Por: Gentil Abel
Em 30 de janeiro de 2000, a edição 1470 da revista Tempo publicava um artigo intitulado “Criança da Rua: Como Podemos Ajudar?”, refletindo sobre as crescentes preocupações com as crianças que viviam nas ruas das grandes cidades moçambicanas. Passados 25 anos, o problema permanece alarmante e exige uma análise profunda sobre o que mudou e o que ainda precisa ser feito para enfrentar essa dura realidade. Em muitas províncias e distritos de Moçambique, o número de crianças em situação de rua continua a ser um reflexo doloroso e persistente.
Hoje, as causas que levam as crianças para as ruas permanecem as mesmas: a pobreza extrema, o desemprego e a desestruturação familiar. Além disso, as migrações internas em busca de melhores oportunidades têm agravado ainda mais esse cenário. Pois, cidades como Maputo e Beira e Nampula, milhares de crianças continuam expostas a riscos de exploração, abuso e violência, e muitas delas acabam fazendo das ruas suas moradas, sem ter para onde ir ou quem as proteja.
Embora existam programas de apoio emergencial, a maioria deles carece de recursos adequados e só são executados por organizações não governamentais com um alcance limitado. A situação é ainda mais grave quando observamos que a migração interna contribui de forma significativa para o aumento de crianças em situação de rua. Muitas delas chegam às cidades em busca de melhores condições de vida, mas acabam sem alternativas, vulneráveis ao trabalho infantil e à vida nas ruas, sem qualquer estrutura familiar ou comunitária para apoiá-las.
Essa migração, muitas vezes forçada pelas condições de vida nas zonas rurais, coloca as crianças em uma situação ainda mais difícil. Ao chegarem às grandes cidades, sem documentos ou redes de proteção, elas se veem obrigadas a vasculhar latas de lixo em busca de comida ou objectos recicláveis para vender. As latas de lixo, repletas de restos de alimentos, acabam sendo uma das poucas fontes de alimentação que essas crianças encontram. Esse ato de revirar os lixos não só é uma questão de sobrevivência imediata, mas também expõe essas crianças a sérios riscos de saúde, como infecções e contaminações, além de lesões físicas devido ao contato com materiais cortantes.
Portanto, é fundamental que a sociedade e as autoridades compreendam a complexidade da realidade das crianças em situação de rua. Muitas delas são estigmatizadas e tratadas como “problema social”, quando, na verdade, são vítimas das condições de vida que as empurraram para essa situação. O reconhecimento dos direitos dessas crianças, a criação de programas de acolhimento e a conscientização da sociedade sobre as causas e consequências desse fenômeno são passos essenciais para combater esse ciclo de exclusão e marginalização.






