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Wednesday, November 26, 2025
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A resistência antimicrobiana

Resumo

A resistência antimicrobiana (RAM) é uma ameaça crescente à saúde global, com uma em cada seis infecções bacterianas já resistente a antibióticos. Esta situação coloca em risco a eficácia de tratamentos médicos comuns, podendo levar a complicações graves e aumento da mortalidade. A RAM não afeta todos os países da mesma forma, com sistemas de saúde mais frágeis, como em África, a enfrentarem maiores desafios. Apesar dos alertas, a RAM continua a ser subestimada e negligenciada, com falta de investimento em vigilância, uso adequado de antibióticos e educação sanitária. Em Moçambique, a situação é especialmente preocupante devido à venda livre de antibióticos, acesso limitado a diagnóstico e falta de consciencialização da população, criando um ambiente propício ao surgimento de bactérias resistentes.

Por: Gelva Aníbal

A saúde global enfrenta um inimigo silencioso e em rápida expansão, a resistência antimicrobiana (RAM). O que antes parecia ser um alerta distante tornou-se numa ameaça concreta à medicina moderna. Sem antibióticos eficazes, procedimentos comuns, desde um parto a uma cirurgia simples, podem transformar-se em risco de vida.

Hoje, uma em cada seis infecções bacterianas confirmadas é resistente ao antibiótico, segundo análises recentes.

Este dado, por si só, deveria bastar para colocar os sistemas de saúde em estado de alerta máximo.

A RAM significa que os medicamentos deixam de funcionar contra infecções que antes eram facilmente tratáveis. Isto representa não apenas um desastre sanitário, mas um colapso económico anunciado, mais tempo de internamento, tratamentos alternativos dispendiosos, maior risco de mortalidade e impacto directo na produtividade das sociedades.

A ameaça é global, mas não afecta todos por igual. Países de maior rendimento dispõem de laboratórios robustos, vigilância epidemiológica activa e alternativas terapêuticas. Já os sistemas de saúde frágil, como muitos no continente africano, podem ver-se ultrapassados antes sequer de a crise atingir o seu auge.

Apesar dos alertas das últimas décadas, a RAM continua a ser tratada como questão técnica para especialistas, longe do radar das prioridades governamentais. Mas quem paga o preço são os cidadãos. Ainda se investe demasiado pouco em vigilância, em uso racional de antibióticos e em programas de educação sanitária.

O mundo parece esquecer-se de que a era pré-antibióticos, marcada por infecções letais e curas improvisadas, não pertence a um passado inalcançável, pode regressar em breve.

No caso de Moçambique, o risco é particularmente elevado. A venda livre de antibióticos, o acesso limitado a diagnóstico laboratorial e a insuficiente sensibilização da população criam um ambiente perfeito para o surgimento e circulação de bactérias resistentes. Quando um antibiótico deixa de funcionar num hospital provincial, pode não existir alternativa disponível.

A RAM agrava ainda desafios já existentes: falta de profissionais, desigualdades geográficas no acesso à saúde e infra-estruturas laboratoriais insuficientes. Ignorar o problema agora poderá significar que, no futuro, doenças hoje tratáveis se tornem sentenças de morte que podiam ser evitáveis.

Fortalecer a vigilância microbiológica, regular a dispensa de antibióticos, garantir formação contínua aos profissionais de saúde e envolver a sociedade em campanhas de uso responsável são passos essenciais. A resistência antimicrobiana não explode de um dia para o outro, cresce lenta e discretamente, à sombra da nossa inércia.

E é exactamente por isso que já chegámos tarde.

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