Por: Gelva Aníbal
O impacto da era digital nos hábitos de leitura no país
Vivemos tempos em que tudo parece urgente, imediato e descartável. As redes sociais, os vídeos curtos e os conteúdos rápidos dominaram o nosso dia-a-dia, em meio a esta avalanche digital.
Ler um livro em formato fisico, já não é um hábito forte entre grande parte da população, e enfrenta uma concorrência que não dorme, o telemóvel. Hoje, é comum ver jovens (e adultos também) presos ao ecrã por horas, mas raramente com um livro nas mãos, e mesmo quando lêm algo, são pequenos trechos, frases soltas e ou manchetes, e pouco se lê com profundidade, logo, pouco se reflecte.
A tecnologia, sem dúvidas, trouxe ganhos importantes, acesso à informação, partilha de conteúdos, facilidades no ensino, mas, também trouxe distração, superficialidade e pressa. E tudo isso afastou-nos daquele velho e necessário hábito de parar para ler, com atenção, com tempo e com entrega.
As consequências são visíveis, dificuldades de interpretação de textos, pouca capacidade crítica, desinteresse pelo saber, e tudo isso reflecte-se na escola, no mercado de trabalho e, principalmente, na forma como pensamos e participamos na sociedade.
Quem está a promover a leitura hoje? Onde estão as bibliotecas escolares activas, os clubes de leitura nos bairros, as feiras do livro com acesso real para as pessoas? O livro ainda é visto, por muitos, como objecto de luxo ou de obrigação escolar. Falta-nos, enquanto sociedade, tratar o livro como ferramenta de liberdade, de crescimento pessoal e colectivo.
Também não podemos ignorar que muitas famílias, por falta de recursos ou de incentivo, não criam ambientes de leitura em casa. A escola, por sua vez, muitas vezes repete métodos cansativos e pouco motivadores.
E os próprios meios de comunicação investem pouco em conteúdos que promovam o gosto pela leitura. Mas há esperança, há jovens escritores a surgir, há professores que lutam diariamente para manter viva a chama da leitura e há, sobretudo, a certeza de que nunca foi tão urgente ler para pensar, para resistir, para não sermos manipulados por conteúdos vazios e interesses escondidos.
Se queremos um país mais consciente, mais crítico e mais justo, precisamos resgatar o valor da leitura e isso começa com pequenas acções, trocar o tempo de ecrã por páginas, oferecer livros em vez de brinquedos a criancas, fazer da leitura um acto de amor desde a primeira idade, para que se cultive este habito, porque no fim das contas, quem lê, vê mais longe e tem a mente aberta.