Por: Alda Almeida
O desejo de vencer na vida não é novidade. Numa sociedade cada vez mais desigual e competitiva, alcançar estabilidade, respeito e melhoria de vida tornou-se não apenas um sonho, mas uma urgência. Para muitos, viver com dignidade já é uma batalha diária. E, diante disso, alguns procuram força na fé, outros na persistência do trabalho. Há ainda quem, silenciosamente, recorra a práticas menos convencionais, realizadas no silêncio da escuridão.
É nesse cenário que reaparecem práticas antigas, muitas vezes ocultas nas margens da vida social. Rituais, promessas, pactos espirituais. Não se trata de crendice popular ou folclore, mas de uma realidade que atravessa bairros, cidades e classes sociais. Pessoas procuram, através de caminhos não visíveis, atalhos que prometem levar à luz. Não por maldade, mas por desespero.
Mais do que o debate sobre se tais práticas funcionam ou não, o que se expõe é o que elas revelam sobre o tempo em que vivemos. Quando alguém aceita dormir com cobras ou visitar cemitérios à meia-noite em busca de sucesso, está em jogo mais do que uma escolha espiritual. Trata-se do reflexo de uma urgência profunda: mudar de vida, vencer, alcançar algo melhor do que o que se tem.
Contudo, há um preço. Diz o ditado: nada é grátis. E esse custo nem sempre se revela de imediato. O que começa como esperança pode, com o tempo, transformar-se em dependência. O ritual que prometia solução torna-se uma exigência constante. A paz interior esvazia-se. A saúde física, mental ou emocional começa a falhar. E as conquistas, que pareciam sólidas, revelam-se por vezes frágeis, condicionadas, efémeras.
Essa questão vai além da religião. Trata-se de uma dimensão existencial, profundamente ligada à forma como o sucesso é construído. Numa era em que o valor se mede pela rapidez com que se alcançam metas, torna-se fácil esquecer que os atalhos nem sempre conduzem a destinos seguros. Muitas vezes, portas que se abrem com facilidade trazem consigo consequências silenciosas, mas duradouras.
O tempo, tantas vezes visto como obstáculo, pode ser, na verdade, aliado. Ele ensina, amadurece, protege. O sucesso construído com persistência, ética e coerência talvez demore mais, mas tende a permanecer. E, sobretudo, não exige que se abdique da própria paz para ser alcançado.
Há, evidentemente, quem veja nesses caminhos uma forma legítima de lutar contra a dureza da vida. Não cabe aqui julgar.
No fim, não se trata de condenar nem de absolver. Trata-se de compreender. Porque, muitas vezes, a pressa de subir esconde a profundidade da queda. E, como a história tem mostrado, nem toda vitória aparente é, de facto, um avanço.