Aos 26 anos, Jorginho já tem uma longa história para contar enquanto futebolista. O lateral-esquerdo passou 12 anos na formação do Benfica, onde disputou uma final da Youth League numa geração de grandes jogadores, mas uma rutura de todos os ligamentos do joelho esquerdo afastou-os dos relvados durante mais de um ano. Retomou o seu caminho no Famalicão, da terra-natal, destacou-se no Sp. Covilhã e vive aventuras em destinos talvez improváveis.
Jorginho era um dos únicos portugueses do campeonato finlandês, atuando duas épocas pelo Ilves Tampere, e abraçou o desafio do histórico Dukla Praga, da Chéquia, onde é o único luso da principal divisão do país. Na capital checa desde janeiro, Jorginho confessa ao Maisfutebol a difícil adaptação à cultura futebolística da Chéquia: «Muito físico, muita bola longa, muito jogo aéreo», diz, além das próprias dinâmicas de balneário.
Na Finlândia, Jorginho destacou-se pelas assistências enquanto lateral-esquerdo, vencendo uma Taça da Finlândia pelo clube que ficou em segundo lugar na Veikkausliiga, a principal divisão do país. Agora, enquanto extremo, o português procura estabelecer-se no Dukla Praga, que já foi do lendário Josef Masopust, mas que nunca ganhou o título desde a dissolução da Checoslováquia. Nesta terceira parte da entrevista ao Maisfutebol, falamos sobre alguns dos jogadores com quem partilhou balneário no Seixal.
PARTE I – Jorginho, da Finlândia para a Chéquia: «Portugueses são mais valorizados lá fora»
PARTE II – «Rompi todos os ligamentos do joelho, fiquei três meses de cama sem me mexer»
Gostava de fazer também algumas perguntas sobre o Benfica porque acaba por ser uma grande parte da tua formação. Que amizades é que ficaram?
O único aspeto negativo que tive durante 12 anos no clube foi a minha lesão. E é uma coisa que o clube não tem culpa. Estamos a falar de um dos melhores do mundo, que me deu tudo, tanto a nível pessoal como profissional, porque eu fui para lá uma criança ainda. Há coisas que nós não damos valor quando somos mais novos, mas sabemos que tivemos tudo lá. Em termos de atenção na escola, todas as condições e mais algumas para nos tornarmos um jogador, que era o nosso sonho. Tenho boas recordações e muitos jogadores com quem criei laços fortes.
Ouvi dizer que és amigo do Rúben Dias.
Rúben Dias, João Félix, aqueles com quem joguei a Youth League, dou-me muito bem praticamente com todos eles. Se coincidir estarmos em Portugal, convido-os para jantar. Mas claro que no futebol é difícil um jogador fazer carreira ao mesmo tempo que outro no mesmo clube. Claro que vamos perdendo um pouco as ligações, mas ainda há pouco tempo falei com o Rúben Dias, Renato Sanches, Félix também.
É engraçado olhar para esses jogadores passados já alguns anos e ver como é que se desenvolveram? Conheceste-os ainda como adolescentes.
Orgulha-me, por exemplo, estar a ver um jogo de Liga dos Campeões, por exemplo, e estar lá um rapaz que costumava estar ao meu lado e que quase nem davas por ele, como o João Neves. Também tive o prazer de jogar com o Vitinha, apesar de ele ser dois anos mais novo do que eu. Antes de ir para o Benfica em Lisboa estive nos Centros de Formação e Treino do Benfica com ele e com o Diogo Costa [risos].
Sei que jogaram juntos na Seleção, mas não sabia que Diogo Costa esteve no CFT do Benfica.
Sim, estivemos lá dois anos, sim. E, continuando, estava a ver o PSG-Liverpool e joguei com o Vitinha. Ao lado dele, o João Neves. Ver que eles estão a praticar um futebol quase inexplicável, pois parece que estão no mundo deles… fico orgulhoso dos meus colegas estarem a singrar no futebol.
Havia jogadores melhores do que eles na altura? Passavam despercebidos?
E eu posso dar dois exemplos de jogadores que estavam no banco comigo no Benfica e esses dois estão a melhor nível do que eu, neste momento. O Ricardo Mangas, muito bom lateral, que sempre gostei muito, está no Spartak Moscovo e já mostrou o seu futebol na Liga portuguesa. Também o Nuno Tavares, que está a fazer um campeonato extraordinário numa das melhores Ligas do mundo.
Final da Youth League 2016/2017, contra o Salzburgo. Que recordações tens?
Foi tudo muito bom. Desde a fase de grupos até à fase final. Tínhamos uma equipa incrível, muito boa. Perdemos um jogo que, se fôssemos mais maduros, não tinhamos perdido. Mas muito orgulhoso de todos, como se demonstrou pelo nosso futebol na fase final. Está visto o número de jogadores que atingiram níveis profissionais.
Zé Gomes, João Félix, Jota, Diogo Gonçalves, Florentino, Gedson, Jorginho, Kalaica, Rúben Dias, Buta e Fábio Duarte. Foi este o onze na final. Na altura, já sabiam que esta geração ia dar jogadores de primeira água?
Honestamente, não. É uma fase de tantas dúvidas que pensas mais em ti mesmo. Se me dissesses que o Rúben Dias iria ser titular e capitão do Manchester City… não saberia responder. Agora está lá e digo que é jogador para aquilo e que não há muito melhor do que ele. O João Félix e o João Carvalho eram dos jogadores que mais admirava na formação. Achei que o João Carvalho teria mais sucesso do que o Félix. Mas são jogadores sobredotados, aprecio muito mais um jogador com qualidade do que outro mais físico. Sempre adorei os dois.
Fonte: CNN Portugal