Resumo
O Aviso 6/GBM/2025 do Banco de Moçambique impõe a integração do risco climático nos bancos, considerando-o um risco financeiro com impacto na estabilidade do sistema bancário. Especialistas e reguladores discutiram as implicações deste aviso, que introduz requisitos para gerir o risco climático nos modelos de crédito e na governação das instituições financeiras. Eventos climáticos extremos estão a afetar ativos, produção e capacidade de pagamento dos clientes, expondo os bancos a perdas crescentes. Manuel Mota da EY destaca a necessidade de a banca tratar o risco climático com métricas e modelos, semelhante a outros tipos de risco. Este aviso representa uma viragem regulatória em Moçambique, sendo o primeiro enquadramento prudencial para o risco climático no país.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>O Aviso 6/GBM/2025 marca uma mudança estrutural na supervisão financeira, exigindo que os bancos integrem o risco climático nos seus modelos de crédito, governação interna e políticas de resiliência operacional.
O risco climático deixou de ser uma preocupação ambiental para se tornar um risco financeiro com impacto directo na estabilidade do sistema bancário. Esta é a mensagem central que saiu do encontro promovido pela EY, onde especialistas e reguladores analisaram o âmbito e as implicações do Aviso 6/GBM/2025, o novo instrumento do Banco de Moçambique que introduz requisitos específicos para integrar o risco climático na gestão institucional, na modelação do crédito e no reporte prudencial das instituições financeiras.
Risco Climático Já É Risco Financeiro Para a Banca
Os intervenientes foram unânimes em reconhecer que os choques climáticos extremos, cada vez mais frequentes, estão a afectar activos, produção, cadeias de abastecimento e capacidade de pagamento dos clientes — e, por consequência, a expor as instituições financeiras a perdas crescentes.
Segundo Manuel Mota, Partner da EY, “o risco climático tem de ser tratado pela banca da mesma forma que tratamos risco de crédito ou risco operacional: com métricas, modelos, monitoria contínua e tomada de decisão informada”.
O especialista destacou que eventos climáticos extremos, como cheias, secas e ciclones, já estão a deteriorar a qualidade da carteira de crédito, sobretudo nos sectores agrícola, logístico e de infra-estruturas.
O Aviso 6/GBM/2025 Marca Uma Viragem Reguladora
A introdução pelo Banco de Moçambique do Aviso 6/GBM/2025 estabelece, pela primeira vez, um enquadramento prudencial para o risco climático no país. O regulador exige que os bancos incorporem esta variável na sua governação interna, na identificação de riscos, na avaliação de solvabilidade e nos modelos de concessão de crédito.
José Gamito, do BCI, sublinhou que O Aviso n.º 6/2025 do Banco de Moçambique marca um ponto de viragem. Trava a fragmentação da informação e afirma o Pilar de Gestão de Riscos Climáticos e Ambientais como tema de interesse público.
O Aviso não é apenas um regulamento mas um convite à profissionalização, à consistência e à verificação. Porque, a partir de agora, o que se afirma terá de ser comprovado.
Os participantes concordaram que a exigência regulatória representa uma oportunidade para reforçar resiliência, mas também introduz pressão operacional e necessidade de maior investimento em tecnologia, dados e capacitação.
Transição Energética Impõe Custos, Mas Torna-se Inegável
A discussão evoluiu também para o papel da transição energética na gestão do risco climático. Moçambique enfrenta um duplo desafio: acelerar a adopção de energias limpas e, simultaneamente, financiar essa transição num contexto fiscal e económico limitado.
Pedro Mota, Director da EY, referiu que “a transição energética não é opcional, é inevitável. Mas tem custos elevados que exigem alinhamento entre Governo, banca, investidores e parceiros internacionais”. Para o especialista, o país precisa de desenvolver mecanismos de financiamento concessionado, reduzir riscos para o sector privado e garantir estabilidade regulatória que permita mobilizar capital de longo prazo.
A banca terá um papel determinante neste processo, não apenas como financiadora, mas como gestora dos riscos que emergem da mudança tecnológica e da reconfiguração das cadeias produtivas.
Impacto Directo na Oferta de Crédito e nas Políticas Internas dos Bancos
Uma das mensagens mais destacadas foi a de que o risco climático afectará inevitavelmente a forma como os bancos concedem crédito, avaliam projectos e definem prioridades sectoriais. Sectores mais expostos — como agricultura, transportes, indústria transformadora e infra-estruturas — poderão enfrentar custos de financiamento mais altos ou requisitos mais exigentes.
A integração do risco climático na avaliação de crédito obriga os bancos a desenvolver metodologias mais robustas para quantificar potenciais perdas, ajustar rácios internos e reforçar mecanismos de mitigação.
Um Processo Que Exigirá Cultura, Dados e Capacitação
Os participantes reforçaram que a implementação efectiva do Aviso 6/GBM/2025 não será um exercício rápido.
Exigirá:
A mensagem da EY foi clara: as instituições que se adaptarem primeiro ganharão vantagem competitiva, enquanto as restantes poderão enfrentar riscos crescentes de inadimplência, deterioração da carteira e pressão regulatória.
A entrada em vigor do novo enquadramento prudencial marca um ponto de viragem na forma como o sistema financeiro moçambicano encara o risco climático. O desafio agora será transformar orientações regulatórias em práticas concretas, dotando o sector de ferramentas, dados e cultura institucional capazes de antecipar riscos e sustentar uma transição energética financeiramente viável.
Fonte: O Económico






