A recente decisão do Governo de transformar a província de Inhambane na primeira Zona Especial de Turismo de Golfe do país surge como uma proposta ambiciosa, carregada de expectativas e também de interrogações. O anúncio projeta uma visão de futuro em que o turismo de alto padrão poderá actuar como motor de desenvolvimento económico, atrair investimentos e reposicionar Moçambique no mapa do lazer internacional. No entanto, também abre espaço para uma reflexão profunda sobre prioridades, modelos de desenvolvimento e o impacto real destas iniciativas na vida das comunidades locais.
Inhambane é tradicionalmente conhecida pela sua beleza natural, praias emblemáticas e um património cultural vasto. A escolha da província não é aleatória. O potencial turístico é inegável, mas a aposta no golfe levanta questões importantes. Estamos perante um tipo de turismo altamente especializado, com um público muito específico e exigente, e com custos de manutenção ambiental e estrutural consideravelmente elevados. A pergunta que se impõe é simples: será este o tipo de investimento que melhor responde às necessidades socioeconómicas da província e do país?
Por um lado, a criação de uma zona especial pode significar maior emprego, novas infraestruturas e uma dinamização da economia local. Por outro, há o risco de se construir um modelo de turismo desligado da realidade das comunidades, criando ilhas de prosperidade em torno de resorts, enquanto os desafios estruturais permanecem intocados. A experiência africana mostra que muitos projectos deste género beneficiam investidores estrangeiros, mas deixam benefícios limitados para as populações locais.
Outro ponto que merece análise é o impacto ambiental. Inhambane é uma região ecologicamente sensível e qualquer intervenção de grande escala deve ser acompanhada de um plano rigoroso de gestão ambiental. Campos de golfe, embora visualmente agradáveis, exigem grandes quantidades de água e manutenção intensiva. Numa altura em que o país enfrenta desafios climáticos e problemas cíclicos de escassez, é legítimo questionar a sustentabilidade deste modelo.
Há ainda o debate sobre prioridades. Moçambique enfrenta desafios urgentes em áreas como educação, saúde, emprego jovem, segurança alimentar e infraestruturas básicas. Assim, é importante avaliar se o investimento num turismo elitizado contribui efectivamente para resolver estes problemas ou se se trata de mais um projecto de visão grandiosa, mas de retorno limitado para a maioria da população.
Em síntese, transformar Inhambane numa Zona Especial de Turismo de Golfe pode ser uma oportunidade, mas apenas se for acompanhada de transparência, inclusão comunitária e uma visão de desenvolvimento que transcenda interesses imediatos. O país precisa de projectos que promovam crescimento, sim, mas também que fortaleçam a dignidade social, respeitem o ambiente e reduzam desigualdades. Caso contrário, correremos o risco de assistir à criação de mais um polo turístico que brilha por fora, mas que pouco acrescenta à construção de um futuro sustentável para Moçambique.





