Resumo
Interoperabilidade, identidade digital, pagamentos eletrónicos, energia e infraestruturas são os principais focos de uma agenda que une Governo, banca, fintechs, seguradoras, telecomunicações e tecnologia em Moçambique. O país entra numa fase crucial de transformação digital, com uma colaboração inédita entre diversos setores. A modernização dos serviços financeiros tornou-se uma prioridade económica, enquanto desafios antigos como energia e infraestruturas continuam a ser obstáculos. O Governo destaca a importância da inclusão digital e financeira, com a implementação de uma estratégia que inclui certificação digital, interoperabilidade, identidade digital, plataforma de pagamentos e o Portal do Cidadão. Estas medidas visam reduzir a dependência do papel, melhorar o acesso a serviços financeiros e aumentar a eficiência do Estado. A concretização desta visão depende de vários fatores críticos.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Interoperabilidade, identidade digital, pagamentos electrónicos, energia e infraestruturas tornam-se os eixos centrais de uma agenda que junta Governo, banca, fintechs, seguros, telecomunicações e tecnologia num momento decisivo para a economia digital moçambicana.
Moçambique entra numa fase determinante da sua transformação digital, marcada por uma convergência inédita entre o Governo, a banca, as fintechs, as seguradoras, os operadores de telecomunicações e o sector tecnológico. A interoperabilidade, a identidade digital, os pagamentos electrónicos e a modernização dos serviços públicos tornaram-se imperativos económicos, ao mesmo tempo que velhos constrangimentos — como energia, infraestruturas, duplicação de redes e falta de integração — continuam a travar o avanço de um ecossistema financeiro moderno e inclusivo.
Uma Estratégia Governamental Para A Inclusão Digital E Financeira
A transformação digital passou de promessa a prioridade estratégica. O Executivo reforça que a modernização dos serviços financeiros é agora um dos pilares centrais da visão nacional de digitalização, com o objectivo de garantir que o cidadão possa ser atendido “a partir do sítio onde está”. Esta ambição exige uma arquitectura digital assente em cinco elementos estruturantes: certificação digital, interoperabilidade, identidade digital, plataforma única de pagamentos e o Portal do Cidadão, concebido para consolidar o acesso a serviços públicos e privados numa única porta de entrada.
Segundo o Governo, estes pilares são essenciais para reduzir a dependência do papel, encurtar tempos de atendimento, ampliar o acesso a serviços financeiros e permitir que o Estado opere com maior eficiência e transparência. Mas a execução desta visão continua dependente de factores críticos fora do controlo directo da administração pública.
Fintechs Expõem Um “Bloqueio Institucional” Que Estrangula a Inovação
Um dos diagnósticos mais duros veio das fintechs, que afirmam que a falta de interoperabilidade real impede a entrada de novas soluções no mercado financeiro. Mais de cinquenta iniciativas passaram pela Sandbox Regulátoria do Banco de Moçambique, mas poucas conseguiram operar plenamente devido à ausência de ligações técnicas ao sistema financeiro.
A crítica foi directa: a legislação obriga à interoperabilidade, mas o ecossistema que deveria suportá-la ainda não existe. A realidade é que muitos projectos inovadores não conseguem sair da fase piloto, perpetuando uma economia digital onde a concorrência, a inovação e a inclusão continuam aquém do potencial nacional.
Telecomunicações Reforçam Que Digitalização Exige Energia E Infraestruturas
O sector das telecomunicações trouxe à superfície um problema mais profundo: a digitalização não avança sem energia. Existem zonas com rede móvel, mas sem energia eléctrica doméstica, obrigando cidadãos a caminhar quilómetros apenas para carregar o telemóvel. Este desfasamento geográfico reforça a distância entre a ambição digital e a realidade rural.
Outro ponto crítico é a duplicação de infraestruturas. Em vários bairros de Maputo e províncias, torres de diferentes operadores surgem lado a lado, aumentando custos, reduzindo competitividade e atrasando a expansão para zonas remotas. Para os operadores, a partilha de infraestruturas é uma condição económica e estratégica essencial para ampliar a cobertura e reduzir custos estruturais.
Seguros E Microfinanças Identificam Oportunidades, Mas Alertam Para Riscos
O sector segurador vê na transformação digital uma oportunidade para massificar produtos, ampliar a cobertura e aproximar serviços financeiros das comunidades mais afastadas. Contudo, as seguradoras sublinham que a confiança nos sistemas, a cibersegurança e a literacia digital são pré-condições indispensáveis para que a digitalização não aprofunde desigualdades existentes.
Empresas de microfinanças e operadores de tecnologia reforçam essa preocupação. A exclusão digital — causada por falta de dispositivos, conectividade ou saber digital básico — pode comprometer o alcance da agenda de inclusão financeira, deixando para trás as camadas mais vulneráveis da população.
Cloud, Soberania De Dados E Cibersegurança Entram No Cálculo Estratégico
A crescente digitalização exige infraestruturas de cloud nacionais compatíveis com os requisitos de soberania de dados, além de sistemas robustos de cibersegurança capazes de sustentar pagamentos electrónicos em larga escala. Fornecedores tecnológicos anunciaram que irão disponibilizar soluções específicas para bancos, fintechs e seguradoras, com enfoque em resiliência, segurança e integração de plataformas.
Para o sector financeiro, a modernização tecnológica tem de estar alinhada com uma regulação clara sobre uso de dados, inteligência artificial e computação em nuvem — temas que permanecem sensíveis no contexto moçambicano.
A Conferência BFSI Como Espaço Decisivo Para Reformas Estruturais
Marcada para o próximo mês, a Conferência BFSI será o palco para decisões estratégicas sobre interoperabilidade, identidade digital, pagamentos electrónicos, inclusão financeira, regulação tecnológica, soberania de dados, cibersegurança e redução de custos. O Governo espera contributos sólidos do sector privado e dos operadores tecnológicos para transformar a visão presidencial numa realidade operacional e sustentável.
A expectativa é elevada porque, se bem executadas, as medidas poderão reduzir custos operacionais, aumentar a transparência, melhorar o ambiente de negócios, fortalecer a inclusão financeira e impulsionar a competitividade da economia digital.
Moçambique encontra-se perante uma oportunidade histórica para transformar o seu sistema financeiro e acelerar a digitalização da economia. A ambição é clara, mas o sucesso dependerá da capacidade de resolver desafios estruturais — energia, conectividade, interoperabilidade, regulação e confiança digital — e de integrar, de forma coerente, todo o ecossistema público e privado num mesmo caminho de modernização.
Fonte: O Económico






