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Tuesday, November 11, 2025
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Moradores de Muchire em Inhambane interrompem obras de água e exigem energia elétrica

Resumo

Moradores de Muchire, em Inhambane, interrompem obras de perfuração de furos de água em protesto pela falta de energia elétrica na comunidade. Exigem que a Empresa Águas da Regiões Sul (AdRS) forneça eletricidade às suas casas, alegando anos de pedidos ignorados. O protesto paralisou os trabalhos da empresa, que pretendia reforçar o abastecimento de água na cidade. Os residentes afirmam que a empresa explora os recursos locais sem beneficiar a comunidade, recusando-se a sair do local até que a energia seja ligada. Apesar do tom firme, garantem não pretender destruir nada, apenas lutar pela luz que lhes é negada há tanto tempo.

O sol ainda mal nascia sobre o bairro de Muchire, na cidade de Inhambane, quando dezenas de moradores decidiram interromper as obras de perfuração de furos de água em protesto contra aquilo que dizem ser o esquecimento prolongado por parte das autoridades.
Com semblantes de revolta e cansaço acumulado, os residentes erguem uma exigência simples, mas carregada de simbolismo: querem energia elétrica. Afirmam estar cansados de viver às escuras, enquanto veem as máquinas do empreiteiro contratado pela Empresa Águas da Regiões Sul (AdRS) a trabalhar com energia na mesma zona, sem qualquer benefício direto para a comunidade.

A fúria não surgiu do nada. Segundo os populares, há anos pedem a expansão da corrente elétrica para as suas casas, mas garantem que os pedidos caem sistematicamente no vazio. Para eles, a paciência acabou. “Nós estamos a reclamar já há algum tempo, há alguns anos, sobre questões de energia”, começa por desabafar Manuel Januário, morador de Muchire. “Estamos na periferia da cidade, mas não temos energia. A energia é expandida nos sítios onde até já existe. Nós aqui continuamos no escuro.”

À medida que as escavadoras se aproximavam das áreas de perfuração, os moradores juntaram-se em frente às obras, bloquearam o acesso e exigiram uma solução imediata.
“Essa empresa veio explorar aqui os nossos recursos. Eles trazem energia e conseguem abastecer apenas o projeto deles. Não expandem para as nossas casas, nem como parte da responsabilidade social”, explica Manuel, apontando para o posto de transformação instalado junto ao local da obra. “Nós sabemos que uma empresa, quando explora recursos numa determinada zona, tem uma responsabilidade social. A nossa é simples: queremos energia.”

O protesto paralisou os trabalhos da Empresa Águas da Regiões Sul (AdRS), que visavam reforçar o sistema de abastecimento de água na cidade de Inhambane. Mas para os moradores, o desenvolvimento não pode chegar apenas em parte.
“Se têm energia para o projeto, também podem ligar para as nossas casas. É injusto ver a luz a passar por cima das nossas cabeças e continuar a viver às escuras”, diz uma residente que preferiu não se identificar, olhando para o cabo elétrico que alimenta a maquinaria da obra.

Os populares afirmam que esta não é a primeira vez que tentam dialogar com as autoridades.
Segundo Manuel Januário, houve promessas formais da edilidade, que nunca se concretizaram. “O vereador veio aqui e prometeu que até dia 31 do mês passado íamos ter energia. Esperámos. Passou uma semana e nada aconteceu. Então, só vamos sair daqui quando a energia for ligada. É a única condição”, afirmou, enquanto segurava uma enxada que usou para barricar a estrada.

O tom do protesto é firme, mas os moradores garantem que não pretendem destruir nada. “Nós não estamos aqui para destruir. Se quiséssemos, já o teríamos feito há muito tempo. Há máquinas, há o posto de transformação, há tudo. Mas a nossa luta é pela luz, não pela destruição”, defende Januário, respondendo aos rumores de que o grupo teria ameaçado incendiar o equipamento. “Nunca foi nossa intenção vandalizar. Mas quando se fala e ninguém ouve, às vezes é preciso pressionar. É só isso.”

A paralisação, que se estende há dois dias, deixou apreensivos os técnicos no terreno e obrigou as autoridades municipais a procurar uma solução imediata para evitar maiores confrontos.
Fontes próximas ao processo revelam que decorrem conversações entre representantes do município, da Empresa Eletricidade de Moçambique (EDM) e líderes comunitários para tentar desbloquear a situação. O objectivo é encontrar um entendimento que permita retomar as obras sem ignorar as reivindicações locais.

O protesto em Muchire expõe um dilema recorrente em várias comunidades moçambicanas: o desequilíbrio entre grandes investimentos públicos e a falta de benefícios diretos para as populações locais.
Para muitos, o desenvolvimento só faz sentido quando chega à porta de casa — e para os moradores de Muchire, viver no escuro é o símbolo mais doloroso da exclusão. “É difícil aceitar que a cidade tem energia e nós, aqui ao lado, não. Queremos trabalhar, queremos estudar, queremos viver com dignidade. E isso só é possível com energia elétrica”, resume uma moradora, mãe de três filhos, que confessa usar velas todas as noites para que as crianças possam fazer os deveres escolares.

As autoridades locais, contactadas pelo O País, reconheceram a tensão e garantem estar a trabalhar para encontrar um compromisso que permita dar resposta à população, sem comprometer os investimentos em curso.

Enquanto se aguardam decisões, o estaleiro permanece vazio e silencioso. As máquinas estão paradas, cercadas pelos residente que prometem não arredar pé até verem as suas casas ligadas à rede elétrica.

No final da conversa, Manuel Januário volta a reforçar o sentimento colectivo do bairro: “Não queremos confusão. Queremos apenas o que é justo. Se o progresso chegou até aqui, que também nos inclua.”

Enquanto o impasse persiste, o bairro de Muchire continua dividido entre o barulho das maquinas que tocam a obra e o silêncio das casas ainda às escuras. Um contraste que traduz, em pleno, o grito de uma comunidade que quer deixar de ser apenas espectadora do progresso para se tornar parte dele.

Fonte: O País

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