A geração que estuda sem aprender

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Por: Gelva Aníbal 

Nas últimas décadas, Moçambique registou avanços assinaláveis no acesso à educação. Hoje, é comum ver crianças e jovens de uniforme escolar em praticamente todas as províncias do país. Porém, por trás deste progresso quantitativo, esconde-se uma realidade preocupante: muitos alunos concluem o ensino primário sem saber ler fluentemente, enquanto outros chegam ao secundário incapazes de interpretar um texto ou resolver operações matemáticas básicas.

Estamos perante uma geração que passa anos na sala de aula sem consolidar conhecimentos fundamentais.

As causas são diversas e conhecidas: professores mal preparados, turmas superlotadas, carência de materiais didáticos e infraestruturas precárias. Mas o problema vai além disso. A pedagogia dominante continua centrada na memorização mecânica, transformando a sala de aula num espaço de repetição automática, em vez de um lugar de construção do saber.

As consequências são graves. Num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, jovens com bases fragilizadas têm poucas hipóteses de inserção profissional. Falar de inovação, cidadania crítica ou desenvolvimento sustentável torna-se quase impossível quando não existem ferramentas cognitivas sólidas.

Mais do que construir novas escolas, o desafio está em garantir qualidade. É urgente capacitar professores com métodos modernos de ensino, proporcionar turmas em condições dignas de aprendizagem e aproximar a escola da vida prática dos alunos. Caso contrário, corre-se o risco de formar uma geração diplomada, mas sem competências mínimas.

O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, responsável por definir políticas e dirigir o Sistema Nacional de Educação, precisa rever profundamente as suas estratégias. A formação contínua de professores, a reforma curricular, a monitoria pedagógica eficaz e a criação de condições básicas de ensino devem ser prioridades imediatas.

Acima de tudo, é necessário estabelecer mecanismos claros de responsabilização. Sem responsabilização, a ineficácia perpetua-se e os principais prejudicados continuam a ser os alunos e, por extensão, o próprio futuro do país.

 

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