Resumo
O Trade and Development Report 2025 da UNCTAD destaca a resiliência aparente da economia mundial, impulsionada por fatores temporários, mas exposta a riscos estruturais. Apesar do crescimento do comércio global em torno de 4% no primeiro semestre de 2025, o crescimento subjacente situa-se entre 2,5% e 3%, indicando uma desaceleração prevista para o final de 2025 e 2026. O relatório realça a interdependência entre comércio, finanças e arquitetura monetária, num contexto de tensões geopolíticas e volatilidade financeira. Destaca-se a financeirização do comércio, com mais de 90% do comércio mundial dependente de infraestruturas financeiras globais. O relatório também aborda a transformação dos mercados de commodities, onde os preços refletem estratégias financeiras em detrimento dos fundamentos de oferta e procura.
Apesar de um crescimento do comércio mundial próximo de 4% no primeiro semestre de 2025, o relatório sublinha que, descontados efeitos temporários — como a antecipação de tarifas e investimentos associados à inteligência artificial — o crescimento subjacente situa-se entre 2,5% e 3%, sinalizando uma desaceleração para o final de 2025 e 2026. A trajectória do crescimento global deverá fixar-se em 2,6% em 2025, abaixo da média pré-pandemia, com as economias em desenvolvimento a manterem um ritmo superior, mas cada vez mais condicionado.
Um dos eixos centrais do relatório é a financeirização do comércio. Mais de 90% do comércio mundial depende de infra-estruturas financeiras globais, desde financiamento ao comércio até sistemas de pagamentos e mercados cambiais. Esta dependência amplifica choques financeiros, transmitindo-os rapidamente à economia real, sobretudo nos países do Sul Global, mais vulneráveis a flutuações cambiais, alterações no apetite ao risco e mudanças na política monetária das grandes economias.
A UNCTAD chama ainda a atenção para a transformação dos mercados de commodities, onde os preços refletem cada vez mais estratégias financeiras do que fundamentos de oferta e procura. No sistema alimentar global, a intermediação financeira representa já mais de 75% das receitas das grandes tradings, criando assimetrias competitivas que penalizam produtores de países em desenvolvimento e levantam riscos de concentração, estabilidade financeira e fluxos ilícitos.
No plano monetário, o relatório confirma a persistência do dólar como âncora do sistema financeiro internacional. Embora a sua quota nas reservas cambiais tenha diminuído desde 2000, nenhuma outra moeda assumiu um papel substituto. Paradoxalmente, a participação do dólar nos pagamentos internacionais aumentou nos últimos anos, reforçando a dependência estrutural das economias em desenvolvimento. Em paralelo, o ouro ganhou peso nas reservas dos bancos centrais, ultrapassando o euro como segundo maior activo de reserva, reflexo de estratégias de diversificação face à incerteza geopolítica e financeira.
Para o Sul Global, o diagnóstico é claro: maior peso no comércio e no investimento directo estrangeiro não se traduziu em igual integração nos mercados financeiros globais. Custos de financiamento mais elevados, mercados de capitais pouco profundos e infra-estruturas financeiras frágeis continuam a limitar o espaço fiscal e o investimento produtivo, num contexto agravado pelos custos crescentes da crise climática e do serviço da dívida.
Face a este cenário, a UNCTAD defende quadros de políticas integradas, que articulem comércio, finança e sustentabilidade. Entre as recomendações destacam-se o reforço dos sistemas financeiros domésticos, o desenvolvimento de mercados regionais de capitais, a reforma da arquitectura monetária internacional e uma coordenação multilateral mais efectiva para evitar uma fragmentação que penalize desproporcionalmente as economias mais vulneráveis.
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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">A mensagem final é inequívoca: comércio e finança não podem continuar a ser tratados como esferas separadas. A resiliência económica, num mundo cada vez mais financeirizado, dependerá da capacidade de alinhar políticas macroeconómicas, estruturas financeiras e estratégias de desenvolvimento sustentável, sob pena de a actual resiliência se revelar apenas um intervalo antes de novas rupturas globais.
Fonte: O Económico






