Resumo
Governo anuncia redução da desnutrição crónica em crianças menores de cinco anos em Moçambique, de 43% para 37% nos últimos 10 anos, mas a FDC questiona a veracidade dos dados devido ao aumento da pobreza no país. O encontro da Fundação para Desenvolvimento da Comunidade reuniu Governo, SETSAN e UNICEF para debater a questão, destacando que as províncias da Zambézia, Niassa, Nampula e Cabo Delgado têm os índices mais altos de desnutrição. Judith Mussacula, do SETSAN, confirmou a redução, mas a FDC, liderada por Graça Machel, contesta os números, apontando um aumento da pobreza para 67% em 2024. A desnutrição crónica em crianças menores de cinco anos em Moçambique continua a ser um tema debatido, com a necessidade de compreender o progresso real e global no país.
A questão da desnutrição crónica em crianças menores de cinco anos em Moçambique continua a ser motivo de debates em vários fóruns, mesmo para perceber o nível de redução anunciado pelo Governo em meados do ano, mas também para ver o real posicionamento dessa redução em termos globais no país.
Segundo o Governo houve uma redução de 6% da taxa de desnutrição crónica em menores de idade no país, nos últimos 10 anos, o que representa um progresso significativo no combate a este mal.
Ou seja, de 2013 a esta parte a desnutrição crónica em crianças com menos de cinco anos baixou de 43% para 37%, segundo o Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional, SETSAN.
“Nos últimos 10 anos, a taxa de desnutrição crônica em crianças menores de 5 anos de idade reduziu de 43% para os actuais 37%, segundo o IDS 2022-2023. Os níveis ainda são muito altos, segundo os parâmetros aceitáveis estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, que estão abaixo de 20%”, confirmou Judith Mussacula, Secretária Executiva do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN) em Moçambique.
O anúncio foi feito durante o Seminário Multissectorial de Nutrição, nesta quinta-feira, em Maputo, promovido pela Fundação para Desenvolvimento da Comunidade, onde apontou-se que as províncias da Zambézia, Niassa, Nampula e Cabo Delgado têm índices mais altos de desnutrição.
“Como é o caso de Nampula, com 47%, seguido da província de Cabo Delgado, vamos depois a Zambézia, e temos a província de Niassa, também não está bem. Mas as províncias do centro estão a descer dos 40 para mais ou menos os 30%, mas estes números não são bons. Significa que entre 100 crianças, 47 crianças não estão em condições de aprender a ler e escrever”, frisou Judith Mussacula.
FDC QUESTIONA VERACIDADE DOS NÚMEROS
A Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, FDC, promotora do Seminário Multissectorial de Nutrição, que debateu o tema “Da Evidência à Acção: Nutrição para o Desenvolvimento Humano e Justiça Social”, questiona os números apresentados, afirmando que estes não refletem a realidade do país.
De acordo com Graça Machel, Presidente do Conselho de Administração da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, os números são trazidos numa altura em que a pobreza tem vindo a aumentar, tendo passado de 46% em 2015, para 67% em 2024.
“Eu, com os exemplos que eu dei aqui, nas aldeias, aqui mesmo nos subúrbios de Maputo, não é verdade. Não é verdade que a coisa pode ter diminuído. As pessoas estão a passar fome, nós sabemos disso”, disse Machel.
Para sustentar a sua tese, Graça Machel deu exemplos do que a FDC tem estado a acompanhar em vários locais onde trabalha. “As pessoas não têm comida. As pessoas que têm comida não usam a comida com a qualidade necessária para nós vencermos a desnutrição. Essa é a realidade”, frisou.
A activista social diz que se deve fazer mais para que efectivamente os números possam reflectir a realidade das crianças moçambicanas. “Eu exijo que nós partamos da realidade concreta para planificarmos as acções daqui para frente”, pediu Graça Machel.
A UNICEF, representada no evento ao mais alto nível de representação no país, reconhece os desafios que a desnutrição crónica em crianças com menos de cinco anos representa para as autoridades nacionais e não só, mas alerta para a necessidade de maior investimento no sector.
“Acima de 80% das crianças entre 6 e 23 meses não têm acesso a uma dieta diversificada. E uma em cada três raparigas dos 15 aos 19 anos já tiveram um filho. E dentre as raparigas desta faixa etária, acima de 50% sofre de anemia”, revelou Mary Eagleton, representante do UNICEF em Moçambique, mostrando-se preocupada com a situação.
Apesar da melhoria em termos numéricos, os níveis de desnutrição ainda são considerados altos, ultrapassando o limite de 20% considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde.
Recentemente, a primeira-ministra de Moçambique, Benvinda Levi, destacou que os desastres naturais “intensos e cíclicos” como secas, inundações e ciclones tropicais contribuem para os elevados índices de desnutrição crónica infantil, principalmente nas províncias do centro e norte do país.
Para enfrentar o problema, o Governo moçambicano implementou a Política e Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional (PESAN) 2024-2030, que conta com o envolvimento de vários actores, desde o próprio Governo, a sociedade civil, o sector privado e academia.
Apesar das divergências, o consenso entre Governo e parceiros é que combater a desnutrição infantil continua a ser um dos maiores desafios para o desenvolvimento humano e social do país.
Fonte: O País






