O capitão-tenente na reserva, Abdul Machava, diz que os ataques terroristas nas províncias de Nampula e Niassa eram previsíveis, pela sua localização, e as autoridades já deveriam estar posicionadas para reprimi-los. Já o pesquisador Tomás Queface afirma que as incursões visam distrair e dispersar as forças de defesa e segurança.
Depois da Reserva do Niassa, o distrito de Memba, na província de Nampula, sofreu ataques terroristas.
O capitão-tenente na reserva, Abdul Machava, refere que o acto já era previsível, devido à proximidade linguístico-cultural das populações, e as autoridades deviam saber disso.
“As autoridades deviam estar já preparadas com elementos de serviço e de segurança dentro dessas comunidades, primeiro para servirem de elo de ligação entre as comunidades e as autoridades do Estado. Porque, como podem ver, segundo a reportagem mostrou, chegar àquelas zonas é um trabalhão. As condições das estradas, as condições das matas, o relevo em si oferece muita dificuldade de se atingir aqueles locais num determinado espaço de tempo. Daí que era necessário, exactamente, que os agentes que estivessem lá infiltrados dentro dessas comunidades pudessem ser os primeiros a dar informação credível, recolhendo informações também credíveis para as forças de defesa e segurança ou então para as autoridades devidas”, defendeu.
Ouvido, o pesquisador Tomás Queface concorda com Machava, sobre a necessidade de as autoridades estarem posicionadas nos pontos identificados como sensíveis a ataques, mas acrescenta que a sua ocorrência visa distração.
“Os ataques à província de Nampula geralmente fazem parte de uma estratégia dos insurgentes para distrair as operações das forças de defesa e segurança, cujas operações neste momento têm estado concentradas ao longo da costa de Macomia, particularmente em Mucojo e Quiterajo. Essas operações visam, na verdade, estender ou distrair as forças de defesa e segurança, tentando atrair para locais bem distantes e bem remotos.”
Por várias ocasiões, o Presidente da República desafiou as tropas a anteciparem-se e/ou prever alguns eventos criminosos.
Para Machava, embora exista vontade, a falta de comunicação eficiente no terreno impede que as forças estejam à frente dos criminosos.
“Enquanto não conjugarmos os esforços de informação credível, tanto pelo conhecimento militar como o Serviço de Segurança, e de outras forças de segurança que existem; enquanto não tivermos a capacidade de projecção de tropas especiais para fazer perseguição em tempo útil, então nós teremos muita dificuldade em debelar esses grupos, porque esses grupos atacam e fogem”, disse o Tenente-coronel.
Queface foi mais longe. Fala da necessidade do reforço da relação entre civis e militares.
“É preciso haver um reforço do ponto de vista da comunicação e coordenação com as comunidades locais, porque elas são as primeiras a identificar as movimentações dos insurgentes e, por via disso, elas podem muito bem informar as autoridades militares e civis sobre essas movimentações e, assim, permitir uma resposta mais incisiva das nossas forças.”
Mais do que a relação militar-civil, o também pesquisador Marchal Monufredo defende o reforço dos mecanismos de diálogo entre várias entidades.
“Uma das coisas que desbloqueiam a acção de combate ao terrorismo é o próprio Governo americano, ao não aceitar a situação que está a acontecer naquele ponto do país.”
Se aceitarmos a situação de Cabo Delgado, vamos abrir canais. Esses canais que vamos abrir vão-nos permitir a reconciliação interna a partir da Frelimo, a partir da Renamo, e vamos acabar com as nossas mágoas e buscarmos a solução do conflito em Cabo Delgado”, defendeu o pesquisador.
A primeira incursão terrorista em Nampula foi no posto administrativo de Namapa, no distrito de Eráti, entre os dias 25 de Setembro e 8 de Outubro, tendo culminado com casas incendiadas e destruição de outras infra-estruturas públicas e privadas.