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Friday, November 21, 2025
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Escassez global de profissionais de saúde: o nó crítico da cobertura universal

Resumo

A Organização Mundial de Saúde estima que até 2030 haverá uma escassez de 11 milhões de profissionais de saúde, principalmente em países de baixo e médio-baixo rendimento. Esta falta de pessoal compromete a saúde universal, levando ao encerramento antecipado de serviços de saúde, triagens mais lentas e emergências mal geridas. Em países como Moçambique, a escassez acentua as desigualdades entre zonas urbanas e rurais, com clínicas em áreas remotas a funcionar com pessoal sobrecarregado e sem apoio especializado. Vários fatores contribuem para esta crise, como o envelhecimento da força de trabalho, a falta de incentivos para trabalhar em áreas remotas e a migração de profissionais para países mais ricos. Garantir profissionais de saúde qualificados e motivados é essencial para alcançar a cobertura universal de saúde.

Por : Gelva Aníbal

A saúde universal, o ideal de que todas as pessoas tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade sem sofrimento financeiro, depende essencialmente de pessoas qualificadas nas clínicas, hospitais e comunidades. Entretanto, os dados mais recentes revelam uma crise crescente, o World Health Organization (OMS) estima uma escassez de 11 milhões de profissionais de saúde até 2030, maioritariamente em países de rendimento baixo e médio-baixo.

Esta realidade obriga a repensar não apenas quanto investimos em medicamentos ou infraestrutura, mas quem estará no terreno para garantir que o sistema funcione.

Durante anos, os países menos favorecidos concentram-se no financiamento externo, ajuda internacional e parceiros para preencher lacunas. Mas quando a própria base, o recurso humano, se encontra sob pressão, esses esforços perdem parte da eficácia. A falta de pessoal significa que os serviços de saúde primários podem fechar mais cedo, que a triagem é mais lenta, que a formação contínua é ignorada ou adiada, e que as emergências não são bem geridas.

Para países como Moçambique, o impacto é imediato e profundo. Em Moçambique, onde a razão entre profissionais de saúde e população ainda está abaixo das recomendações internacionais, a escassez acentua desigualdades entre zonas urbanas e rurais. Clínicas em distritos remotos operam com enfermeiros ou técnicos que acumulam funções e trabalham em sobrecarga, muitas vezes sem apoio especializado. A promessa de cobertura universal de saúde pode revelar-se ilusória se não se garantir que os profissionais estão lá, formados, motivados e com recursos adequados.

Há múltiplos factores que alimentam esta crise. O envelhecimento da força de trabalho, a falta de incentivos para trabalhar em áreas remotas, a migração internacional de profissionais para países mais ricos e os cortes em orçamentos públicos fragilizam o sistema de saúde. Além disso, a mudança do perfil epidemiológico, com o aumento das doenças crónicas, por exemplo, exige competências diferentes, especialização e cuidados continuados, o que implica mais, não menos, profissionais de saúde.

Continuar a tratar os recursos humanos como “suporte” em programas específicos, e não como pilar central do sistema, significa manter-se num ciclo de dependência e fragilidade.

E indispensável que os governos definam políticas claras de recursos humanos para a saúde: formação adequada, planos de carreira, incentivos para zonas remotas, retenção e valorização do pessoal existente.

A cooperação internacional deve deslocar-se do “enviar equipamento” para o “fortalecer quem está no terreno”,  investir na comunidade, nos técnicos locais, no sector público. Por fim, a monitorização e transparência dos dados são essenciais, saber quantos profissionais existem, onde estão, quais as lacunas reais e como estas evoluem.

Se a cobertura universal de saúde é um compromisso reconhecido globalmente, então a garantia de que há pessoas suficientes para prestar os cuidados deixa de ser opcional para se tornar urgente e central. Sem esse pilar humano, o edifício da saúde pública pode ruir mesmo com as melhores intenções. É tempo de agir, não com promessas vagas, mas com investimento concreto nas pessoas que, todos os dias, mantêm a saúde das comunidades em funcionamento.

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