”, afirmou Olamide Harrison, sublinhando que a política adoptada pelo Banco de Moçambique, ao reduzir a taxa MIMO em 750 pontos base, foi “decisiva para restaurar a confiança”.
Apesar do alívio monetário, o representante do FMI alerta que a dívida pública continua elevada, impulsionada por défices persistentes e empréstimos domésticos de curto prazo.
“Moçambique tem registado défices fiscais médios de 5,5% desde 2020. O custo do financiamento interno aumentou, e isso impõe riscos de refinanciamento e sustentabilidade. É necessária uma consolidação fiscal antecipada e corajosa”, frisou.
Disciplina Fiscal com Rosto Social
Harrison enfatiza que a consolidação fiscal não pode ser sinónimo de austeridade, mas de reorientação inteligente da despesa pública.
“A prioridade é colocar a dívida numa trajectória descendente, mas protegendo os gastos sociais e as famílias mais vulneráveis. O crescimento inclusivo só é possível se o ajustamento for equilibrado.”
O FMI recomenda uma gestão orçamental que contenha a despesa corrente e privilegie investimentos com retorno económico e social, assegurando um espaço fiscal sustentável para sectores como educação, saúde e infra-estruturas produtivas.
Pressões Cambiais e o Debate Sobre o Metical
O Fundo alerta para o impacto das restrições cambiais sobre a actividade económica, defendendo uma maior flexibilidade da taxa de câmbio como mecanismo de correcção de desequilíbrios externos.
“A taxa de câmbio oficial manteve-se praticamente fixa desde 2021, o que sobrevalorizou o metical e afectou a competitividade das exportações. A rigidez cambial está a limitar o crescimento e a dificultar a entrada de investimento”, observou Harrison.
O representante defende que o mercado cambial deve “reflectir as reais condições de oferta e procura”, permitindo atrair capital estrangeiro e reduzir as pressões sobre o mercado paralelo de divisas.
Coerência Entre Política Fiscal e Monetária
Para o FMI, a política monetária do Banco de Moçambique tem sido “consistente e prudente”, mas falta melhor coordenação com a política orçamental.
“A descida das taxas de juro é bem-vinda, mas o crédito ao sector produtivo continua limitado. É preciso coerência entre as políticas para que a retoma se traduza em crescimento real”, observou Harrison.
O economista defende ainda uma revisão das reservas obrigatórias e melhores incentivos ao crédito às empresas, de modo a potenciar o investimento e o emprego.
Novos Instrumentos Financeiros e Reformas Estruturais
O FMI elogia o esforço do Governo em criar instrumentos inovadores de financiamento, como o Banco de Desenvolvimento de Moçambique (BDM), o Fundo de Garantia Mutuária (FGM) e o Fundo de Desenvolvimento Económico Local (FDEL), mas adverte que a sua eficácia dependerá da estabilidade macroeconómica e da confiança institucional.
“Estes mecanismos são promissores, mas só terão impacto num ambiente previsível, com contas públicas sólidas e credibilidade fiscal. O custo do crédito às empresas depende directamente do risco soberano”, advertiu Harrison.
Crescimento Moderado e Perspectiva Positiva de Cooperação
O FMI prevê uma recuperação moderada em 2026, com crescimento de cerca de 3% e inflação num só dígito, mas salienta que o sucesso dependerá da execução orçamental do próximo ano e do avanço das reformas estruturais.
“Há sinais de recuperação, mas ela será gradual. O essencial é manter a consistência das políticas e a transparência das contas públicas”, enfatizou.
Harrison confirmou ainda que as negociações com o Governo para um novo programa do FMI decorrem “num ambiente de confiança e diálogo construtivo”, com o objectivo de restaurar a estabilidade macroeconómica, gerar emprego e impulsionar um crescimento inclusivo.
Entre o Rigor e a Esperança
Gravada originalmente para o podcast Belchior Notes, do economista Oldemiro Belchior, e posteriormente transmitida no Semanário Económico, esta entrevista constitui um contributo relevante para o debate nacional sobre as opções de política económica e os desafios da estabilidade macroeconómica em Moçambique.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>“A estabilidade macroeconómica não é um fim em si mesma — é o alicerce de um crescimento sustentável e inclusivo”, sintetizou Olamide Harrison, num apelo à confiança e à coerência de políticas para o futuro da economia moçambicana.
Fonte: O Económico





