Para que lado fica o futuro?
A resposta está numa escolha feita hoje.
Lembro-me bem dos tempos em que a escola era mais do que um edifício com salas. Era um espaço de formação moral, de respeito, de limites. Os professores, mesmo sem tecnologia ou manuais bonitos, impunham respeito, e não apenas porque ensinavam fórmulas ou gramática, mas porque eram autoridade, eram exemplo.
Antigamente, a escola era quase uma extensão da casa. Professores, tios e vizinhos partilhavam a responsabilidade de educar. Os alunos, mesmo com indisciplina e resistências, sabiam que havia limites. E se ultrapassassem esses limites, levavam uns bons puxões de orelha. Quem viveu esse tempo, lembra: reguadas nas mãos, castigos no canto da sala, palmadas acompanhadas de frases como: “É para te educar.”
Tudo isso era prática comum. Nenhum pai ia à escola reclamar, pelo contrário, agradecia e, em muitos casos, reforçava a correcção em casa ou até dava carta branca ao professor: “Se o meu filho faltar ao respeito, ponha-o na linha.”
No Moçambique de hoje, muitas escolas deixaram de ser espaços de aprendizagem para se tornarem palcos de violência, desrespeito e ausência de valores. Nas escolas moçambicanas, quem manda já não é o professor, em muitos casos, nem são os pais. É o aluno, armado de ousadia, por vezes de faca, e sempre com o telefone pronto a gravar. O que antes eram lutas inocentes no fim da aula entre colegas foi substituído por confrontos perigosos, partilhados nas redes sociais como forma de diversão. A violência tornou-se entretenimento, a agressividade virou linguagem, como se não bastasse, agora é o aluno quem agride o professor e responda com insolência a qualquer tentativa de orientação.
No intervalo maior noutros tempos, servia para correr, jogar ou partilhar histórias inocentes, o lanche era para muitos o pão com badjia ou sumo caseiro. Hoje é álcool disfarçado em garrafas recicladas, no lugar de doces, circulam cigarros, a chamada uka e outras drogas acessíveis nas barracas à volta das escolas. A juventude cresce rodeada de tudo o que a pode destruir, sem que ninguém intervenha com firmeza.
Sem uma formação ética e de valores desde cedo, muitos jovens crescem sem referências claras sobre o que é correto ou não. A ausência da educação moral e cívica não é neutra. Cria um vazio perigoso, um espaço rapidamente ocupado por ideologias nocivas, vícios e discursos de ódio que gritam mais alto do que qualquer apelo à razão.
É urgente reabilitar a escola como espaço de formação de valores. Reintroduzir, com seriedade, a educação moral e cívica, não como disciplina meramente decorativa, mas como prática diária em todas as áreas de ensino.