27.1 C
New York
Tuesday, November 25, 2025
InícioInternacionalCimeira UE–África Em Luanda: Uma Reconfiguração Estratégica Num Mundo em Redesenho Geopolítico

Cimeira UE–África Em Luanda: Uma Reconfiguração Estratégica Num Mundo em Redesenho Geopolítico

Resumo

A cimeira UE-África em Luanda destaca a mudança na relação entre os dois blocos, devido à competição global e à necessidade de industrialização africana. A reunião evidencia tensões geopolíticas entre a Europa, que procura minerais críticos face à rivalidade sino-americana, e África, que busca industrializar-se e afastar-se do modelo extrativo. Apesar da UE ser o principal investidor africano, a sua influência tem diminuído perante China, EUA e Rússia. Países africanos têm-se distanciado da influência francesa, permitindo uma nova redistribuição de alianças. O académico Pascal Saint-Amans destaca a necessidade de uma relação menos colonial e mais horizontal entre África e Europa. A narrativa africana sublinha que a retórica de parceria não é suficiente, num contexto multipolar em evolução.

<

p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>O encontro em Luanda expõe o ponto de viragem na relação euro-africana, marcado por competição global, disputa por recursos estratégicos e a urgência da industrialização africana.

A cimeira UE–África realizada em Luanda apresenta-se como um dos mais importantes exercícios de reposicionamento político e económico entre os dois blocos desde o início das cimeiras conjuntas há um quarto de século. Entre a necessidade europeia de garantir minerais críticos num cenário de rivalidade sino-americana e o imperativo africano de industrializar e romper com o modelo extrativo herdado da globalização, o encontro coloca em evidência tensões geopolíticas profundas e ambições estratégicas que poderão redefinir o futuro da cooperação.

Vinte e Cinco Anos de Relações: Entre Ambições Elevadas e Resultados Aquém do Esperado

As relações UE–África têm sido marcadas por promessas reiteradas de uma parceria renovada, mas também por sucessivas fases de implementação insuficiente. Apesar de a União Europeia manter a posição de principal investidor e maior parceiro comercial do continente africano, a sua influência tem sido crescentemente erosionada pelo avanço de China, Estados Unidos e Rússia, que oferecem financiamento alternativo, diplomacia agressiva e soluções infra-estruturais de grande escala.
Segundo o documento base, vários países africanos afastaram-se da esfera de influência francesa, abrindo espaço para esta redistribuição de alianças. 

O académico Pascal Saint-Amans, citado na mesma peça, afirma que “as relações económicas entre África e Europa foram, durante muito tempo, coloniais”, acrescentando que o novo contexto multipolar abre caminho a uma relação “menos paternalista e mais horizontal”.
Este é um ponto central da narrativa africana: o reconhecimento de que a retórica de parceria não basta — é necessária uma arquitectura institucional e económica que materialize essa mudança.

A UE Sob Pressão: Disputa Geopolítica e Fragmentação Interna Condicionam a Cimeira

A Europa chega a Luanda sob múltipla pressão. Externamente, enfrenta a competição intensa pela influência no continente africano. Internamente, lida com tensões provocadas pela guerra na Ucrânia, divergências entre Estados-membros e prioridades fragmentadas.
O encontro decorre logo após o G20 na África do Sul, marcado pela ausência dos Estados Unidos — um sinal das fracturas geopolíticas que moldam a agenda diplomática global. A UE procura responder afirmando uma visão de cooperação multipolar, como expressaram Ursula von der Leyen e António Costa no documento referido. 

Mais revelador ainda é o facto de vários líderes europeus utilizarem a própria cimeira em Luanda para reuniões paralelas sobre a Ucrânia. Isto ilustra uma realidade desconfortável: a UE continua a ter dificuldades em manter a atenção estratégica sustentada sobre África, apesar de, simultaneamente, depender cada vez mais do continente para assegurar recursos indispensáveis às suas transições energéticas e industriais.

Minerais Críticos No Centro Da Estratégia Europeia: O Corredor Do Lobito Como Peça Geoeconómica

A disputa pelos minerais críticos é a principal força motriz da postura europeia nesta cimeira. Secundarizar esta questão é ignorar o epicentro do reposicionamento geoeconómico em curso. A transição energética europeia depende de acesso a lítio, cobalto, grafite, níquel e terras raras — recursos disponíveis em abundância em África, mas, até hoje, dominados por cadeias operacionais lideradas pela China.

A iniciativa Global Gateway, mobilizando 300 mil milhões de euros — metade destinados ao continente africano — não é apenas um programa de infra-estruturas: é um instrumento geopolítico.
O Corredor do Lobito, em particular, assume papel central. O documento de referência recorda que este corredor — envolvendo a UE, os EUA e Angola — permite ligar as regiões mineiras da RDC e da Zâmbia ao Atlântico, oferecendo uma alternativa às rotas controladas pela China.
Esta infra-estrutura desafia directamente a arquitectura logística chinesa e serve os interesses europeus de descarbonização, autonomia estratégica e diversificação industrial.

Luanda, como anfitriã, reforça também a sua posição estratégica emergente, assumindo-se cada vez mais como actor geopolítico de peso na África Austral.

África Exige Viragem Estrutural: Industrialização Local, Voz Global e Parcerias de Valor Acrescentado

Se a Europa precisa de minerais, África precisa de industrialização. Esta cimeira acentua a divergência entre os interesses de curto prazo europeus e as aspirações de longo prazo africanas.
Os países africanos não querem ser apenas fornecedores de matérias-primas num sistema económico que perpetua assimetrias; reivindicam acesso a tecnologia, maior valor acrescentado doméstico e participação efectiva nas cadeias globais de valor.

Exigem também voz ampliada na governança global. O documento cita críticas de organizações da sociedade civil africana que acusam a UE de privilegiar temas securitários e migratórios, relegando direitos humanos para segundo plano.
Estas críticas revelam uma fricção crescente: África quer que a Europa reconheça que desenvolvimento, democracia, segurança e direitos humanos são dimensões inseparáveis — e não temas negociáveis.

O sucesso da cimeira dependerá de a UE traduzir a retórica em compromissos vinculativos e de África demonstrar capacidade para absorver investimentos estruturantes e manter estabilidade institucional, condição-chave para projectos de longo ciclo de maturação.

Fonte: O Económico

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!

- Advertisment -spot_img

Últimas Postagens

“16 dias de activismo” no combate à violência digital

0
Inicia-se hoje a campanha de 16 dias de ativismo contra a violência de género, focada na violência digital e promovida pela ONU Mulheres. A iniciativa apela a...

Mau tempo em Manica e Sofala

- Advertisment -spot_img